sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

CEMITÉRIO DE VIVOS

O que aconteceu conosco? Nosso país vive um de seus piores momentos. Sempre achei que nossa mistura de raças era positiva e ao longo do tempo seríamos uma terra onde todos gostariam de viver. Ao contrário de alguns países que investiram em Educação e hoje já confirmam enormes melhoras na qualidade de vida, permitimos que a política, após a volta da democracia, se voltasse contra nós. Elegemos bandidos que, a partir de eleitos, passaram a pertencer a outro mundo, na capital, Brasília, onde disputam jogos de poder e enriquecimento ilícito. O resultado estamos vendo. 
Como escrevo para minha aldeia, não posso deixar de pensar no Pará. Em Belém. Todos os nossos números são baixíssimos, quando deviam ser altos; altíssimos quando deviam ser baixos. O Pará é potencialmente o estado mais rico e economicamente um dos pobres. Nosso tecido civilizatório está esgarçado, quase rasgando. A barbárie impera. Em todas as atividades, a corrupção é meio de sobreviver ao mercado. Liquidaram com a Cultura. Com as câmeras de segurança, assistimos diariamente a assaltos, sequestros, assassinatos, toda sorte de violência, feita com tranquilidade e autoridade. Não há o menor receio da Polícia. As pessoas que passam ao lado desviam o olhar, certas que se manifestarem qualquer gesto também serão atingidas. 
Há um egoísmo brutal nas classes mais favorecidas, construindo para si torres cada vez mais altas, onde vivem com grande luxo. No entanto, ao saírem em seus SUVs, trafegam em ruas de lama, buracos, sentindo-se mais seguras apenas por terem blindagem. Viajam pelo mundo, passeiam, desfrutam e, quando voltam, não trazem nada para a comunidade, somente para si. 
Grande parte da população, diariamente, é massacrada, humilhada, ao utilizar os meios de transporte, indo ou voltando, na região da Augusto Montenegro. Nestes dias de grandes chuvas, a cidade enche, a água invade as casas levando doença, desespero e prejuízo. 
De um lado, uma Prefeitura que não está nem aí para a população. De outro, o resultado dessa soma de desastres. Some a falta de emprego, alimentação, escolas, cultura, violência e o descaso das autoridades, e terá um povo conformado. Um povo que joga lixo nos piores lugares, como se suas casas, sua saúde, não fossem as primeiras a ser atingidas pelo caos e doenças resultantes. 
Não sei o quanto mais baixo deveremos chegar. É a ignorância. Retrocedemos. A selva invadiu a cidade, tomando de volta seu mundo, selvagem, onde a lei do mais forte impera. Já temos mortes diárias suficientes para rebaixar a nada muitos lugares que estão em guerra. O tráfico dita as leis. Os donos de ônibus, vans, táxis e motos também. Agora acabaram com o carnaval. A classe média inventou de brincar na Cidade Velha. Não se preocupou em perguntar se os moradores gostariam. Um caos. E quando deviam brincar o carnaval, nos próximos dias, viajam todos para Salinas, Mosqueiro ou Miami. 
Liga e Prefeitura agem contra o carnaval, humilhando a Cultura, segregando as escolas de samba a um trecho de rua invadida pela água. Antes, propositalmente, deixaram a Aldeia Amazônica apodrecer. Ódios pessoais que, mais exatamente, são contra o povo, contra a cidade. Enquanto todos ganham dinheiro em impostos e comerciantes com vendas, nos dias da festa Belém vira um cemitério. Um cemitério de vivos, se me entendem. 
Se o Brasil vive um momento terrível, sem saber o que virá, o Pará está pior ainda - e Belém já nem sei mais. As cidades, hoje, são organismos, sistemas complexos de administrar. Não podem estar entregues a políticos, principalmente nossos políticos incompetentes, despreparados. Eles continuam agindo tranquilamente e nós assistindo, conformados. O que os cabanos dizem, lá de cima, olhando para nós? Égua do povo frouxo.

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