sexta-feira, 16 de junho de 2017

A BIOGRAFIA DE CAETANO VELOSO

Caetano Veloso é o ídolo da minha geração. Se vindo de fora já era época de Beatles, Stones e chegando Hendrix, Doors e Joplin, aqui no Brasil pairava um som entre o romântico bolero e a Bossa Nova. Eu me lembro de assisti-lo na televisão em p&b lançando “Alegria, Alegria”, com roqueiros argentinos acompanhando. Aquela linguagem de imagens superpostas me encantou. Caetano na TV no programa “Esta Noite Se Improvisa”. O casamento com Dedé, em Salvador, com a multidão e eles andando rumo à Igreja. Deu no Jornal Nacional. Tudo em p&b. 
Eu me lembro de Caetano no Ginásio Serra Freire, do Clube do Remo. Em meio ao show, sentava sobre um tapete e comia uma flor. Para a época, muito doido. Caetano e Gil, presos. O disco inglês com uma foto deprê e um repertório ao qual vim dar valor tempos depois. A volta com o “Transa”. Caetano e Chico, ao vivo. Eu estava na praia, Rio de Janeiro, e a Rádio Mundial não parava de tocar “Diz que deu, diz que dá”. A revista “Bondinho”. O jornal “Rolling Stone”. Outros jornais como “A Flor do Mal”. Eu me lembro. 
Caetano de batom vermelho, bustiê e tamancos holandeses. Eu tive um. Bicha! Bicha! Essa ansiedade em desafiar, explicar, confundir, me encantava. Ele me ensinou a cantar. Nos trouxe de volta bolerões com novos arranjos. Relançou Luiz Gonzaga. Em 1968, veio a Belém, com Gil, participando de um show da Rhodia, empresa que na época fabricava os tecidos que as mulheres compravam. “Momento 68”, em pleno Theatro da Paz. Eu estava lá. 
Chegava a gostar menos de Chico Buarque. Ele parecia muito careta. Hoje eu sei, claro. Sei também que a carreira e discografia de Caetano é muito desequilibrada. Em muitas músicas, parece ter acabado a letra apressadamente. Os arranjos, também. Se nos primeiros tinha ótimos maestros arranjando, quando voltou do exílio, no auge, gravou “Araçá Azul”, o álbum experimental, recorde de devolução das lojas. Há joias ali, mas há também um pouco de soberba em inventar, na base do foda-se. Adiante, em “Joia” e “Qualquer Coisa”, também. 
Para mim, o melhor momento de sua vida foi ao lado da Banda Nova, com Vinícius Cantuária, Tavinho Fialho e outros. Começa em “Muito Por Dentro da Estrela Azulada”, que abria com “Terra”. Incrível, sabiam que foi muito criticado? Então vêm “Cinema Transcedental”, “Outras Palavras” e “Cores, Nomes”. 
Esqueci “Os Doces Bárbaros”, grande momento ao lado de Gil, Gal e Bethânia. Caetano circulava pelo Brasil com a banda, namorava, via, lia, ouvia e o resultado está nos discos. Ele diz que muitas músicas poderiam ficar melhores. Pode ser. Mas creio que foi quando se aproximou de Arto Lindsay e casou com Paula Lavigne, alguma coisa se partiu. Os discos continuaram bons, mas a chama começava a murchar. Veio o fenomenal “Fina Estampa”, delicioso como cantor. O mundo agora o amava. Mas, curiosamente, raras músicas, para mim, tinham o mesmo nível. 
Recentemente entrou na fase rock, que considero terrível, muito ruim. Agora circula escolhendo pérolas do imenso repertório para cantar. Ele pode. Acabei de ler “Caetano, Uma Biografia”, de Carlos Eduardo Drummond e Márcio Nolasco, um livro pronto há alguns anos e não autorizado por Caetano não gostar do português da dupla, realmente cheio de clichês. Agora que caiu a lei, está nas livrarias. Para quem quer saber detalhes, sobretudo do início de carreira, sensacional. “Trilhos Urbanos” é Santo Amaro, em detalhes. “Trem das Cores” foi feito quando viajava no Trem Prata, do Rio para SP, namorando com Sonia Braga. “Você é Linda”, foi feita para uma adolescente que namorou com ele durante uma turnê. Há muitas outros detalhes. Agora Caetano anuncia outro disco. Compro todos. Quero gostar. Tomara.

Nenhum comentário: