sexta-feira, 20 de maio de 2016

EDYR PROENÇA E A FALTA QUE ELE ME FAZ

Se estivesse vivo, completaria, ontem, 96 anos de idade. Edyr Proença estava no auge de sua produção quando se foi. Me dizia que após se aposentar, começara a trabalhar mais ainda. Mas é que também, se ocupava em assistir jogos de vôlei nas manhãs, basquete à tarde e futebol à noite. E havia o violão onde compunha músicas, em um estilo que lembrava seus primeiros ídolos, Noel Rosa, Francisco Alves, e agora a bossa nova, pela qual se apaixonou, incluindo também Paulinho da Viola entre grandes figuras. Estávamos diariamente juntos, à hora do almoço, quando saia correndo por conta do programa de esportes que ouviria ou assistiria. Grande piadista, cheio de humor, tinha sempre uma nova anedota para contar. Mas muito sério quando era necessário. Um dia, a síndica do Palácio do Rádio o chamou para reclamar que funcionários do plantão esportivo da Clube jogavam futebol com bola de meia no corredor do prédio, incomodando moradores. Ouviu calado. Era um dos jogadores. Apresentou-me ao campo de futebol e seu conjunto maravilhoso de integrantes. Ao seu lado, ainda como locutor esportivo, “o tempo passa, a barba cresce”, depois como o comentarista respeitado, penso ter aprendido. Havia peladas no Lago Azul no meio da semana. Eu estava lá. Jogava no meio do campo, cobrava faltas. Tantos causos. Depois havia uma pelada de basquete, aos domingos, na quadra. Brigavam e discutiam mais do que jogavam. Quando alguém ingressava no garrafão, era como um “corredor polonês”. Imaginem. E as piadas? Tinha o timing, melodia, vocabulário e o gestual. Fazia as vozes. O grupo fazia a roda. Ao final, arrematava com gargalhada e tapas nos ombros dos próximos, como que exigindo que todos rissem, ou aplaudissem. De músico ativo, integrante do Bando da Estrela, transformou-se em um chefe de família sério e infatigável no trabalho, dando três expedientes diários para criar seus cinco rebentos. E de repente, um dia qualquer, pegou o violão, guardado em uma caixa e tocou alguma coisa. Eu estava nos meus 18 anos. Fiz uma letra. Pensou que seria inscrita em um festival promovido pela Ufpa. Não era. Melhor assim. Foi seu retorno à composição, sua presença constante em serestas, ele e minha mãe, descobrindo novamente a alegria de cantar e compor, rejuvenescendo, à medida em que os filhos adolesciam. Lançou livros e estava escrevendo sobre o rádio que viveu, quando se foi. Gostava de filmes de bang bang. Ou filmes com Charlie Bronson. Ia em todas as minhas estreias, mas sua praia não era bem o Teatro. Jogamos futebol juntos até ele se aborrecer em não poder mais executar o que a cabeça pensava. Naquela época, ninguém malhava como hoje, quando tenho a idade em que ele parou e ainda faço minhas tentativas de jogar futebol. Meu pai foi meu porto seguro. Hoje percebo o quanto ele estava certo em suas opiniões e quando converso com meus filhos, não deixo de perceber como a história se repete. Foi meu melhor e mais sincero amigo. Um ídolo no que diz respeito ao equilíbrio, caráter, correção, honestidade. Na escrita, variando entre o texto perfeito e o bom humor. Seu imenso amor por nós gritava pelos olhos, sem que fosse necessário grandes gestos. Ensinou-nos a liberdade e a responsabilidade sobre nossos atos. De cinco irmãos, quatro são jornalistas, radialistas. Quanta falta me faz, meu pai. Foi tão de repente.

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