Onde vocês vão passar o
réveillon? Na praia, pulando sete ondinhas, em um dos clubes da cidade, naquele
magote de gente feliz que canta a plenos pulmões músicas dos carnavais dos anos
50, século 20? Vai reunir a família e atravessar o ano com uma tv na frente e
as pessoas se alternando ao microfone em um karaokê infame? Quando era criança,
garoto de apartamento, ficava ouvindo a molecada bater com pau nos postes de
ferro e imaginava cenas. Já participei das sete ondinhas, do magote de gente
feliz, mas hoje não sei bem o que fazer nesse momento. Com o passar do tempo,
percebi que é, meramente uma data a mudar na folhinha e vida que segue. Não
tiro o astral de ninguém que da noite para o dia vira expert em umbanda, diz
que é filho deste, afilhado daquele Oxum. Acho muito bonita a cerimônia,
principalmente a alegria. Mas também não vou aos salões, entrando de smoking e
saindo esbagaçado, suado, olhos rútilos, rouco, a dizer “viva 2015, porra!”. Se
dependesse de mim, reuniria os amigos em uma grande sala, para ficar
conversando, rindo, curtindo, até o sol nascer. Uma farra mental, digamos. Há
alguns anos, meu irmão era dono de uma boate, Zeppelin, e sempre pedia um texto
para a passagem de ano. E lá ia eu a escrever e pensar como comover aquele
bando de bêbados, já dispostos a rir e chorar por qualquer coisa. Ligam as luzes,
entra o texto, música empolgante e lá vem a contagem, cinco, quatro, três,
dois, um e todos pulamos e nos abraçamos, mesmo aqueles que não conhecemos,
desejando feliz ano novo. E lá vem o hino do Brasil e aquela malta fica
emperdigada e respeitosa, cantando em altos brados, o brado do Ipiranga. A
orquestra já está a postos para a chamada de metais do frevo e aquela manada de
elefantes, mulheres em vestidos caríssimos, se arrebentar no meio da pista.
Certa vez, experimentei fechar os ouvidos e ficar apenas olhando as pessoas se
esbaldando. Chamava de tio um amigo de meu pai. Homem grande, severo, médico
festejado, ilibado. Tocava carnaval ele ia para a pista, fantasiado de pierrot,
a pintura a conferir gravidade/inocência em seu rosto, e pulava sem parar. Eu o
via, olhos fechados, uma festa particular, cantando “oh jardineira porque estás
tão triste”.. E pensava se a alma daquele homem se revelava, ali, linda, paetês
à farta. Em câmera lenta, como alguns filmes já mostraram, é algo muito bonito
de ver. É só um pretexto para festejar? Fazer juras, garantir que começa a
ginástica na segunda feira, abandona o cigarro de vez, não beberá mais de duas
latinhas de cerveja ao final de semana, enfim, é apenas uma data. E foi um ano
muito difícil, intenso. Realizamos uma Copa do Mundo que somente nos trouxe
dissabores, seja pelos alemães, seja pelo que foi gasto. Tivemos uma eleição
que deixou bem clara a divisão hoje no país. E os escândalos se sucedendo, as
tramas reveladas a cada dia alcançando mais audiência do que a ficção das
novelas. A inflação chegou e penso em toda uma geração que nunca soube o que se
trata, sentindo na pele os preços subindo, aplicações no overnight, enfim.
Vai usar cueca ou calcinha de
que cor, para obter fama, dinheiro, amor, sei lá, para todas as cores há uma
idéia. Vai ficar vendo na tv o ano romper na Australia, Italia, Japão e o
réveillon no Rio de Janeiro? Aqueles fogos maravilhosos, mas consigo apenas
pensar em quanto dinheiro está sendo queimado. A Avenida Paulista lotada e a
solidão das ruas de Belém? Por mim, fico bem acompanhado, conferindo de longe a
barulhada. É só uma data, mas respeito quem gosta e vibra. Feliz 2015 a todos.
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