Eu acho que conheci Mara Rúbia.
Estava de férias no Rio de Janeiro, ainda garoto e fui a uma reunião na casa de
um tio que morava lá. Vários paraenses. Ela estava lá, cabelo curto,
conversando. Quando fui pesquisar para escrever a peça sobre o Barata, veio
tudo o que algumas vezes meu pai havia mencionado. Compreendi porque ela sumiu
daqui de Belém, onde voltou apenas uma vez, creio. Osmarina, seu nome
verdadeiro, levou muita mágoa. Acabei de ler “Mara Rúbia – A Loura Infernal”,
escrita por Isis Baião e Therezinha Marçal, esta, sua filha.
A Osmarina tinha pais
complicados, rodou por cidades, morou no Marajó, mas quando adolesceu, veio
para Belém e casou. Seu marido muito amigo do Dr. Adriano Guimarães, grande
obstetra (trouxe a mim e a meus irmãos ao mundo), a quem chamava de tio. O
marido tinha uma mãe de forte presença. Foi se afastando da mulher. Adriano por
perto. Um dia, pintou os cabelos de louro platinado. Um escândalo. Na época,
isso era coisa de puta. Queria chamar a atenção do marido. Nada. Descobriu que
ele havia ganho uma herança. Seguiu-o até a zona. As mulheres. Ela e Adriano.
Ele não casava. Tinha a mãe e a irmã. A cidade toda comentava. O marido e ele,
amigos. Já havia três filhos. A vida não podia ser apenas isso. Deixa dois filhos
com a mãe. Leva um para o Rio de Janeiro. Emprega-se como datilógrafa. Para
trazer os outros filhos e a mãe, precisava de mais. Achou no jornal. Foi. Era
um teatro de revista. De cara com Walter Pinto, um tycoon da época. Queria ser
gil. As outras riam. Não é gil e sim “girl”. Você sabe o que fazemos aqui? Não,
mas preciso do emprego. Levante as saias e mostre as pernas. Não. Me dê
dinheiro que compro maiô e mostro amanhã. Walter deu. Ela era linda de rosto e
tinha um corpo maravilhoso. Dali em diante, transformou-se em uma das mais
conhecidas vedetes do Brasil. Incontáveis espetáculos, sucessos musicais nos
carnavais. “Mamãe eu quero”, “Madureira chorou”, you name it. O TBC começou em
seu apartamento. Arranjou mais um namorado que tinha mãe forte e não casava,
mas bancava. A bossa nova deu seus primeiros passos. Veio a Tv. Apresentou
programas. Começou a beber. Parou. Voltou. Doenças. Uma história fantástica de
uma paraense que trocou de nome e talvez tenha desejado esquecer o Pará. Antes
disso, nós a esquecemos. E ela foi maravilhosa. Vale à pena. A Editora é
Aeroplano.
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