sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Feliz Dia dos Pais

Agora serei avô. Um menino, que pode ser ariano, como eu. Meu primeiro neto. A notícia veio agora, próximo ao Dia dos Pais. Tenho dois filhos. Se fosse uma neta, seria uma novidade. Mas um neto, um companheiro, puxa, acho que será maravilhoso. Será Flamengo, com certeza, mesmo com os esforços do outro avô, vascaíno. Meu avô Edgar, com quem convivi, não tinha mais essas preocupações. Remista (criou o apelido "Leão Azul"), também estava na fundação do Paysandu. Isso em uma outra época, sem o antagonismo de hoje. Lembro de estar em sua sala, na Rádio Clube, cheia de jornais. Baixinho, cabeçudo, orelhudo, dizia que eu era sua "miniatura". Andava pelas ruas cumprimentando à direita e à esquerda. Todos o conheciam! E quando o professor pediu para ler "Menino de Engenho", de José Lins do Rego (livro que me fez apaixonar pela Literatura), vovô me emprestou seu exemplar, com direito a dedicatória de próprio punho do escritor. No Rio de Janeiro, após o almoço, ouvíamos, alto, Beatles, Rolling Stones e lá vinha ele, dono do ap, de pijamas, chinelo arrastando, pedir com toda a educação, que diminuíssemos o volume para ele tirar sua sesta. Lembro dele, aos domingos, na casa do Lago Azul, paletó de linho, se abanando com uma das mãos e a outra segurando o radinho onde ouvia sua crônica ser lida. Meu avô querido, que já conheci velhinho, sem os poderes que lhe fizeram ser o grande homem que foi, mesmo com a baixa estatura. Seu humor inteligente, de poucas palavras e muita ironia, que penso ter herdado, com meus irmãos. Não me tratava como criança e sim como um colega, "seu" colega, me passando experiência, respeito, caráter. Estava sempre lendo alguma coisa. Os jornais que lhe eram enviados pela Lux. Naquela época, o cliente escolhia os assuntos de preferência e semanalmente a Lux enviava em pacotes, notícias daqueles assuntos, para leitura. Acho que vem daí meu vício pelos jornais. E agora serei avô, próximo ao Dia dos Pais. O meu, é como se não houvesse partido, tão cedo, abruptamente. Está sempre em meus pensamentos. Às vezes rio sozinho quando lembro de algum chiste. Conosco não era expansivo, cheio de gestos. Estava tudo nos olhos, na voz, no comportamento. Durante a infância, estava muito ocupado em uns cinco empregos, para segurar a onda de cinco filhos. Mas quando adolescemos, foi como se uma primavera também acontecesse a ele. Voltou ao violão que havia abandonado ao casar e assumir uma vida "séria". Voltou à leitura, à poesia. Futebol me ensinou a jogar e principalmente, "ver", como jornalista. Lembro do dia em que o comuniquei que iria desistir do curso de Engenharia Civil, na Ufpa e faria vestibular novamente, para Jornalismo. Foi contra. Termine primeiro seu curso, dizia. Não obedeci. Rara ocasião. Compreendia sua posição mas era uma decisão de vida. Que bom que fiz isso. Nos aproximamos ainda mais. Viramos amigos, de jogar conversa fora. Aposentado, estava diariamente em minha sala, botando o papo em dia. Mais tarde, herdei seus amigos, grandes amigos, que passavam para tomar um cafezinho, uma vez por semana, ao menos. Desculpem o lugar comum, mas todo dia é Dia dos Pais. Se ele está comigo em todos os momentos! Tinha um temperamento calmo, mas virava vulcão se provocado. Era tímido, isso, bem tímido, talvez para contrapor o pai, exuberante, amante dos grandes eventos. Então o Clube do Camelo resolveu fazer um show, no teatrinho do Museu Goeldi. Me convidou para dirigir. No palco, ouvindo instruções, rindo em obedecer. Ou então ao computador. Velocista ao teclar, tinha um vício de postura de um dedo das mãos que tocava em uma tecla e, de vez em quando, abria outro documento em branco. Ele não percebia. Me ligava. Esta pinóia apagou todo o meu trabalho! Então ouvia suas queixas e ia até seu escritório, reencontrar seu trabalho. Puxa, como somos amigos! Mas queria, neste Dia dos Pais, quando devo almoçar com meus filhos, queria que ele estivesse comigo, fisicamente. Queria lhe abraçar e ouvi-lo, brincando, "toma a benção, rapaz!". Era especial.

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