quarta-feira, 25 de julho de 2012

Injeção na Testa

Está terminando mais um Festival Cultura de Verão, ao menos na área de Artes Cênicas. O Grupo Cuíra foi incluído com um espetáculo e com o aluguel de seu espaço para a apresentação das demais peças. Com o ingresso gratuito, a casa esteve lotada, mais que lotada, com muita gente voltando sem conseguir ingresso, preenchidos aqueles lugares "na escada" ou "em pé". Espetáculos apresentados no recém criado espaço do Sesc também têm recebido grande presença de público. Isso quer dizer que há interesse pelo teatro em Belém? Bom, é necessário primeiro frisar que ambos os espaços recebem não mais que 100 pessoas por sessão, o que é diminuto, consideradas as lotações de Teatro da Paz (900 lugares) e Schivazapa (450 lugares). Também é necessário considerar que o público é formado por jovens, naturalmente sem muitas posses para pagar ingresso. Será? Esses mesmos jovens pagam caro para se divertir nos bares e micaretas. Não pode pagar 20 reais a inteira, 10 reais a meia para o teatro? Claro, a maioria paga 10 reais! Grupos novos, começando a carreira, até que poderiam cobrar 10 reais a meia entrada para seus espetáculos. Mas Cuíra, Gruta, Madalenas, Palhaços Trovadores e In Bust, que desenvolvem trabalho há longos anos, investem em suas produções, apresentam resultados bem cuidados e de qualidade artística, não conseguem, também, cobrar mais do que 10 reais. E querem saber, quando obtém mais de meia casa (considerando o Cuíra, 50 lugares), ficam felizes.
Sou de um tempo em que estreava no Teatro da Paz com casa lotada. Schivazapa, Estação das Docas, tudo cheio e com bom preço. O que houve? Um distanciamento. Seria longo explicar. Junto a isso, o surgimento de novas mídias, novas fontes de diversão, fora o crescimento das novelas, por exemplo. Mover uma pessoa da sala de sua casa em direção a um espetáculo de teatro paraense é ato heróico. Há preconceito? Sim. Está imposto um conceito que diz ser inferior tudo o que é feito aqui. Se não houver ator global no palco, ninguém sai de casa. Por fim e o que é mais importante, a mais completa falta de uma política de mercado cultural, em todas as áreas, pela Prefeitura e Estado. Pior, houve um esfacelamento das instituições do setor, cada uma tentando fazer sua própria política, sem dirigentes preparados, todos querendo apenas "fazer o gol". Nenhum apresenta um trabalho de formação, com resultados a serem aferidos ao final de um tempo. Disparam em todas as direções e não acertam.
Quando vejo a sala do Cuíra lotada, super lotada, mas com o ingresso gratuito, penso que aquela gente toda até gosta de teatro, mas não lhe dá importância. Se tiver de pagar, míseros 10 reais, não vai. Eu gosto de você mas não acho que você valha 10 reais na bilheteria. E ao contrário do Estado e Prefeitura, com seus funcionários e seus salários garantidos, quem faz teatro sofre e vive perigosamente na corda bamba. As platéias se divertem. Basta ouvir, dar uma olhada. Saem satisfeitos, mas se tivessem de pagar, não viriam. É injusto.

3 comentários:

Érika disse...

Falta dinheiro mesmo pra ir ao teatro com mais frequência(tiro isso por mim), mas infelizmente tenho que concordar que muitas vezes também falta valorizar mais o que é nosso...assisti duas vezes "Sem Dizer Adeus" ,achei muito bom, confesso que só soube da história de Barata pela peça,nas duas vezes o teatro não estava lotado, o que é uma pena!

Edyr Augusto Proença disse...

Érika, muuuuuuito obrigado por ir ao teatro!

ILIKE CHOPIN disse...

Na minha cidade não há teatro infelizmente. Não tem um espaço destinado a artes cênicas. Aqui só se valoriza a cultura religiosa do São João. A prefeitura investe um aboa quantia nesta época, o comércio local também patrocinam este tipo de festejo. A s gerações passadas e que as virão, não conhecerão esse mundo fantástico da arte cênica. Não se pode também culpar exclusivamente o governo municipal, arte se faz com poucos recursos, desde que haja amor, compromisso.Os professores categoria mais inclinada a essa questão poderiam se juntar e formar um grupo , buscar recurso fora, montar um projeto.Com certeza todos pagariam com prazer 20 a 10 reais para assisitirem a um(espetáculo) teatral.