Havia decidido nada comentar sobre a Feira do Livro, que acontece anualmente em Belém. É que desta vez, após 15 anos, meu nome parece ter sido retirado da ficha negra, da censura, sei lá. Fui "reabilitado", digamos, como na União Soviética de Stálin. O Grupo Cuíra convidado a apresentar a peça "Abraço", que escrevi e dirigi, com Cláudio Barradas e Zê Charone. Não pude dizer não e assim prejudicar outras pessoas. Fomos bem tratados. Não posso dizer que recebemos o melhor dia da semana, segunda feira... Mas estava lá nossa caixa preta e mínimas condições. A Sala Marajó, de difícil acesso, recebeu bom e respeitoso público. Ao sair e dar uma volta, já com avisos de encerramento da noite, deparei, no stand do IAP, com o meu nome ao lado de famosos e excelentes escritores paraenses. Até uma foto havia. Bom, isso é que é reabilitação!
Nada disso pode retirar minha principal divergência em relação à Feira. A falta de uma razão sensata para sua existência, promovida por uma Secretaria de Cultura. Se um empresário resolve fazer uma feira. Aluga o Hangar. Negocia espaços com editoras e livrarias. Contrata alguns palestrantes de renome. Dá, como política de boa vontade um stand para os escritores locais, nada tenho contra. É negócio particular. Mas quando é o Estado que a realiza, inventando tratar-se de Feira Pan Amazônica, homenageando países, no caso, a Itália e escritores como a desconhecida Dulcinéia Paraense, mas sem ter NENHUMA política cultural para a Literatura, está errado. Se é o Estado que realiza, a Feira precisa ser o ápice de um trabalho anual que não somente republica livros importantes, esgotados; faz com que os escritores da atualidade circulem pelo Estado, com status de artistas e lança novos autores, na idéia de, futuramente, constituir um mercado. Então, a Feira seria esse ápice, onde os escritores locais seriam os destaques, muito embora se possa ter, também, escritores como Ignácio de Loyola Brandão, Veríssimo e outros. Assim, como está, é bom negócio apenas para livrarias. E olha que elas se queixam. O povão vai até lá dar uma volta. Poucos têm dinheiro para comprar. E raríssimos compram algum autor local. Afinal, quem ganha com o esforço da Secult? Os escritores de fora que chegam, são cortejados, bajulados, acarinhados, levados a passear e voltam contando maravilhas. Quanto aos escritores locais? Nada. Li que desta vez será lançado livro de Dulcinéia Paraense. Corretíssimo. Muito prazer, Dulcinéia, que com mais de 90 anos, veio do RJ onde mora. Mas não basta. Uma seleção de seus livros deveria estar sendo motivo de exame e discussão nos colégios estaduais, municipais. Assim a homenagem se justifica. Como está, não é correto, para dizer o mínimo. Mas fui "reabilitado". Qual a sensação? Nenhuma.
2 comentários:
Menomale, foi lançado um livro de Dulcineia Paraense, além de discussão sobre a obra. Mas isso deveria ser feito antes, para ter seu ápice na Feira.
Não pode uma Secretaria de Cultura estar vibrando pelo aumento dos percentuais de venda de livros na Feira do Livro. Quantos, desses livros, são de autores paraenses? Uma Feira como essa precisa ser o ápice anual de todo um trabalho feito a favor da Literatura Paraense, claro, sem deixar de fora os outros escritores de todas as nacionalidades. Mas o foco é o autor local. Precisa ser.
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