quinta-feira, 19 de maio de 2011

Edyr Proença, 91 anos

Se estivesse entre nós, meu pai faria, hoje, 91 anos. Interessante, porque seriam 91 anos, comemorados em 19 de maio. Leio no facebook mensagens publicadas por seus netos e penso no tempo que passa. Edyr morreu há 13 anos, no dia 5 de maio de 1998. Estava bem de saúde, cheio de vida, em um momento maravilhoso quando se olha para trás e vê que já fez o que tinha de fazer e agora é só aproveitar. Assistir jogos de futebol, vôlei e basquete na tv. Tocar violão, compor músicas e reunir com os amigos. Em 30 dias ele se despediu. Infecção hospitalar, após uma intervenção cirúrgica feita com sucesso. Talvez por essa partida súbita, sem preparo adequado, ele permanece ao meu lado e eu lembro dele ainda comentando, na minha sala, a tal cirurgia. Sendo contrário aos nossos argumentos de operar em São Paulo. "Aqui estou junto de vocês, dos meus amigos e operado por amigos", disse. Estava diariamente comigo colocando o papo em dia. Quando se foi, herdei também amigos como Delival Nobre, Julio Cruz e Carlos Alberto Farias, que uma vez por semana também passavam em minha sala para tomar um café, fumar um cigarro, saber das novidades. Bem, agora, já voltaram a bater papo e contar piadas, em algum lugar. A mim ensinou quase tudo. A ser menos imprudente, o que hoje sei, vem com a idade. A procurar o consenso sobre os assuntos. A ter equilíbrio. A ter a informação precisa para poder emitir opinião. Não era muito fã de teatro. Ia a todas as minhas estréias e claro, dizia ter gostado. Mas não era sua praia, como a música. E posso dizer, com orgulho que o motivei a voltar a compor, após longos anos afastado do violão, dedicado apenas ao trabalho e criar os filhos. Escrevi uma letra, dentro de seu universo poético e lhe entreguei. Virou "Amor imperfeito" que sei, foi sucesso em suas serestas. Lembro outra, "A rua do poeta". Estávamos no Mosqueiro, em férias, quando apareceu na televisão uma reportagem mostrando a troca de nome, no Rio de Janeiro, da Rua Montenegro, que passou a se chamar "Rua Vinícius de Morais". Ele deu o mote e cobrou. Eu doido para ir jogar futebol na praia. Consegui terminar. Meu irmão Edgar gravou. As pessoas gostam. E os sambas do Quem São Eles? Ele gostava era do desafio. Gostava que eu desse idéias. Vinha e mostrava em fitas cassete, gravações caseiras em que ouvíamos, ao fundo, seus curiós cantando. Se estivesse entre nós, quanta alegria, hoje, comemorar seu aniversário. Perdoem o lugar comum, mas ele está permanentemente ao meu lado e hoje, sinto uma mistura de alegria por sua lembrança/presença e alguma tristeza por olhar para o lado e não encontra-lo. Sinto um imenso orgulho de ser seu filho. De ter o seu nome. Quando trabalhei na Tv, comentando jogos, alguns colegas, no corre corre, me chamavam de Edyr Proença, ao invés de Edyr Augusto. Quando se desculpavam, eu dizia que não me importava. Pelo contrário, gostaria que sempre errassem, mas falassem seu nome. Me orgulho tanto de meu pai!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Viver por viver

Viver por Viver, de Claude Lelouch, de 1967, Globo de Ouro, indicado ao Oscar. Com Yves Montand, Annie Girardot e Candice Bergen. Figurino de Yves Saint Laurent e música de Francis Lai, uma delas cantada por Nicole Croisille.
Aconteceu-me algo muito interessante, muito marcante de vida, que agora divido com os leitores deste blog. O filme francês "Vivre pour Vivre" foi lançado em 1967, dirigido por Claude Lelouch. Foi uma época especial, com desdobramentos sentidos até hoje. Guerra do Vietnã, rock, revolução de costumes, moda, sexo livre, hippies, flower power. Além da assinatura de Lelouch, o elenco tem o super galã Yves Montand, a belíssima Annie Girardot e a americana Candice Bergen, no auge da beleza e juventude que fez Tom Jobim compor "Bonita", somente por vê-la dentro de um avião, ela que acabou nos braços do jornalista Tarso de Castro. Mas é outra história. O autor dos figurinos é ninguém menos que Yves Saint Laurent. E a música, de Francis Lai. O filme é bem romântico, onde Yves faz um repórter especial de televisão que vive viajando e mantém várias namoradas apesar de ser casado com Annie. Surge Candice e é a nova namorada. No triângulo amoroso, a esposa sai perdendo, mas a garota americana, após algum tempo, manda o jornalista adiante e este, sozinho, tenta um retorno ao lar antigo. Há cenas lindas de Paris e Amsterdam mas o que penso é que o personagem de Yves gosta mesmo é de cigarro. Durante o filme deve fumar uns trinta a quarenta, quem sabe. Annie e Candice, lindas, falam, beijam, prometem, e Yves acende cigarros. Em nossa atualidade onde fumar virou algo condenável, Yves chega a chocar de tanta fumaça e em qualquer lugar. Mas não era disso que desejava falar. Certamente um ano depois do lançamento do filme na Europa e EUA, penso que ele foi lançado no Brasil. Com ele, sua trilha sonora, um excepcional trabalho de Francis Lai, com um tema básico lindo, desenvolvido em diversos andamentos, além de outras músicas, algumas cantadas, uma delas por Nicole Croisille. O disco apareceu em casa. Meu pai, à época, escrevia sobre discos em algum jornal. A gravadora enviou. E logo estava em nossos "pratos". Amadureci, envelheci e continuei apaixonado pela trilha. Anos atrás, comprei uma versão em cd, com faixas remasterizadas. O mais incrível: nunca havia assistido "Viver por Viver". Não tinha a menor idéia do roteiro do filme. Nada. Foi amor apenas pela trilha, magnífica. Pois ontem, matei a curiosidade. Sim, hoje faria retoques no roteiro, mas é representativo de época, romantico, super romantico. Gosto disso. Annie e Candice, lindas. E a música, meu Deus, que coisa linda! Quarenta e tantos anos depois, assisti, finalmente, "Viver por Viver". E vocês? Que tal? Procurem nas locadoras.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Os Burro

O MEC acaba de autorizar a burrice para todos os brasileiros. É a vitória dos cretinos, esses que se orgulham em falar errado, que ficam felizes ao impor sua estupidez a todos. É muito difícil escutar qualquer conversa, hoje, em Belém, ao menos, seja de doutores ou pessoas de escolaridade mais baixa, sem "as pessoa", ou "tu fez". É de dar ódio. Pior para os gaúchos, pois parece já estar inserido em sua fala coloquial. Ontem, no Jornal Nacional, reportagem sobre as escolas brasileiras, estavam em uma das melhores de Porto Alegre ou arredores e vem a professora e pergunta a uma criança "tu vem?" ou "tu sabe". É o fim do mundo. Nossos jovens até lêem, mas não entendem o que leram. Copiam da lousa, do caderno, mas não sabem dizer o que fizeram. E vem nosso amigo que mora no subúrbio de Benevides e nos mostra a prova passada pela professora, com enunciados eivados de erros de português. O que fazer? A irmã do amigo, atrasada, na mesma série, decora a lição para que, na aula de leitura, possa disfarçar e enganar a professora, fazendo-a acreditar que está lendo. Mas todos precisam passar. Precisam seguir adiante e não engarrafar o trânsito de alunos. Até faculdades precisam aprovar x número de alunos a cada semestre, para evitar cortes de verbas. É humilhante. Camile Paglia, aquela filósofa americana "chegada a um barraco", disse que os jovens de hoje não têm material concreto, não tocam, não vêem pessoalmente a arte. Tudo é virtual, cyberespaço. Em várias escolas, os alunos entram com notebooks. O professor anuncia a matéria e a galera "googla" para saber detalhes. E a aula? Todos com fones de ouvido, escutando música, rádio, sei lá. E a distância entre a sala de aula do subúrbio de Benevides e a do Colégio Nazaré? E agora leio que os estudantes de Belém protestam contra o número de livros que precisam ler para fazer o Vestibular. Por si só já é um assunto complexo. A distância brutal que existe entre o universo dos nossos jovens e a Literatura clássica pedida no exame é algo desanimador. Tudo deveria mudar. Os livros deveriam ser de escritores mais modernos, assuntos mais leves. É preciso levar os jovens à leitura e adiante, leitores, passem a ler obras clássicas ou mesmo, sigam leitores. Da maneira atual, tudo é chato, monótono e para sempre, a Literatura estará marcada como algo irritante. Por mim, mudavam os livros e aumentava a quantidade. E discutia em sala, como na França. Mas é somente uma idéia. Os burro ganharam. Que merda!

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Com olhos bem fechados

Escrevo de sopetão. Acho até que já escrevi sobre isso. Me repito. Tive dez minutos de folga e cliquei para ouvir Beatles, assim a esmo. Rodou “It’s only love”, uma bobagem deliciosa, que particularmente me lembra uma pessoa, das antigas. Tudo isso me levou direto para a boate da Assembléia Paraense, a velha, na Presidente Vargas, onde havia, aos domingos, uma “Tertúlia”, assim chamavam, ou seja, festa para adolescentes. Rolava também no Pará Clube, na Tuna, T1, enfim, outros lugares. Mas a lembrança é da AP. Dançar de rosto colado. Ouvi a música, fechei os olhos e lembrei das sensações. Um primo, na época, me despertava inveja. Dançava do começo ao fim das festas. Saía de uma para outra menina. Como fazia? Tímido, sonhador, covarde talvez, eu hesitava, olhando as meninas, já deixando de lado as mais lindas e procuradas. Imagina, chego lá, “quer dançar?”, ela me olha de cima abaixo, baixinho, cabeçudo, feio e vai acabar me enxotando. Vai ser pior. E lá ia a noite avançando. Eu nas considerações. Em outra, havia a mãe e o pai. Enfrentar a mãe era uma coisa, mas o pai também, nunca. Um problema, uma tensão insuportável, a vontade de ir para o bar e deixar para um outro domingo, quem sabe. E no bar, ouvir os bonitões comentando que dançaram com essa e aquela, colaram com fulana e sicrana. Ature essa pressão toda. Encher a cara com cuba libre? Vai direto no rum puro? Mas tonto não daria para enfrentar. Afinal, sou um homem ou um rato? Passei a semana pensando nela, naquela uma que está sentada próximo à porta e agora passo, repasso, olho, ela está sentada, por sorte não veio ninguém tira-la para dançar. É a minha chance. Chance? Penso nas probabilidades. Considero pequenas. Diminutas. Bom, ao menos, se levar um “pau na testa”, já saio direto pela porta e vou para casa pra deixar de ser besta. Encho de ar os pulmões e vou caminhando em sua direção, como um grumete condenado, caminhando pela prancha do navio de um pirata sanguinário e vingativo. Olho para baixo e vejo os tubarões distribuindo senha para quem quiser provar meus pedaços. “Quer dançar?” Ela me olha, gelo, e ouço “O quê?” Realmente, a pergunta saíra tão baixa que ninguém ouviria. Ou então já é algum truque para me responder “não, estou cansada”, o que sem dúvida me faria considerar o suicídio, se tivesse nos dentes uma dose letal de estricnina, como aqueles espiões da Guerra Fria. Engato um Cid Moreira e pergunto “Quer dançar?”. Sim. Ela levanta, eu a deixo passar e vou atrás até a pista, onde Guilherme Coutinho toca e Walter Bandeira canta tipo “eu e eu, nesse amor que só vive em mim, que nem mesmo pode morrer, sendo eterno na dor”.. Agora dançamos, sem dizer nada, um ao outro. Percebo que a cabeça dela vai chegando próximo ao meu rosto. Seus cabelos já me espetam o rosto. Sinto seu perfume e agora já não faço a mínima idéia da música. Nossos corpos se aproximam e sinto sua respiração. Estupefato, maravilhado, sin palabras, o coração metralhando, ofereço o rosto e estamos colados. E agora? Qual o próximo passo? Sequer trocamos duas palavras, quer dizer, “quer dançar e sim”. Mais que duas. Concentre-se, pense no que fazer agora. Você se preparou tanto! Preparou nada. Não pensou nessa etapa. Não acreditou que chegasse a isso? Seria uma pobre idéia de mim próprio ou extremo respeito às meninas? Não tergiverse. E agora? Houston, we got a problem. Ajuda dos universitários! Infelizmente, travei. Simples. Nada de alt crtl del. Travei. Termina a música. Talvez decepcionada, ela me sussurra “vamos parar?”. E eu cedo sem luta, sem puxa-la de volta aos meus braços, jogar-me aos seus pés, enfim, sem reação, talvez os olhos baixos, não com ela, mas comigo mesmo. Ela vai para sua mesa e eu vou cabisbaixo em direção à porta de saída quando, boom, ué, ela colou comigo, senti seu perfume, seus cabelos e não nada mais importante no mundo. Dou meia volta. Na próxima música, será que ela dança novamente comigo?