Quem
dirige, sabe que o trânsito em Belém está entre os piores do mundo. Há mais
carros e motos que ruas. Há muitos ônibus fazendo as mesmas rotas. Há muita má
educação e stress. Há falta de planejamento. O tal do BRT, atrasado uns dez anos,
nem foi inaugurado e já está ultrapassado. E agora, o Estado constrói outro,
enlouquecendo ainda mais as vias de saída da cidade. Podia piorar e piorou. Com
a proliferação de aplicativos para delivery gastronômico e muitos outros, a
chance de emprego, a necessidade de fazer o maior número possível de entregas,
para faturar mais, um verdadeiro enxame de motociclistas carregando às costas
aquela caixa de delivery invadiu as ruas, dia e noite. Noite principalmente.
Para eles, não há leis. Bem, para muitos outros, também não. Sobem calçadas,
fazem contramão, ziguezagueiam, ignoram sinais, enfim. Bem que podiam arriscar
suas vidas sem importunar ou arriscar as vidas de outros. Não tenho dado sorte.
Estou dirigindo. Paro em um sinal. Há vários outros carros à minha frente.
Distante, lá atrás, mas vindo em velocidade, um motoqueiro faz sua previsão de
espaço. Pensa em chegar ali, dobrar entre um carro e outro, subir a calçada,
enfim. Tudo certo. Esqueceu de combinar com os russos, como diria Mané
Garrincha. Qualquer movimento que um carro faça, porque abriu o sinal, porque a
fila andou, inevitavelmente anulará o calculo perfeito do motociclista. Ele
freia, precisa refazer tudo. Aborrecido, irado, dirige palavrões aos motoristas
que prejudicaram sua performance. Hoje, mais uma vez. Fim da tarde. O sinal
abriu. Movimento meu carro. Ele freia forte. Lá na frente, paro em outro sinal.
Ele chega ao lado. Reclama. Tento argumentar. Ele dá um murro no meu
retrovisor, dá-se conta do gesto e tenta fugir, o que consegue, aos
trambolhões. Não há sequer tempo de ficar aborrecido. Penso que a mão do rapaz
deve ter ficado machucada. Quantos outros me dirigirão palavrões. Quem sabe
quebram o vidro do carro aos murros. Isso é o de menos. Os hospitais estão lotados
por motoqueiros e suas vítimas. Ninguém se toca.
Também
descobri o motivo pelo qual muitos carros circulam à noite, com faróis máximos
ligados, dentro da cidade. Não, não é porque a iluminação urbana é péssima. É
péssima, sim. Quanto mais moderna, fica pior. A razão é porque seus carros são
todos peliculados, cada vez mais negros, dark total. Não há como enxergar nada com
luz normal. E aí ligam no máximo e vão agredindo os motoristas à frente. Piores
são aqueles que compram luzes brancas, que agridem mais ainda. Um amigo decidiu
vender seu carro. Desistiu de dirigir em Belém. Penso se o acompanho nisso.
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