sexta-feira, 12 de maio de 2017

SAUDADE MARAVILHOSA

Muito poucos o conhecem, mas Mário Adnet é um dos melhores músicos brasileiros há tempos. Tem mais discos no Japão do que no Brasil. Cultor da bossa nova, melodicista de primeira, músico, maestro, amante de Tom Jobim, dedicando um CD sinfônico à sua obra e também passando em revista o grande Moacir Santos, Adnet apresenta seu novo trabalho. 
Logo aos primeiros acordes de “Ancestral”, dedicada a Armando Marçal, nos faz embarcar na maravilhosa música popular brasileira. Melodia e execução. Mário ao violão, Marcos Nimrichter ao piano, Jorge Helder no baixo, Rafael Barata na bateria, Marçal na percussão, mais os metais de Eduardo Neves, Aquiles Moraes e Everson Moraes. Que beleza! Onde foi que nos perdemos da MPB? Ou, hoje, seria MBC, música brasileira culta? 
Há bossa nova, samba jazz, baque virado, Ricardo Silveira na faixa título, valsa, uma versão espetacular de “Viver de Amor”, de Toninho Horta e Ronaldo Bastos, e uma versão sambajazz para “Caravan”, o standard de Duke Ellington e Juan Tizol, dedicada a Moacir Santos. Que beleza! 
O lançamento é do Sesc São Paulo. Quem mais se atreveria a lançar um CD com tanta qualidade? Inspirado, corri para minha coleção. O primeiro CD que peguei foi de Caetano Veloso. Ouvi “Paisagem Útil”, a primeira canção tropicalista que ele compôs. O primeiro a ouvi-la foi Paulinho da Viola. “Paisagem Útil”, é a primeira letra a partir de uma paisagem, a do Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro. É uma das minhas favoritas. “Uma lua oval da Esso, comove e ilumina os beijos dos pobres, tristes, felizes, corações amantes do nosso Brasil”. Uma marcha rancho. 
Caetano e Gil tinham um passado de MPB e não de rock, que desenvolveram depois. “Alegria, Alegria”, com guitarras, é uma valsa portuguesa. A orquestração seria de Rogério Duprat ou Briamonte? Há outra de Caetano, que lembro agora, “Trem das Cores” já anos depois, “teu cabelo preto, explícito objeto, castanhos lábios, ou pra ser exato, lábios cor de açaí”. 
Caetano está na Europa, fazendo shows com Teresa Cristina. Paula Lavigne, a mãinha, nos bastidores, faz “lives” através do Instagram de alguns números. Deve ser uma grande felicidade um artista desfilar pelas grandes cidades com ingressos totalmente vendidos. 
Ele cantou “Reconvexo” em Londres. Depois estava em Lisboa. Adiante, vemos a turma conversando, cinco minutos antes de subir ao palco em Madri. Como era boa a nossa música. 
E Belchior? Eu o conheci. Veio a Belém. Conversamos. Papo viajandão como quem recita um monólogo de improviso, conversando consigo próprio. Eu começara a trabalhar em rádio. Ele, mais Ednardo, Fagner, mais Sérgio Sampaio e Luiz Melodia, todos estreando. Como eram bons! Tinham tudo a ver com nossa idade. 
Acho que Belchior, antes de estourar, já trouxe com ele suas melhores músicas. Depois não acho que tenha composto algo de mesmo nível. Quanto ao sumiço, como explicar as pessoas? Como explicar? Vejo moças lindas, formadas, inteligentes (ao que parece), chics e vem a música de sua preferência: sertanojo. Pronto, aí não dá. 
Falta de Educação e Cultura, de ética, da compreensão, do pensamento rico em argumentos, da identificação da beleza a partir da língua. Ou o funk, cujas melodias são inferiores a “Atirei o pau no gato” e as letras, sexo lixo. Passo de carro e vejo casas de shows lotadas de cowboys do asfalto. Ah, como era boa a nossa música. Saudade Maravilhosa

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