sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

ODEIO VOCÊ, CULTURA

Assisti ao espetáculo “5 Vezes Comédia”, semana passada, no Teatro da Paz. Foram três sessões gloriosas, lotadas. Em um cálculo apressado, seriam três mil pessoas a R$100. Uma boa soma, mesmo descontando as despesas. No palco, comediantes conhecidos em programas da Tv Globo. E curioso perceber um padrão ditado pela emissora, no humor feito pelos atores. Esse padrão domina hoje o cinema nacional em comédias leves que conseguem milhões de espectadores. São cinco monólogos rápidos. Engraçado como, ao final, em poucos minutos, esquecemos o que assistimos, assim como acontece nos programas de tv. Divertem no momento. Nada para pensar ou refletir. Pior, a propaganda do departamento de Seguros do Banco do Brasil. Um casal senta na plateia. Ele vira para a mulher e diz que após uma semana de stress, um trânsito pesado até chegar ali, espera que a peça não seja daquelas “sérias”, e faz uma voz gutural. Emenda dizendo que deveria haver um “seguro-teatro”, para prevenir “peças ruins”. E creio que todos, ali, concordaram. A classe média paraense lota o Teatro da Paz a cada vinda de artistas globais e suas comédias baratas. Não é somente um fenômeno paraense. A Cultura saiu do cotidiano das pessoas. Fernanda Torres, entrevistada por Bial no GNT disse que antigamente, íamos ao cinema assistir Fellini, Buñuel, Kubrick, sei lá quem mais e saíamos tão impressionados que ficávamos na porta do cinema querendo falar sobre e depois conversávamos noite adentro em algum restaurante ou bar. Havia um impacto. E no Teatro? E na Música? A própria Globo recorre, agora, a músicas dos anos 80 e até Caetano Veloso das antigas em suas trilhas de novela. O que é produzido hoje é lixo. Saudosista? Será? Hoje, aqui em Belém, nosso teatro é feito em casas, como os primeiros cristãos em Roma, orando nas catacumbas. Somos vítimas de uma crueldade produzida por insensatez, boçalidade e ignorância, em mais de vinte anos de governo. Uma geração inteira foi desmantelada. Hoje, se perguntasse a uma daquelas pessoas no TP se assistiria a uma peça com artistas locais, ela talvez risse, debochando. Os governantes acabam de dar outra demonstração do seu ódio pela Cultura, nomeando uma advogada que talvez nunca nem tenha entrado em um teatro. Bom, talvez estivesse na plateia do TP. Ela própria confessou sua ignorância quanto ao tema. Somos vítimas? Somente porque deixamos que nos vitimassem. Somos desunidos. Muitos de nós, para sustentar a família, conseguiram emprego no Estado. Participar de manifestação? Nem pensar. O Estado é vingativo. Onde está a Escola de Teatro da Universidade, que tem como professores alguns dos mais brilhantes expoentes de Belém? E para quê, a cada semestre, apresentam novos profissionais? Para quem? E esse jovens, no fulgor da mocidade, quedam-se na base do não é comigo a cena que se apresenta? Desculpem a expressão, mas seja o Estado, a Prefeitura e nós mesmos, parecemos estar “cagando” para isso. Deixemos que tudo morra. Assistimos esses cretinos fazerem festivais de ópera, para cinco mil pessoas, enquanto milhões no Pará nada tem. Que um empresário de brega comande a Fumbel. Os algozes enfiam a faca sorrindo e sorrimos de volta para eles? Não me calei. Me prejudicou mas não evitou que seguisse com minhas obras. E vocês? Onde estão os jovens com sua força, lutando por uma brecha para mostrar seu valor? Vão ficar calados por quanto tempo?

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