Honesto, íntegro,
mas amante das piadas de sacanagem. Boca suja naturalmente. Desses que dizem
palavrão com tanta naturalidade que são perdoados gostosamente. Era a atração
das reuniões de família, procurando cabelos nas mãos dos pré adolescentes,
contando suas piadas indecentes, como as definia sua esposa, que sempre fazia a
chocada, parte do número. Aposentou-se e na falta do que fazer, descia para a
portaria do prédio onde ficava contando suas piadas, seus causos, para quem se
interessasse. Boa pessoa, não tinha filhos, adorava crianças. Elas também
gostavam do velho boca suja mas carinhoso. Veio o Natal e decidiu comprar uma
fantasia de Papai Noel. Percorreria todos os andares distribuindo presentes,
sonhos e recebendo carinho. Era conhecido e todos gostariam. Dito e feito.
Desceu do último até o primeiro andar, não esquecendo de aceitar os drinks
oferecidos, às escondidas das crianças. Eram 22 andares. Três apartamentos por
andar. Quando chegou no terceiro, 302, havia moradores novos. Entrou fazendo
seu número. Notou certa formalidade, mas com um sem número de doses de whisky,
champagne, cerveja, conhaque e até alexander, a boca suja estava absolutamente
solta. Abraçava as crianças dizendo Feliz Natal, porra. Vem cá seu caralhinho, vem
pegar o teu presente, viadinho do papai, vem cá. Não deu certo. Os vizinhos
eram crentes. Foi posto para fora. As crianças ficaram chorando. Não sabe se
foi dos palavrões ou por não terem recebido os presentes. Perdeu a graça.
Voltou correndo para seu apartamento, tirou a fantasia e ficou ali pela sala,
aguardando seus parentes. Tocaram à porta. Era o síndico, meio sem graça, pois
o conhecia e também lhe tinha oferecido uma dose e o vizinho, querendo dar
queixa. Falaram. Explicaram. Já estavam saindo. Não agüentou. Resmungou alto:
tanta confusão por causa de uns caralhinhos, ora porra...
Deu escândalo. Os vizinhos se mudaram. Papai Noel
continua.
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