sexta-feira, 3 de junho de 2016
CINDERELA EM NOITE DE CHUVA
Choveu
torrencialmente alagando a cidade até momentos antes de começar o show “Corpo
de Baile”, de Mônica Salmaso, no Teatro da Paz. A cantora agradeceu a todos que
conseguiram chegar, apesar do tempo. Pra ser sincero, não acredito que sem
chuva muitos mais chegassem até lá. A Cultura, o bom gosto, há muito se
esquivaram de estar em nossa cidade. Em uma de suas falas, Mônica disse
considerar-se uma Cinderela, por poder viajar pelo Brasil com o show,
acompanhada de tantos grandes músicos. E tudo devia ao Bradesco, patrocinador
através da Lei Rouanet. Curioso isso acontecer, no momento em que vivemos, um
Ministério da Cultura extinto e depois retornando por conta da grita geral
entre os artistas brasileiros, além da ocupação de algumas sedes, nas capitais,
em protesto. É claro que fui contra a extinção do MinC. É verdade também que
nos últimos tempos o ralo orçamento já tinha sido contingenciado e muitos
artistas estavam sem receber. É verdade que apesar de tantos debates,
consumindo dois governos de Lula, não podemos dizer que havia uma política
cultural nacional. É claro que a Lei Rouanet vem aprovando projetos de ações
culturais promovidas por artistas renomados, que sem a lei também obteriam
êxito em suas iniciativas. Quando apresentam seus projetos aos maiores
patrocinadores, é lógico que os departamentos de marketing os escolherão para
expor suas marcas, em detrimento de outros fazedores de cultura. Essa era uma
discussão que estava havendo. Também não sei como resolve-la, sem contrariar a
livre concorrência. O que posso dizer é que sem a Funarte e alguns de seus
prêmios, o Grupo Cuíra não conseguiria sobreviver mantendo seu teatro de cem
lugares e produzindo espetáculos. Prêmios aos quais se habilitou e foi
escolhido por equipes que analisaram todos os projetos que fizeram o mesmo. O
Teatro chegou a funcionar como Ponto de Cultura, obedecendo todos os trâmites e
tendo suas contas aprovadas. Sem isso, nada faríamos. Nunca recebemos apoio
cultural do Estado ou do Município. Pelo contrário. Ficaram muito felizes
quando fechamos as portas. E ali estava Salmaso acompanhada por uma banda
irrepreensível, com Nelson Ayres, Neilor Proveta, Quarteto Carlos Gomes,
cantando um repertório de canções que estavam esquecidas, inéditas, de Guinga e
Paulo César Pinheiro. Ao menos nesse caso, a Rouanet funcionou bem. Foi
inesquecível. Uma das melhores coisas que assisti na vida. Artistas ocuparam
alegremente a sede local do MinC. Depois que o ministério voltou, resolveram
ficar. Mas aí já por questão partidária. Estou fora. Gostaria que invadissem
também as sedes da Fumbel e da Sectaria de Cultura. Há mais de vinte anos temos
ali alguém, “lúcido e criativo”, que odeia os artistas paraenses. Vejo fotos da
Feira Pan Amazônica do Livro. Gente feliz. Lembro de Chico Buarque em “vence na
vida quem diz sim”. O cara os despreza e eles vão em busca dos holofotes que
duram alguns minutos. Depois, novamente, a escuridão. E a Fumbel e a Sectaria
de Cultura, não merecem ser invadidas? Participei do “Chega”. Faltou muita
gente que agora sorri, feliz. Querem Rouanet? Quem, aqui se beneficia? O Cuíra
conseguiu uma, com a Petrobrás. E só. E a Semear que ninguém consegue empresas
patrocinadoras? E a da Prefeitura? Restou uma Cinderela em noite de chuva.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário