Vou
assistir ao show dos Stones porque penso que, desta vez, será a última. Já sei
que após os shows na América do Sul, a banda entra em estúdio para gravar
material novo. Será, mesmo, a última? Bem, Paul McCartney já virou arroz de
festa. Fui a uma dessas lanchonetes especializadas em burgers. A decoração toda
rock and roll, com guitarras, amplificadores, quadros e monitores. Em um deles,
o último show de McCartney. Mas espera aí, esses burgers têm como principal
público, adolescentes ou jovens de até 25 anos, não é? Sir Paul tem mais de 70
anos! Eric Clapton tem mais de 70 anos! Em outro Burger (ando indo muito a
burgers), um guitarrista e uma baterista. Jovens. Iniciam o show com
“Revolution”, dos Beatles. Ué? Por isso, quando Bowie morre, vem uma melancolia
e vejo que não é somente da minha geração, mas de todo um público. A música de
hoje é muito ruim. Até os jovens acham. Tive sorte, muita sorte. Espero que,
como na música do Pato Fu, “tempo amigo, seja legal, conto contigo, só me
derrube no final”.
sexta-feira, 15 de janeiro de 2016
A CERIMÔNIA DE ADEUS
Nasci
em meados dos anos 1950 e tive sorte, no que diz respeito às atividades que
desenvolvi no rádio, por assistir e desfrutar de uma época maravilhosa para a
cultura mundial nas mais diversas áreas, mais especificamente na área da música.
Beatles e Rolling Stones com meus 11 anos de idade. Bossa nova, Jovem Guarda,
Tropicalismo. Convivi com artistas maravilhosos, que fizeram obras que até hoje
ouvimos, assistimos, gostamos. Em fevereiro, espero estar em SP para o show dos
Rolling Stones. Charlie Watts, o baterista, estará próximo dos 80 anos e os
demais, nos 75. Sim, a banda é um fenômeno de durabilidade. Senti muito quando
Hendrix morreu. Janis, Morrison. Houve muitos outros, é claro. Mas a morte de
David Bowie, no início da semana me chamou a atenção para o que chamo de
“cerimônia de adeus”. Os ídolos de minha geração estão velhos. E pensar que
Roger Daltrey, do Who, cantava “hope I die before I get old”. O Pink Floyd
perdeu Rick Wright. O Yes perdeu Chris Squire. Perdemos Lennon há mais tempo.
George também se foi. Pensei que seriam eternos. Não são. Mas também pergunto
qual o artista das novas gerações que pode provocar essa tristeza toda com sua
morte. Michael Jackson foi um deles. Sim, Madonna será, certamente. Quem mais? Nossos
heróis enfrentaram barras pesadas. Propuseram mudanças na maneira de cantar,
tocar, apresentar. Bowie, antes de Jacko, foi um camaleão, um dos primeiros a
fazer vídeo clips. De atuar em filmes, nào como participação especial, mas como
ator. Influenciaram o pensamento de toda uma geração. Com o final do mercado
fonográfico, parece que tudo esfarinhou. Não temos mais tempo para degustar
lado A e lado B dos discos. Escutar até mesmo as músicas menos interessantes.
Ler a ficha técnica, as letras. Os Beatles foram os primeiros em “Sargent
Pepper”. As capas que perderam força já com a chegada do cd. Eram obras de
arte. Faziam parte de toda uma estética. Quem serão os próximos? Imaginem
quando chegar a vez de Dylan. De McCartney. Mick ou Keith. Assisti a um documentário
sobre o último disco solo de Richards. Em dado momento, Tom Waits (atuando como
entrevistador), após ouvir a história dos Stones, passeando no lendário Chess
Studios em Chicago (encontraram um negro pintando o teto, estranharam e foram
apresentados a Muddy Waters), pergunta se ele sabia que hoje, ele era aquele
deus da música que Waters havia sido para eles. Keith, com aquela voz de fundo
de poço, diz apenas: sim, eu sei.
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