segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

A noite mais feliz da vida de Jason Bonham

Eu havia assistido em canal fechado Shine a Light, o filme sobre os Rolling Stones, feito por Martin Scorcese. Ainda sob o impacto de Jagger e Richards, encontrei um amigo, que me perguntou sobre Celebration Day, o filme de David Carruthers sobre o concerto do Led Zeppelin na O2 Arena em 2007. Não, respondi. Tenho receio de assistir ao retorno de algumas bandas. Medo de perder o encanto. Encontrar senhores de cabeça branca, barrigudos, tentando cantar seus hits. Isso já me aconteceu com o Yes, mesmo que seu instrumental seja insuperável. Não, ele me disse. Tu precisas assistir. Sabe essa stamina, que notaste nos Stones? Está lá, no show. Tudo bem. Antes, entrevistas na Uncut, creio, de Robert Plant, à época, avisando que viria ao Brasil, o que fez e com Jimmy Page na Rolling Stone. Curiosamente, Led Zeppelin, apesar de todo o amor que tenho por seu som, nunca foi minha banda preferida. Talvez em estivesse muito apegado ao rock progressivo, sei lá. Mas conheço tudo. Minha amiga Silvana era apaixonada. Hoje, morando em Londres, está sempre encontrando com Page, a quem chama de amigo. 
O show começa e percebo Plant protegendo os agudos. Aquecendo a voz. Talvez seja esse o grande medo. Ele tem roído a corda a respeito da volta da banda. Tem outros planos. Carreira solo. Nessas outras atividades, trabalha outro registro vocal. No Zepp, o tom é sempre no alto máximo, rock and roll, onde ele antes arrebentava, chicoteava os companheiros. E agora? Plant também disse em entrevista que muitas vezes ficava assistindo a performance dos companheiros, todos músicos e ele, ali, o diferente, contando apenas com a voz. Agora, tanto tempo depois, Jones, Page e Bonham estão com seus instrumentos, modernos, maravilhosos e tudo o que ele tem é a voz, com quase 70 anos, creio. Uau. Até eu teria medo. Somente os tortuosos caminhos da comunicação entre eles pode explicar porque um show gravado em 2007 seja lançado somente agora, 2012. Quem sabe os outros aguardaram sempre por um ok, vamos voltar com o grupo.
As músicas seguem. Black Dog ainda não está no ponto quanto à voz de Plant. Em Nobody's Fault But Mine, melhora. Ele olha para Jason e ri. I did it. Os outros também sorriem, percebendo. Ele começa a soltar. Leio nas entrevistas que o elemento catalisador foi Jason Bonham. Seu pai, John, era  grande âncora. Sua morte fez desabar o que já ia adiante com sacrifício. Não eram mais jovens. Milionários, bebados, drogados, com egos gigantes. Acontece sempre. São humanos. Jason tem um conhecimento enciclopédico da banda, relembrando, ensinando passagens. Chega ao ponto de, antes de determinada música, lembra-los que o pai, certa vez, fizera desta ou daquela maneira e o que preferiam. Jason está sempre sorrindo, feliz, tocando uma bateria cheia como era a do pai. E todos sorriem, cumprimentam sua performance. Aos poucos, a troca de sorrisos, afetos e abraços se estende. Ao final de Stairway to Heaven, Plant grita We did it! Sua voz a essa altura está lá, no alto. E encerram com Kashmir, maravilhosa. A platéia pede bis. Retornam e fazem Whole lotta love. Saem. A platéia grita. Voltam e encerram com Rock and Roll.
Jason Bonham disse que esperou a vida inteira por essa noite. Que nos ensaios todos perceberam que a química funcionava. A fagulha estava la. Stamina. Quando encerrou, ele correu para o camarim e despencou em lágrimas. Chorou por si, pelo pai, pela mulher, filhos, por todos. E disse que esta foi a noite mais bonita de sua vida. Imaginem o prazer que teve. Quanto ao Celebration Day, ainda estou inebriado. É fato que em Blu Ray, é como assistir de camarote o show. Mas imagino o que deveria ser estar no meio da multidão, sentindo a energia, todos juntos. Deve ter sido ótimo.

Nenhum comentário: