Sei perfeitamente que a Língua é um organismo vivo e que acompanha os corcoveios do desenvolvimento da sociedade em seus diversos níveis. Acho encantadora a forma com que os jovens usam a escrita em chats, desde que não errem nas concordâncias e que nas mudanças e resumos se mostrem criativos. Mas ultimamente tenho estado incomodado, mais do que isso, insuportavelmente incomodado com o Português falado em Belém, nas mais diversas faixas sócio econômicas. Um dialeto, que vinha há vários anos se desenvolvendo a partir das classes menos atingidas pela Educação se espalhou, como era de se esperar e hoje está insuportável. Pra mim ir, pra ti fazer e coisas assim ficaram triviais em qualquer Doutor da Universidade. E o "s"? Há vários anos atrás, éramos conhecidos por ser um povo que falava bem o Português, diferentemente do gaúcho, por exemplo, que usa o "tu", mas conjuga como você. Cadê o "s"? As coisa. Os perfume. Os time. Os problema. Todo mundo parece falar assim. E se começamos a corrigir, parecemos errados, ou defensores de algo antigo, que não se usa mais. O ex-presidente era o maior garoto propaganda desse dialeto.
Pensei nisso e pensei também no enfrentamento de uma sala de aula, professor x aluno. Estou assistindo a quarta temporada da série "The Wire", passada em Baltimore, mostrando o início do ano letivo. Meu filho, que estudou por 1 ano em El Paso, Texas, fronteira com México também me garantiu que nos EUA o sistema está falido. Professores fazem que ensinam e alunos nem fingem que aprendem. Há um outro mundo aqui fora. Uma outra linguagem. Como pode um professor enfrentar alunos sem armas dignas? Não é preciso ser classe média para chegar a um computador. Em uma cidade como Belém, há lan houses e o mais incrível, uma maneira absolutamente criativa de encarar a modernidade. O inglês, os gadgets tecnológicos chegam e sua utilização, sem que ninguém entenda inglês ou os detalhes técnicos de cada aparelho, é desenvolvida. E o professor ali, com um quadro negro atrás de si, ensinando Matemática. Mas em casa ligam a tv e ouvem, se não é um Português com um sotaque paraense, ao menos é falado corretamente e isso não se impõe. Pais e filhos falam o dialeto. Leio em um blog do primeiro dia de aula, na Universidade, turma de Ciência Política e me pergunto que tipo de retorno haverá. Sure, os alunos estão ali com algum nível de entendimento e interesse, penso. Mas haverá neles algum discurso? Ouço jovens e cada vez mais me desespero. Essa geração atual parece gostar mais de bater palmas, estar na platéia do que no palco, protagonizando os acontecimentos. O que um professor de Ciência Política fará para alcançar o interesse? E a turma de alguma maneira animará esse professor? Ensinei por alguns poucos anos na Ufpa, Curso de Jornalismo e Propaganda. Um dos motivos para deixar o Magistério foi porque um dia, voltado ao quadro negro, ensinando como fazer um jingle publicitário, virei-me para os alunos e percebi, de alguma maneira, estar mais animado, mais envolvido do que eles. E me perguntei o que fazia ali, nove horas da noite, após um dia inteiro de trabalho, ensinando, empolgado, para uma turma de "não estou nem aí". Dá vontade de agir como Tim Maia: Mais grave, mais agudo, mais médio, mais tudo! Tergiversei? Então tá.
Um comentário:
Não abro mão de falar e escrever corretamente. Sem atropelos, claro. Não falarei, numa roda de amigos, "passar-me-ias a manteiga, por obséquio, caro confrade?". E hoje defendo a simplificação da linguagem. Mas uma simplificação correta, sem concessões à mediocridade. Aos dois anos e meio, minha filha aplica o plural e até já corrigiu um vizinho.
Língua Portuguesa para mim é da maior relevância. Não tenho medo, inclusive, de parecer pedante. Não subo em palanques, mas sou um educador e procuro orientar meus alunos, futuros advogados, também nesse aspecto.
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