sexta-feira, 17 de junho de 2011

Me ouva

Os domingos têm sido bem difíceis de suportar para quem mora nas redondezas da Praça da República. Com o verão, houve um aumento no número de pessoas que ali se dirige para passar o tempo, se divertir, ver um pouco de verde. O problema está na falta da Prefeitura, que, de resto, falta em toda a cidade. Mas está também no nosso egoísmo, nossa falta de civilidade, nossa má educação. A Praça transformou-se no que se chama de "mafuá". Afinal, vamos à Praça para respirar, passear ou para comprar as "maravilhosas" ofertas dos camelôs? Agora, vá mexer com eles! Aparecem sindicatos, "artoridades", o mundo, em sua defesa. E quanto a nós? Despejamos todo nosso lixo pelo chão. Comida, embalagens, garrafas, outros piores. Desde cedo, na esquina, um cidadão usa de todos os meios para nos transportar para aquelas feiras livres de povoados do interior. Usa para isso, uma bicicleta, onde está instalado um potente som, no qual fica tocando suas músicas.
Começa umas oito da manhã e vai parar lá pelas três da tarde. É o mesmo que durante a semana faz propaganda para Marisa Carnes, o açougue da Presidente Vargas. Além de dançar, faz propaganda e pede "Me ouva, me ouva". Menomale que sua seleção junina musical é de razoável qualidade, de Gonzagão a Jackson do Pandeiro, sem resvalar para as atrocidades atuais. Mas aí, havia no teatro ao ar livre da Praça, uma banda de percussão tocando. Em seguida, inicia o projeto da Vale, em grande palco, onde bons músicos, chefiados por Adelbert Carneiro, tocam brega. Alto. Bem alto. Anotem porque já temos três concorrentes sonoros. Pode acrescer o arrastão do Pavulagem, que chega com seus milhares de seguidores bebendo, comendo, jogando tudo pelo chão e tocando alto. Bem alto. Satisfeito? Há o indescritível Bento Maravilha e seu Trio Elétrico, esculhambando com o governo, com o motorista que deixou o carro na esquina e ele bateu, pedindo suco, vendendo cd de merengue. Alto. Bem alto. Quando eles vão embora, restam os "crepúsculos" próximos à Assis de Vasconcelos. Todos de preto, pequenos grupos. O cheiro de maconha é tão forte quanto em outros dias da semana. É liberado. Também namoro entre pessoas do mesmo sexo. Nada contra, evidentemente. Mas não precisavam ficar quase às vias de fato. Há crianças por ali. A Praça é um campo pós batalha. A sujeira somente será retirada na segunda feira. A grama está alta. Não há iluminação. O bestalhão diz "me ouva, me ouva", mas não há como.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

A Felicidade Suprema

Acabo de me deliciar assistindo o último filme de Arnaldo Jabor, A Felicidade Suprema, uma espécie de Amarcord, ou Baaria, reminiscências de sua infância e adolescência, no caso de Jabor, no subúrbio do Rio de Janeiro. Quem acompanha suas colunas em O Globo poderá identificar personagens e cenas as quais, de vez em quando, ele inclui nos comentários. Aqui em seu universo particular, formado pelo pai, aviador da FAB, a mãe, cantora frustrada e forçada a permanecer como dona de casa, segundo os costumes da época e seus avós, onde reluz o avô, magistralmente interpretado por Marcos Nanini, certamente um dos melhores ou o melhor ator brasileiro em atividade. O filme é romantico, lindo, cruel, poético e com um final onde Nanini nos faz despertar os melhores sentimentos de uma bela despedida. E há personagens rápidos, intensos, como o de Emiliano Queiroz, por exemplo. A falta de um maior destaque na imprensa em geral para este filme sensacional chega a ser um absurdo. Jabor é um jornalista polêmico, de opiniões fortes, as quais, quase 100%, compartilho. Mas creio que os que não gostam, se vingam, talvez, relegando o belo filme a uma trajetória meramente comum. Não merece.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Je t'aime Serge Gainsbourg

O pessoal de hoje não consegue imaginar como, antigamente, nos ligávamos nas coisas, tão distantes. Em termos de música pop e comportamento, começamos pelos Beatles e demais ingleses. Alguma coisa americana. Demorei para dar atenção aos Doors. Preferia Hendrix. Mas também pouco me importei com David Bowie, por conta do péssimo trabalho de divulgação, no Brasil, de sua gravadora. Enfim, tudo prejudicava. Ouvi inicialmente Serge Gainsbourg sem nem imaginar que era dele uma das músicas que embalou minha adolescência, "Comment te dire adieu", cantada por Françoise Hardy. Depois, através de sua música Je t'aime moi non plus, em dupla com a belíssima Jane Birkin. Antes, já estava apaixonado por Jane, através do filme "La Piscine", onde contracenava com Romy Schnneider (outra paixão), Alain Delon e Maurice Ronet. Je t'aime foi um escândalo, claro, proibida, mas o Edgar, meu irmão, ganhou o compacto. Adiante, na medida em que as comunicações melhoraram, tinha notícias de Serge. Suas músicas, a versão do hino francês tocado em reggae com a galera da Jamaica. Sua morte. Há alguns anos saiu uma biografia onde pude me apaixonar por esse artista provocador, conquistador, desafiador e maravilhoso. Feio, narigudo, orelhudo, fazia certamente como meu avô Edgar, que dizia "seu colega, eu sou feio, mas se me deixar abrir a boca..". Namorou Juliette Gréco, fez Je t'aime para Brigite Bardot, que não gravou porque foi proibida por seu marido, na época, Gunter Sachs. E casou com Jane Birkin, com quem gravou a belíssima música e adiante, outra, bela, "La Decadanse". Está chegando no Brasil um filme, feito por Joann Sfar, muito bom, que combina elementos de HQ muito bem, tem Laetitia Costa como Brigitte e uma moça, como Jane Birkin, que se suicidou pouco antes do filme ficar pronto, dando uma dose de acidez que Serge bem que gostaria. É muito bom.

Morreu Rubilota

Seu nome era Wolter Robilota, mas ficou conhecido como Rubilota. Juvenil do Vasco da Gama, creio, veio para Belém jogar no Paysandu, onde fez memorável dupla de área com outro carioca, Bené. Depois foi para o Remo, onde se identificou e também obteve muitas glórias. Era um jogador esguio, elegante, inteligente, que sabia jogar futebol. Atuou em grandes equipes, mas lembro dele ao lado de Caíto, Alcino, Roberto Diabo Louro e outros. Um herói da minha infância e adolescência. Depois, formou-se em Direito, casou, teve filhos e netos. Casado com a irmã da mulher de um dos meus irmãos, encontrávamos anualmente em aniversários, natal, reveillon. Fazíamos uma roda, com Edgar Augusto e Orlando Bordalo e entrávamos pela noite a conversar sobre futebol, principalmente dos tempos passados. Como era bom. Hoje fui dar-lhe adeus. Essas cerimônias de adeus que a partir de uma certa idade, começam a ficar cada vez mais numerosas.