terça-feira, 19 de abril de 2011

De volta ao Zeppelin, o dirigível informativo

Um amigo realiza uma pesquisa sobre publicações em Belém e me pede informações sobre o Zeppelin. Fui até minha biblioteca e peguei dois tomos onde estão compiladas quase todas as edições deste jornal no formato de tablóide que circulou com dois números independentes e o resto, por um ano e tanto, creio, em O Liberal e O Estado do Pará. Mergulhei naquilo e lembrei de uma época maravilhosa. O Luiz Braga veio com a proposta. Havia vários jornais no Rio e SP, distribuídos gratuitamente, para um público específico, em edições pagas pelas propagandas que veiculava. Em poucos dias, decidimos suas variadas seções, reunimos no estúdio do Braga, ali na Padre Eutíquio e numa manhã de sábado, esfregávamos as mãos, nervosos, aguardando a impressão, feita nas oficinas de O Estado do Pará. Com 16 ou 20 páginas, não lembro, trazia a fotografia da belíssima Natasha, feita por Luiz Braga, já naquela época o gênio da fotografia. Janjo fazia a diagramação e os que hoje têm o auxílio do computador, não podem ter idéia do trabalho que dava sair do normal, no visual, como era nossa idéia. Havia famílias de letras, desenho de letras, fotos, textos colados, sangrados, trabalho insano. Quanto a mim, escrevia todo o jornal. Simples, não é? O segundo número trouxe Yvonne Mello na capa. E então veio o convite para visitar Rômulo Maiorana. Em sua sala, a proposta irrecusável. "Preciso dar uma rejuvenescida no jornal. Vocês precisam de público. O jornal sai encartado em O Liberal e vocês podem ficar com o dinheiro auferido na propaganda que contratarem". Ótimo. Em duas semanas, saímos de uns dois mil exemplares, para uns noventa mil que, creio, era o que rodava no sábado, O Liberal. Gostaram. Na semana seguinte, passamos a sair aos domingos, em mais de cem mil exemplares. Era uma época em que os jornais impressos eram bem lidos. E entramos numa espiral. José Franco, outro amigo, veio para vender anúncios. Eurico Mendes convidava os entrevistados e os recebia em sua casa, onde o whisky jorrava generosamente. Várias outras pessoas participavam. Mas na hora do vamos ver, Luiz Braga fotografava tudo. Janjo passava as madrugadas no jornal e eu a semana inteira, na máquina de datilografar. Lembro de uma página, Fait Divers, que fazia a partir de revistas importadas que seu Rômulo me mandava semanalmente, como L'Express e Panorama. Era gostoso e reconfortante, tão novos, sermos recebidos de maneira tão entusiasmada. Mas era também extremamente cansativo. Fazíamos com alegria, pela vontade de fazer. Lembro uma noite de sábado, já pronto para ir à uma discoteca, o telefonema de seu Rômulo. Ele somente saía do jornal quando lia o exemplar de domingo. Havia uma questão, lá, que prefiro omitir, mas que precisava nossa intervenção, por sua sugestão. Mexemos. Seu Rômulo, ao invés de mandar, conversava, argumentava, na boa. Como resistir? Uma vez, comemoramos 1 ano de jornal, com uma festa na Signo's, a grande casa da época. Pois é, até Prefeito e Governador foram. Pode? E veio um dia, uma série de mal entendidos, gente dando corda, dizendo que nós é que vendíamos o Liberal aos domingos e seu Rômulo nos chamou e explicou que íamos passar para a segunda feira. Não gostamos. Bobos, metidos, jovens. Gente de dinheiro estava investindo em O Estado do Pará. Contratando as melhores figuras por salário triplicado. Mandaram dizer a nós que disséssemos quanto queríamos ganhar. Que teríamos capa e matérias coloridas. Enfim, o paraíso. Fomos. Foram três meses meio estranhos. Não recebemos. Ninguém recebeu. Fomos à Justiça e ganhamos. Fomos gastar em NY. E paramos. Estávamos cansados, implicando uns com os outros. Éramos poucos. De verdade, bem amadores em organização. Mas para mim, uma grande escola. Com as mais diversas influências, claro, creio que o Zeppelin deixou exemplos de texto. Principalmente influenciou nas fotos de Luiz Braga e mais ainda, muito mais, creio que influenciou muita gente no que diz respeito à diagramação. Até hoje não consegui entender porque ninguém quis saber do Zeppelin. Ninguém estuda, pesquisa, debate, nada. Coisas de Belém. Mas esse amigo conseguiu me fazer voltar no tempo. Rever faces que até hoje estão aprontando, gente que nos deixou e uma super saudade. Quem deu o nome? Acho que foi o Janjo, que mais tarde o utilizou em uma casa noturna. "Dirigível Informativo" acho que é meu, mas não sei bem o que quer dizer. Grande vida. Quero que você me leve.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Meu irmão faz 60 anos

Edgar Augusto, meu irmão mais velho, completa 60 anos de idade nesta segunda feira. Como irmão, posso dizer que muito me orgulho dele, de sua trajetória, de tudo aquilo que conseguiu realizar até agora. Ser o irmão mais velho não é fácil. Pega pais de primeira viagem. No caso dele, pior ainda, pois veio a revolução de costumes, anos 60, 70, política, ditadura, guerras, rock and roll. Lembro que para usar cabelo grande e botas, precisou refugiar-se na casa de meus avós e de lá retornar somente após longas negociações. Os que apenas o conhecem do rádio e tv podem acha-lo sério, com aquela voz de locutor bem colocada, precisa na dicção. A família, amigos mais próximos, sabem de seu gênio extremamente doce, às vezes meio fechado, sentimental, abraçando o passado com paixão, no amor desmedido pelos Beatles. Eu, que acompanhei bem de perto esse amor, que conheço, também todas as músicas, sei o que é isso. Quando somos muito novos, uma diferença, como a nossa, de três anos, é algo bem forte, que se dilui com o passar do tempo. Mas o que eu prefiro fazer, neste blog, é uma reparação pessoal, no que diz respeito à veia artística, revelada em mim na escrita, seja em Literatura, Teatro, Música. Na maioria das vezes em que toco no assunto, dou créditos ao meu avô Edgar, minha tia Adalcinda e acima de tudo, à minha mãe e meu pai, ambos bem opostos, ela nos devaneios maravilhosos, ele na precisão e equilíbrio. Mas não. Meu irmão Edgar tem tudo a ver. Mais velho, sofreu bastante comigo, seja incomodando-o quando brincava, organizado, com seu trem elétrico inglês, seja procurando acompanha-lo no passo, feito soldado, na ida para o colégio. O que poucos sabem é que, desde cedo, ele me influenciou. As primeiras histórias em quadrinhos quem trouxe para casa foi ele. E adiante, começamos a desenhar nossas próprias Hqs. Nos apelidos que dava a todos. Nas paródias e jingles criados por ele, com letras cheias de comentários, apelidos, ironias para com os outros irmãos. Na parceria do jogo de botão, onde praticou a locução, que mais tarde o consagrou, deixando com que eu assistisse aquilo, participasse, processasse e enfim, mais tarde, também trabalhasse na área. Nos Beatles, que imitávamos em frente ao espelho, ele permitindo que eu fosse, no máximo, George ou Ringo, afinal, ele seria sempre John ou Paul. Antes, bem antes, nas brincadeiras de cowboy, ele sempre sendo o mocinho, Bill, e eu, o bandido, algo que ele pronunciava como Brôu, que mais exatamente seria Brown, ficando minha irmã mais velha sendo a dona do Saloon, que chamávamos Madí, mais exatamente, Maggie. E o Janjo, na falta de melhor meliante para me acompanhar, chamado de Robin Hood. E naquele apartamento grande, na Praça da República, no Farol, Mosqueiro, Casa Celina, no Lago Azul, Maracangalha, inventávamos nossas diversões, comandados por ele e sua fértil imaginação. As músicas! Para tudo havia a música. E jornalismo pois, em nossa pré adolescência, passou a circular, incerto, o jornal A Girafa, por ele escrito e editado, com acontecimentos recentes envolvendo os irmãos, naquilo que havia de pior em suas performances, amizades, namoros e foras. O título em homenagem à irmã, cujo crescimento se deu mais rapidamente que os outros. Um dia o flagrei, no recreio do Nazaré, fumando. Fiz ameaça de contar tudo, como um perfeito pentelho. Foram preciso negociações dignas do Conselho de Segurança a Onu para evitar o pior. E as aulas de piano, onde a professora percebeu que ele tocava tudo de ouvido, por falta de vontade de aprender solfejo? Os apelidos! Não apenas para conosco, mas para todos os personagens que nos cercavam. No futebol, oscilava entre o lateral direito de chute forte, "colherada" e o goleiro "Manga". No Lago Azul, cansávamos de jogar gol a gol na piscina e íamos dar uma volta no campo onde meu pai e amigos jogavam. Faltava goleiro. Lá vinham em comitiva, chamando "Manga! Manga!", suplicando por sua participação. E ele retrucava "não vou porque sou frangueiro". Quanta saudade. Começou a trabalhar bem cedo, fascinado pela locução. Desculpem, mas o considero, depois de meu pai, o melhor narrador esportivo que já ouvi, seja pelo bom humor, correção, precisão verificada nos lances de área, onde muitos ficam nervosos e perdem palavras. Era o "locutor minucioso"! Ele me fez começar a trabalhar. Irritado por me encontrar, com 16 anos, bobando pela casa, deu corda em meu pai e lá fui eu, aborrecido, encontrar a grande maravilha da minha vida que é a radiodifusão. Seu incômodo era porque, já trabalhador, gastava seu dinheiro em camisas crepon, na moda, à época. Com tanta camisa, nem notava, ou notava bem depois, que eu as tomava emprestadas para ir a festas. Juntos, fizemos a Feira do Som e muitas outras coisas. Pensamos tão diferente e no entanto somos tão parecidos! Ele me puxou para o Quem São Eles, onde entrei na ala de compositores por sua exigência, já que chegou em casa e pediu a mim e a meu pai, letra e música para o concurso de samba enredo. Fizemos Cobra Norato, pesadelo amazônico e nunca mais paramos. E tantas outras coisas. Vejam só o quanto ele influenciou em minha vida. Serve este como reparação. Como glorificação de seu talento. O tempo, as modificações na personalidade, por alguma razão, não permitiram que se tornasse um grande escritor ou compositor e sim um grande jornalista e radialista. Grande irmão, grande pai, grande figura do Pará. Eu o amo muito. E o respeito, admiro. E aqui, agora, faço esta reparação. Viva Edgar Augusto, 60 anos e muitos mais!

segunda-feira, 4 de abril de 2011

As pretinhas..

Acabo de ler que no circuito chic de NY, alguns descolados agora se reúnem, levando antigas máquinas de datilografar. Ficam conversando e "typing", para ouvir o ruído do equipamento a partir do toque de dedos, movimentos com o "carrão", dedos sujos de tinta e palavras no papel. Estão, mesmo, é fazendo pose, que é como vejo esses que anunciam a "volta do vinyl". Abrem páginas para garantir que fábricas antigas voltam a fazer vinyl. Que tal grupo vai lançar seu trabalho também em vinyl. Que o som é melhor, até acho que pode ser, por conta de compressão, enfim. Mas já passou, foi bom e tchau. E eu realmente adorava as "pretinhas", como todos chamavam as teclas das máquinas de datilografia mais antigas.
Fiquei bem chateado quando minha mãe me matriculou, durante as férias, em uma Escola de Datilografia. Era menos tempo para não fazer nada. Hoje, sou-lhe ardentemente agradecido. Na minha profissão, é um ganho e tanto escrever com todos os dedos. Aos poucos, fui deixando até de escrever à mão e quando o faço, vejo que minha letra também diminuiu de tamanho, quase chegando ao das páginas impressas. Meu pai tinha em casa uma "Royal", objeto lindo, portátil. E eu já era bem rápido. Quando veio a máquina elétrica, minha preferência era por aquela que trabalhava com esferas. Tinha um especial prazer em fazê-la travar, dada a minha rapidez. E isso sem errar, naturalmente. Meu primeiro contato com os computadores foi quando trabalhei no Centur, ali nos primeiros anos da década de 90. Usava como uma máquina de datilografar. Deixava pregado na parede os processos para ligar e acessar o programa "Carta Certa". Então fui aos EUA e de lá trouxe um notebook. Engraçado porque o comprei às proximidades da Grand Station, de um comerciante judeu que me enrolou e empurrou uma marca não tão conhecida e que certamente iria falhar em pouco tempo. Sorte minha, durou foi muito. Depois tive um Compaq de mesa, que no mesmo móvel embutia monitor, HD e disquetes. Demorei muito tempo para sair dos PCs, Windows e tal. Mas então vieram iPad, iPhone e vieram os Macs, de mesa e notebook. Lembro agora que a redação do Jornal do Brasil lutou muito contra os computadores. Por fim, foi lançado inclusive um manual de procedimento, que incluiu crônicas de gente como Millor Fernandes, sobre os computadores. Se a idéia era nos escravizar às máquinas, vingou. Mas ao ler sobre os descolados de NY e seu grupo chamado "Type in", me lembrei das "pretinhas"..

Senna

Não gosto de assistir a corridas de F1, mas é evidente que nada tenho contra quem goste. Mas é que realmente não encontro fascínio em uma competição onde, para começar, não sabemos se o atleta é o piloto ou o carro. Depois, se na televisão, há pouco a conferir, mesmo colocando câmeras nos carros, tenho a impressão que a maioria está ali na possibilidade de acidentes espetaculares. Hoje, principalmente com todo o aparato eletrônico nos carros, quem vai ganhar já está decidido antes de bandeirada inicial. Não acho graça. e sobre os acidentes espetaculares, tudo me lembra a famosa a lendária cena da corrida de bigas no filme "Ben Hur". O melhor de tudo estava nos acidentes espetaculares. Outra coisa que não aceito é a transformação de corredores em símbolos da pátria. Não são. Profissionais com contratos de altíssimos valores. Uniformes cheios de marcas. Bonés, capacetes, carros. Nada mais internacional. Comercial. Mas é uma indústria potente a dos carros e motores. Pagam alto pelas transmissões. E os locutores seguem plantando a mentira da torcida pelo brasileiro. Ayrrrrton, Ayrrrrton, Ayrrrton Senna do Brasil! Grita Galvão Bueno. Bem, é uma democracia. Quem quiser que acredite.
O documentário é muito bem feito. Claro que toma o lado do brasileiro, sobretudo nas questões contra Ballestre, o presidente da Federação de Automobilismo e o super rival Alain Prost, este, francês, antipático, metido, mas nem sempre errado. Senna era excelente piloto, mas levava o limite de segurança ao impossível, movido pela vontade de ganhar. E ainda dizia que Deus entrava em contato e o fazia vencer. Menos, Ayrton, menos. Pode ser que ele, com muita energia pessoal, em algum momento da corrida, conseguisse como que entrar em transe, homem-máquina, sei lá, mas, menos, por favor. E lá vêm entrevistas com brasileiros anônimos, orgulhosos daquele brasileiro que dava tantas alegrias ao Brasil. E la vem a maluca da Xuxa, Adriane Galisteu e o acidente na curva de Tamburello. No documentário, o médico e amigo de Senna, revela sua morte, ainda na pista. A sorte o abandonara. Uma batida tão forte mas nenhuma fratura, além da peça que lhe entrou na cabeça. Na F1, ninguém morre na pista. Somente ao entrar no hospital. Foi interessante assistir ao documentário. E você, foi fã de Senna? Passava os domingos ouvindo os gritos de Galvão Bueno, vendo passar aqueles bólidos e vibrando com a bandeira do Brasil, enquanto engolia todos aqueles comerciais?