sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Sem surpresas

Acabo de assistir uma entrevista feita pelo blog Espaço Aberto com o novo Secretário de Cultura. Sem surpresas. Ele continua acreditando ardentemente que ser Secretário de Cultura é fazer exatamente o que fez em 12 anos trágicos. Vai continuar sua tarefa de matar a Cultura de maneira serena e tranquila, porque acredita no absurdo, acha que sabe o que não sabe e faz com a habilidade de jogar areia nos olhos dos cretinos. Trabalha em suas respostas ser vítima de ódios partidários, de gente que prefere o atraso, quando é ele a agir desta maneira por absoluta ignorancia. Pena. O que podia piorar ainda mais, piorou.

2011

2010 foi muito intenso. Escrevi duas peças, compus as músicas e as dirigi. Tive mais duas apresentadas, uma delas também com minha direção. E trabalho na divulgação. E ensaiar quase todos os dias. Você está no seu trabalho e de repente sai para ensaiar. Ou chega em casa, à noite, toma um banho rápido e vai para o teatro ensaiar. E isso é cansativo mental e fisicamente. O resultado compensa. Meus amigos pensam que é charme quando digo que não penso em voltar a dirigir, mas é a pura verdade. Muito difícil, cansativo. Prefiro escrever. Dirigi as peças por circunstâncias próprias de nossa atividade. Foi um ano dedicado inteiramente ao crescimento do Teatro Cuíra, do Grupo Cuíra, seja em repertório, orçamento, divulgação e presença de público. Sobrevivemos graças a leis culturais e prêmios federais. Agora, conseguimos o patrocínio da Petrobrás e isso é como ir para o céu. Até 2012 desenvolvemos o projeto Cuíra por Memórias. Uma grande vitória. E isso tudo aconteceu à parte as relações maravilhosas travadas com os elencos de As Gatosas e Sem Dizer Adeus. As amizades são o melhor do fazer teatral.
Para 2011, muito trabalho. Nossa parceira Leal Moreira entregou finalmente dois banheiros instalados no hall do Cuíra, para o público. Puxa, como isso é importante. Também devemos em janeiro colocar um forro e instalar splinters de ar condicionado. Cara, o Cuíra começa a ficar chic. Temos dois espetáculos montados, que retornarão à cena. E toda a pesquisa do Cuíra por Memórias. No meu caso, pretendo voltar a escrever Literatura. Tenho material para livros de poesia, crônica, romance e um outro a partir do pensamento de fazer um seriado de televisão passado todo em Belém. Não sei quando vou começar. A qualquer momento. Como será o romance? Não sei. Tenho muitos recortes, amigos a quem recorrer para explicações técnicas, mas o drama, a história, não faço idéia. Temerário? Talvez. Sorte de quem escreve porque deseja escrever. Sem pressões. Para mim sempre foi assim. Parece chavão, mas os personagens ditam os acontecimentos.
É bom comentar que todo esse trabalho se dá paralelamente ou nas folgas de minha real ocupação em rádio, jornal e publicidade, com que lido no dia a dia. Tudo acaba sendo a mesma coisa. Tomara que 2011 funcione como 2010 funcionou. Sou sério, honesto e quero sempre o melhor para todos. Assim o Cuíra. Espero que todos também se realizem e apareçam lá no Teatro. Feliz Ano Novo.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Cultura de volta à escuridão

Estamos perdidos. Após o vendaval que colocou por terra todas as pequenas iniciativas na área de Cultura, com doze anos de PSDB, veio o PT e ao invés daquele discurso que o PT gostava de Cultura, os artistas eram todos petistas, Ana Julia fez uso da Secult para que seu escolhido passasse quatro anos viajando pelo Estado e se elegesse deputado. A Cultura foi para o fundo do abismo. E agora vem Jatene, com esse jeito de ex-músico, sensível à Cultura, que foi atrapalhado por Almir ao iniciar seu governo tendo de engolir sapos e agora, na volta, absolutamente tranquilo e sem dever nada a ninguém e sabedor de tudo de mau que algumas figuras fizeram e repete a dose. Estamos perdidos. Jatene revela a mais completa insensibilidade para com a Cultura e não tinha esse direito, sabendo da absurda quase total rejeição ao escolhido.
O arquiteto Paulo Chaves não entende nada de Administração Cultural e suas diversas áreas a serem desenvolvidas. Atende a solicitações que ele próprio inventa, elege, acredita, todas, absolutamente erradas. Gasta milhões em ópera, porque precisava botar ópera após recuperar o Teatro da Paz. Será que gastará milhões em Teatro ou Música, agora que o Schivazapa está quase caindo de podre? Será que vai corrigir os absurdos arquitetônicos cometidos no Teatro da Estação das Docas e do Parque Residência? Ou vai chamar aquele famoso diretor carioca e montar, por milhões, texto daquele autor amazonense, sem nenhum resultado prático? Ou vai inventar outros bibelôs para se divertir, gastando milhões, jogando areia nos olhos de bobos. Menos mal que Nilson Chaves vai para a Fundação Cultural Tancredo Neves. Pena por Nilson, que certamente não terá qualquer ajuda, nada funcionará como um sistema, por falta de postura do comandante. Coitada da Cultura no Pará. Estou devastado. Nos últimos dias li aqui e ali os boatos. Começou o mal estar. Agora, com a revelação, puxa, isso é mostrar como as coisas podem sempre piorar ainda mais. Desculpem a falta de astral. Meu pai dizia que no Pará "a gente cansa cedo". Não vou me cansar. Continuo como sempre. Nem os doze anos tucanos, nem os quatro petistas, conseguiram destruir tudo. Prejudicaram grandemente, enormemente, mas ainda há pulso. Haveremos de sobreviver. Apesar de você amanhã pode ser outro dia. Aguardemos.

The Boardwalk Empire

Têm razão os que dizem que o bom cinema americano migrou totalmente para as séries de televisão. Acabei de assistir a primeira temporada de The Boardwalk Empire, dirigida e produzida por Martin Scorcese, a partir de roteiro escrito por Terence Winter, premiado roteirista de "Os Sopranos". Vem também daquela série o protagonista, Steve Buscemi. Ali por volta de 1930, o crime organizado se reúne em Atlantic City, por conta da Lei Sêca. A cidade, praieira, é uma festa para quem gosta de cassinos. Minha tia Adalcinda às vezes ia passar férias com seu Tom, por lá e mandava fotos do "boardwalk". Winter misturou fatos como o surgimento de Al Capone e Lucky Luciano, entre outros, com ficção, sem deixar de tocar em temas como o direito a voto por parte das mulheres. A produção, elenco e direção são magníficos. Os cenários também. Sem a pressão por parte dos estúdios, sem precisar da aprovação de grupos de pesquisa, quanto ao final ou circunstâncias do roteiro, todo mundo dá show de bola. São quatro episódios, cada um com mais de 50 minutos e fica o gosto de quero mais.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

A vida de Keith Richards

Conheci os Rolling Stones quase ao mesmo tempo em que conheci os Beatles. Naquele tempo, as informações eram escassas, mas tínhamos tempo de digerir os elepês inteiros, entender cada faixa. Para irritar meu irmão Edgar, dizia que os Stones eram minha banda preferida. A jogada de marketing era exatamente essa, os Beatles bonzinhos, os Stones malvados. Já estava bem adolescente quando veio Get yer ya ya's out e o Sticky Fingers, significando mudanças. Enfim, os caras estão aí até hoje e depois de ler "Vida", biografia de Keith Richards, escrita com James Fox, dá para entender. Eles se adaptaram às mudanças, algumas muito cruéis, afetando as relações. A banda é sobrevivente e percebeu que poderia ganhar dinheiro a partir dos anos 80, 90. Até lá tudo era muito complicado de entender. Agora que o disco acabou como mídia, mais do que nunca, shows ao longo de um, dois anos.
Lá pelo meio do livro, a relação com heroína começa a incomodar pra valer. Ao acabar de ler a bio de Eric Clapton, também fiquei muito decepcionado com a pessoa. E como é que debaixo de todas aquelas drogas eles ainda nos dão coisas lindas para ouvir? É tudo baseado na amizade, desde a infância, entre Keith e Mick. E acho que Keith, por sua maneira de ser, por dar a perceber a todos os outros a importância da banda, da amizade e do profissionalismo, é que mantém os Rolling Stones na ativa. Logo ele que foi viciado em heroína por mais de dez anos. Ele e sua esposa Anita Pallemberg. No meio disso tudo, o filho Marlon, durante anos, o único autorizado a acordar o pai antes dos shows. Keith dormia com um revólver debaixo do travesseiro. Trabalho, muito trabalho. Keith se fechou durante muito tempo entre o trabalho e o vício. Para onde ia, pensava, antes, como obter herô. Vai dando um enjôo. Um por um os amigos vão caindo, morrendo, sendo presos. Ele consumia apenas o melhor, a mais cara. E na dose certa. Bom malandro. Nunca aloprou. A morte de Brian. A saída de Mick Taylor. A saída de Bill Wyman. Mick Jagger traindo o grupo e fazendo carreira solo. A carreira solo com os X Pensive Winos. O retorno com Steel Wheels. A separação de Anita e o casamento com Patti Hansen. O rei dos riffs. São tantos que em um show, antes de uma música, ficou em dúvida. Qual o riff agora? O segredo da afinação em aberto da guitarra. E como saem as músicas de Jagger e Richards. Acho que vale a pena por isso. Os Stones são tão importantes quanto os Beatles. Menos simpáticos, talvez. Keith aproveita para esclarecer que nunca trocou seu sangue na Suiça. Foi uma resposta torta que deu a um repórter, que virou contra si. Se não houvesse as drogas, será que ele seria ainda melhor?

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Feliz Natal

Veríssimo já disse que os cronistas se repetem no Natal. Deixo pra lá. Adoro o Natal, as compras, as trocas de presentes. Quem quiser que vire o nariz e se queixe de consumismo, falsidades nas relações, desagradáveis reuniões com familiares. Para mim é ao contrário. Desde muito cedo, minha mãe transformou o Natal em um momento maravilhoso para nós, seus filhos. Éramos cinco capetas em férias e ela já anunciava um tal de "anjinho Pedroca", ajudante de Papai Noel, de olho se procedíamos bem, passando de ano, se nos comportávamos corretamente. Quando pequenos, a festa era ao acordar, no dia 25, correr até a árvore que ela armava com todo cuidado, incluindo presépio e bonecos infláveis do Noel. Uma festa.
A recordação mais antiga vem de um tempo em que havia, no térreo do Edifício Renascença, a loja Salevy, de Samuca Levy, a quem chamava de tio, uma espécie de bazar, precursor dos shoppings de hoje. Na semana do Natal, barraquinhas eram instaladas na calçada e em determinada noite, havia a chegada do Papai Noel, na verdade, o "Buraco", profissional da propaganda volante, cuja família é dona hoje do Grupo Rauland de Comunicação. Ele chegava mais cedo e ia para o último andar do Renascença. Na frente do prédio, juntava uma multidão. "Lá vem o helicóptero do Papai Noel" e todos olhávamos, aceitando qualquer coisa, até mesmo que existisse Noel e o helicóptero. O "Buraco" começava a descer, indo de apartamento em apartamento, distribuindo balas e jogando lá do alto para a correria das crianças. Quanto a mim, ficava dividido entre a curiosidade da visita e o pavor dessa coisa que animava meus sonhos. Edgar Augusto conta que sua primeira estupefação foi constatar hálito de bebida em Noel. Depois, ele conhecer nosso pai com quem conversava sobre futebol. "Então o Noel é amigo do meu pai?" Não posso acrescentar mais nada. O medo foi mais forte e me escondi debaixo de um sofá até Noel descer. Outra lembrança é de ter revelado ao meu irmão Janjo, o truque de nossos pais para deixar os presentes na árvore. Eles aguardavam que fôssemos dormir e os levavam. Mas, naquela noite, com os corações aos saltos, estávamos escondidos atrás de uma cadeira, na sala e vimos quando papai e mamãe depositaram nossos presentes. Se até hoje lembro disso é porque ainda não me perdoei por isso. E a crônica do "Papa Filas". Era um sonho. Um ônibus de grande tamanho, puxado pelo que chamam de "cavalo de aço". Era tudo o que eu queria ganhar. E ganhei. O Natal caiu em um domingo. Após a abertura dos presentes, fomos para nossa casa de campo no Lago Azul, hoje lugar de endinheirados. Saí, garboso, com meu papafilas puxado por um fio a passear. Encontrei Cícero, filho de Seu Antônio, caseiro do lugar. Ele vinha puxando um caminhão, em tudo diferente do meu. Era feito a partir dessas latas de alumínio que guardam querosene Jacaré. As rodas feitas de tampas de refrigerantes. Belo. Criativo. Diferente. Difícil foi explicar em casa, quando cheguei, a razão de ter trocado de presente com Cícero e entregue o tal papafilas.
Estarei reunido logo mais com meus irmãos, filhos, namorada e minha mãe. Ela está velhinha mas razoavelmente lúcida e ministrando aulas de Redação para candidatos ao Vestibular. A festa toda ainda é a partir dela, de sua alma cheia de imaginação, criatividade, alegria, teatralidade. Sinto falta de meu pai, que também adorava a data, presenteando a todos nós e seus amigos. Após a meia noite e as orações, trocamos presentes alegremente, como se ainda fôssemos crianças. A família cresceu, os sobrinhos já adolesceram. Talvez seja o momento de chegarem netos. Mas a alegria é a mesma. Feliz Natal para todos!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Gente Estranha

When you're strange é o documentário feito por Tom Dicillo sobre a banda americana The Doors. É muito bom. Curioso que quase não curti o grupo, sendo mais atingido por Beatles, Rolling Stones, Janis e Hendrix. Talvez tenha sido falha da gravadora na questão da divulgação. Talvez porque a música dos Doors fosse estranha, diferente. Mesmo Light my Fire, que não é de Jim Morrison e sim de Robby Krieger, foi sucesso aqui em Belém com o violonista cego Jose Feliciano, em arranjo magistral. A música dos Doors é estranha. Seus integrantes vieram do jazz. O guitarrista Krieger preferia o violão onde arpejava como um flamenco. O baterista John Densmore tinha uma técnica mais próxima da bossa nova do que rock. E Ray Manzarek era um organista que fazia o contrabaixo nos teclados. Quando chegam perto do rock é quase um tatibitate como Hello I Love You, ou Break on through to the other side. A diferença está nos versos de Morrison. E em suas performances. A partir de um certo momento, não há mais controle. Jim, à frente, bêbado, chapado, vai inventando, declamando e atrás a turma improvisando. Um shaman em sua cerimônia. Foi uma espiral e tanto.
Somente fui realmente gostar dos Doors após o filme de Oliver Stone, com Val Kilmer no papel de Jim. Ali deu para sacar tudo. Curioso no documentário é notar o quanto Stone e Kilmer se aproximaram do real. Como era a época em que viveram. A coincidência de Jim, Janis e Jimi (todos começando com J), morrerem aos 27 anos, cheios de glória. O som dos Doors é estranho, diferente, mas super rock and roll.

Tá lá o corpo estendido no chão

Meia noite de ontem, ouço discussão, ruído e um tiro. Vou à janela. Vêm dois homens correndo, um atrás do outro, revólver em punho. Vestem-se como esses molecões, camiseta, bermudão com sunga por baixo e chinelas. De uma distância muito próxima, um ou dois passos, vem novo tiro e o da frente cai de cara no chão. O baixote, volta, sempre correndo, olhando em volta, assustado, em guarda e vai para a Primeiro de Março. Só então chegam os notívagos para conferir. O pivetão caído de bruços sangra no asfalto. Alguém comenta que ainda está vivo. Respira. Que o assassino pegou a moto e fugiu. E chegam os caras das rondas particulares. Chega uma dessas tartaruguinhas da Polícia. Corro para a janela que dá para a Primeiro de Março. Há uma perseguição. Hoje alguém me disse que pegaram o atirador. Na Riachuelo, após uns 15 minutos, chega o Samu. E há também seis tartaruguinhas da Polícia.
Relembro a sequência dos tiros, sem nenhum glamour ou ângulo privilegiado, como no cinema. O da frente corria desesperado e o de trás também, para não errar o tiro. O ruído é forte, agressivo, rompe o silêncio da madrugada e a carne da vítima, rasgando órgãos, cortando veias. Ficou muito fácil matar em Belém. E muito barato. Os matadores não precisam de nenhum refinamento. Chegam e atiram. Pronto. Deve custar uns R$500? Talvez menos. Muito menos. Nesse retorno de nossa sociedade à selva, há um capítulo para as motos, que são como os cavalos do velho oeste. Para elas não há sinalização de trânsito, mão, contramão, calçadas, nada. O capacete é mais um artefato para esconder o rosto do que para proteger de acidente. E essa facilidade em ter nas mãos uma arma de fogo.
Quanto à Riachuelo e Primeiro de Março, posso falar de tudo. A zona de prostituição que ainda persiste é digna de vala. Técos de crack são vendidos para uma galera desde bacanas até pés de chinelo. O que não entendo é o funcionamento de uma pensão, na Primeiro de Março, miserável, suja, imunda, com prostitutas esfomeadas, arrebentadas pela vida, vendendo drogas, sem nenhum temor, absolutamente tranquila. Quem a protege? Será que paga todos seus impostos em dia? E as drogas? Na Primeiro de Março, próximo à saída dos artistas do Cuíra, são apenas senhoras prostitutas. Barrigudas, folós, tranquilas, aguardam por seus clientes, senhores, também. Algumas têm casa montada, marido, filhos e até empregada. Mas vão até lá para a espera. Há no momento um casal desfeito. Dizem que têm uma casa no Che Guevara, mas preferem morar na rua, naquela esquina. Ele, grisalho, peito de pombo, passa as manhãs fumando seu cigarro e lendo jornal. Dorme sesta, toma banho, põe seu sapato de couro branco e fica por ali. Ela, Bete, recebe, às vezes, correspondência do Cuíra. Foi presa vendendo drogas. Dizem que já foi solta mas não retorna por medo de vingança dos traficantes. Imaginem. E vem esse corpo estendido no chão desarrumar o cenário daquela madrugada de lua cheia, aparentemente tranquila, mas agora, cheia de vingança.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Para onde vai a Cultura?

Anna de Holanda é a nova ministra da Cultura, substituindo a gestão Gil/Juca Ferreira, que enrolou por oito anos a renovação da Lei Rouanet e outras novidades. Anna já foi secretária de Cultura em Osasco/SP e estava na Funarte. É da corrente do ator Fernando Grassi, também histórico petista, saindo então o PV da área. Como é também cantora, e vem da Funarte, imagino que o setor musical deva sair levando alguma vantagem, mas também acho que as demais áreas vão estar bem. Juca Ferreira preferia discutir, debater, ir empurrando com a barriga as situações. Aumentaram o percentual da arrecadação para a Cultura? Deve ter sido de 0,5 para 1 ou 2% o que é vergonhoso. E outras e outras. Tomara que dê certo. Há uma movimentação forte de grupos de teatro de todo país que vêm se reunindo e traçando metas para apresentar à nova ministra.
No Pará, ainda não sabemos quem será o Secretário de Cultura, apesar de alguns nomes ventilados. Mas aqui, quem tem o nome "ventilado", é justamente queimado, alvejado por obuses de todas as direções. A curiosidade é porque pior do que está, não pode ficar. Após oito anos de um vendaval destruidor, veio Jatene e na última hora, também teve seus desejos frustrados, preferindo, então, fatiar o setor e destruí-lo ainda mais. No governo do PT, Ana Júlia conseguiu ser pior ainda, nomeando uma figura que lá esteve apenas para circular por todo o Estado durante quatro anos e se eleger deputado. Hoje temos um deserto, um nada negativo na Cultura. Se até agora ninguém foi anunciado, é porque também a Cultura não tem nenhuma importância. Nossos governantes continuam dando à Cultura e ao Turismo um tratamento absolutamente amador. E com isso, perdemos milhões. Pior, mesmo, é a questão da Cultura na Prefeitura. Estava lendo alguém elogiando a nomeação de Anna de Holanda para a Cultura, comentando sua passagem por Osasco. Dizia "o município é a primeira instância" do cidadão em relação à Cultura. E nesse instante, fico ainda mais triste. Ao longo dos últimos vinte anos, sei lá, nos acostumamos a xingar A Secretaria de Cultura do Estado. E no entanto, o município não promove nada de Cultura nos últimos 30 anos, talvez. Lembro de Paes Loureiro à frente da Semec, não era isso? É a volta às cavernas, a vitória dos boçais, com seus carros gigantescos, dvds sertanejos, porres homéricos, despejando suas necessidades num mar de lama que um dia há de engolir toda a Doca. Desculpem o mau jeito. Feliz Natal!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Jards Anet da Silva, ou melhor, da Selva

Acabo de assistir ao dvd "Jards Macalé - Há um morcego na porta principal", de Marco Abujamra, sobre a vida e obra de uma das figuras mais importantes da música brasileira, chamada Jards Macalé. Desagradável, antipático, grosseiro, boca suja ou ousado, brilhante, músico, arranjador, compositor, cantor, ator, performer dos melhores? Qual você prefere? Macalé está na base da revolução musical brasileira a partir do final dos anos 60. Seu violão, inicialmente, com Caetano, Gil, Bethânia e Gal. Aos poucos, foi participando de todos os famosos discos da Tropicália, como autor e arranjador. Por si só, surgiu em um Festival Internacional da Canção de cabeleira afro gigante, vestes africanas, cantando "Gotham City", protestando contra a revolução. Está ao violão e nos arranjos de Transa, o disco de Caetano no exílio. Faz "Movimento dos Barcos" para Bethânia. Faz cinema com Nelson Pereira dos Santos. Briga à morte com os baianos. Caetano, somente há poucos anos, no relançamento do Transa, reparou o erro cometido, quando o nome de Macalé foi omitido. E foi um álbum histórico. Gravou um disco genial, com capa de Helio Oiticica, ele vestindo os penetráveis. Dentro, ao lado de Lanny Gordin e Tutti Moreno, arrebenta em jazz, rock, mpb, funk, soul, maravilhoso, com suas letras belas, parceiros como Waly Salomão, puxa, o cara é demais. Nada aconteceu. Passa um tempo e ele vem com o sensacional "Aprender a Nadar" ou "A linha da morbeza romântica", onde acompanhado de grande banda mais orquestra, arrebenta em "Rua Real Grandeza" (sou um cara sem saída, mas não se iluda com essa minha vida) ou "Quando você passa dois tres dias desaparecida, eu me queimo num fogo louco de paixão), é rock, jazz, blues, mambo, bossa nova, simplesmente demais. Ainda gravou mais um disco para a Som Livre. Sumiu. Então resolveu entrar em uma linha Moreira da Silva, com quem fez vários shows. Há pouco tempo, outros dois discos, creio, maravilhosos. Um cara aparentemente difícil, já prometendo aos meninos que fizeram o documentário processá-los se não ficasse contente. Um malandro cheio de histórias para contar, passando dias e noites na beira de um bar, cervejinha e violão. Um cara que já iniciou com Bethânia no show Opinião. Gil está lá dando sua opinião. Hermínio Belo de Carvalho, Bethânia, alguns outros. Mas não sei se ficou bom, sabe? Eu queria saber mais, muito mais. "Meu nome é Jards Anet da Silva, ou melhor, da selva, ou pior, da Silva. Tem para alugar lá na Fox.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A caixa de Gal Costa

Foi somente há alguns poucos anos atrás, já bem maduro, que pude ter idéia da trajetória de Gal Costa, uma das maiores cantoras brasileiras, a qual acompanhei bem de perto. Saiu a caixa "Gal Total", idéia das fábricas para provocar os tiozinhos, público que ainda adquire cds, com a vantagem da remasterização do material. Com efeito, podemos ouvir melhor as gravações e até detectar evoluções instrumentais que antes estavam escondidas.
O que mais me chama atenção na carreira de Gal, é a impressão de ter sido marcada pela falta de um foco pessoal, algo que ela realmente queria. Gal, aparentemente, é dessas cantoras que não sabem a razão de cantar, o que realmente dizem as letras, ao contrário de uma Elis Regina. Há muitas.
Maria das Graças Burgos e Caetano Veloso eram muito ligados. O primeiro disco deles, na hoje Universal, foi lançado em 67, chamado "Domingo", bem joãogilbertiano, voz pequena, correta, arranjos limpos, feitos por Dori Caymmi, Roberto Menescal e Francis Hime. No repertório, além de Caetano, há Edu Lobo, Gil e Sidney Miller. Ali está a cantora, inteira, voz linda, límpida.
Mas então vem o vendaval do final dos anos 60, Tropicália, Janis, Hendrix, Beatles, tudo o que se sabe. E Gal surge em 69 como a diva da Tropicália, cabelos revoltos, roupas rock and roll e interpretação de Joplin. Os arranjos agora são de Rogério Duprat, Gil e Lanny Gordin. Um dos maiores discos da música brasileira. Tem Jovem Guarda/Tropicália em "Não identificado", guitarras com orquestras, timbres diferentes, uma dificuldade de mixar; "Sebastiana", com arranjo rock, Caetano, Tomzé, Roberto e Erasmo, Jorge Ben, maravilhosos. Tudo é moderno, transgressor, perfeito. Há "Saudosismo", "Se você pensa", "Divino Maravilhoso", "Que Pena" e "Baby", só para adiantar. E há Gal, gritando, esganiçando, excelente, super cantora. Agora, não é Gal e sim a Gal planejada, ensaiada, direcionada. Ela vai muito bem.
No mesmo ano, mas outra situação, Caetano e Gil exilados, ainda com arranjos de Rogério Duprat, mas agora com participação especial de Lanny Gordin e violão de Jards Macalé. Arranjos maravilhosos, econômicos, modernos, ousados, como "Cinema Olympia", "Tuareg", "País Tropical", "Meu nome é Gal", uau. No repertório, Caetano, Ben, Gil, Roberto e Erasmo e Macalé. Há um lado mais popular e outro onde se misturam canções mais políticas, mais áridas, mais rock and roll e Gal botando a voz Janis. Gal é Janis. Bem direcionada.
Em 1970 eu estava no Rio e a Rádio Mundial tocava todo tempo o "Legal", com uma capa absolutamente genial, feita por Helio Oiticica. Lanny Gordin e Jards Macalé são os principais arranjadores, mas há alguma orquestra com Chiquinho de Moraes. Duprat está fora. A Tropicália acabou. Mesmo assim, que show de arranjos, evoluções de bateria, baixo e guitarras, sopros. O repertório vem logo de "Eu sou terrível", de Roberto e Erasmo. Sim, eles estavam sempre presentes e sempre ótimos. Havia também Gil, Macalé, Caetano e Geraldo Pereira. Gil e Caetano exilados. Caetano mandou "London London "e "Deixa sangrar"(que apresenta o frevo baiano com guitarra elétrica). Há a música tradicional com arranjo elétrico, "Acauã", de Zé Dantas e o remake de "Falsa Baiana". Há "Hotel das Estrelas", cara, genial. Gal era a musa, a diva do pop. As dunas de Gal, em Ipanema, durante a construção de um emissário submarino. E novamente percebo que Gal é verdadeira somente no arranjo bossanovista de "Falsa Baiana". Amanhã escrevo sobre "Fatal", um dos mais emblemáticos discos brasileiros em todos os tempos.

The Wire

Até hoje creio ter acompanhado somente West Wind e Lost, das séries de tv. É preciso fazer uma opção, como, por exemplo, jogar futebol somente uma vez por semana. Há outros prazeres como assistir filmes, ler livros, namorar. E eu quero tudo. Com a opção feita, os horários são melhor utilizados. Meu filho comentou sobre The Wire, série aparentemente obscura, ao menos por aqui. Acreditei. Acabei de assistir as duas primeiras temporadas, na base de três episódios por dia, três horas direto. E são quinze capitulos. É realmente muito boa. O cenário é diferente, Baltimore, EUA. Os capítulos e temporadas seguem uma linha, de tal forma que um personagem da primeira, surge na segunda, encadeando uma grande história. Há um detetive, McNulty, irlandês. Beberrão, conquistador, em permanente litígio com a linda mulher e sofrendo por não estar com os filhos, é um excelente profissional. Por isso, odiado por companheiros que ao invés do risco de novos casos, vão levando com a barriga. Aos poucos, forma uma equipe, onde nem é o chefe. Policiais de diversas procedências, todos com qualidades e defeitos. E há muita coisa suja em Baltimore. Enquanto os casos vão razoavelmente resolvidos, as vidas e seus problemas acontecem. A oficial que vive com outra mulher, que engravidou propositalmente e que não suporta o trabalho de risco da companheira. Um assassino das ruas, cruel e honesto, que se vinga porque mataram seu namorado. Droga, droga, droga. Mulheres escravas de sexo. Jogo de poder. Está tudo lá. Assistam. Vou agora para a terceira season.

Antologia Pan Americana

Quero dividir com as pessoas que lêem este blog, a alegria pelo lançamento da Antologia Pan Americana, pela Editora Record, organizada por Stéphane Chao, após quatro longos anos de trabalho. Reúne autores contemporâneos das três Américas, incluindo escritores das Guianas. Dos que conheço, Margaret Atwood, do Canadá, Ugo Benedetti (recentemente falecido) do Uruguai, mais Luiz Ruffato e Marçal Aquino, brasileiros como eu, que surjo como que representando o Norte do Brasil. O convite veio após a leitura do livro "Um sol para cada um", da Editora Boitempo. Depois, creio que através da Bertrand, selo da Record, fui convidado para o livro "Todas as Guerras", quando houve um sorteio entre os convidados e tive a sorte de receber a incumbência de escrever um conto sobre a guerra entre palestinos e judeus. Daí rolou outro livro, lançado no Peru, com escritores contemporâneos brasileiros, deve rolar um no México e vem esta Antologia que me parece completa. Sinto um super orgulho de estar presente e em boa companhia. Penso na distância entre Belém e São Paulo, onde tudo se decide. Penso na diferença de cena, de atividade na área literária. Penso no mais absoluto desconhecimento dos paraenses em relação à minha obra, no momento em que subo mais um degrau e procuro trocar de pensamento. Dividir com vocês a alegria. O lançamento vem no momento certo em que me convenço a escrever literatura, ano que vem, após quase dois anos somente de teatro, todos os dias e noites. Recuperar meu ritmo de escrita. Juntar as anotações. O mundo está indo tão rápido. Será que lançarei em formato para iPad? Será que lançarei outro livro? Outros livros?

A Modern Sound vai fechar

A notícia saiu no Globo de hoje. Depois da Livraria Letras & Expressões, o Rio de Janeiro perde mais um point de cultura. A loja, que reinou desde os anos 70 como um ícone em discos importados, fecha as portas no dia 31. Últimamente, seu movimento estava bem fraco. Melhorava à noite, para lançamentos de discos em pocket shows em seu Café. Uma tristeza.
Conheci a Modern ali nos anos 70. Era uma mina de ouro para um garoto que saiu de Belém, onde entrava nas lojas procurando discos da Mahavishnu Orchestra e recebia olhares estupefatos dos vendedores. Não era tão grande. Mas lá encontrei "In the wake of Poseidon" e "Islands", creio, do King Crimson e entrei em pânico. Sem dinheiro, escondio-os na seção de discos infantis e voltei até minha avó para conseguir a grana. E lá havia também um garoto irritante, dizendo os nomes dos discos com acentuado sotaque britânico. O relacionamento se tornou profissional enquanto tive uma loja de discos aqui, a 33 1/4, na Brás de Aguiar e mandávamos buscar muitos discos importados. Mas o tratamento não era tão cordial. Os cariocas com algum poder, ficam quase insuportáveis de antipatia. Então, o cinema Caruso, creio, que ficava atrás da loja, na Barata Ribeiro, foi adquirido. A loja cresceu, ficou linda, grande catálogo, cds, dvds e o Café Allegro, sempre com um pianista e aos finais de tarde ou no sábado, dia inteiro, grandes músicos, alguns contratados, outros se divertindo, tocando maravilhas do jazz e bossa nova. Algo próximo do paraíso. Com o tempo, conheci todos os veteranos vendedores, fiz amizades. Um dia, sentindo a diferença do movimento, perguntei ao dono a respeito. Ele confirmou o perigo. Quem compra discos, hoje? Não digo Ivetes e Sangalos, mas discos de mpb, jazz? Somente adultos e cada vez menos. Não sustenta uma loja grande. Havia muitos turistas, sempre, mas agora, acho que até eles desapareceram. Uma pena. Uma catedral da boa música. Ali vivi grandes momentos, surpresas, alegrias. Estive na loja há uns vinte dias atrás. Foi minha despedida. Vai fazer uma imensa falta.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Amarga Dulce

Eu também sou fã de Dulce Quental e estive no Margarida Schivazappa assistindo seu show. Vivi minha adolescência nos anos 70 e na década seguinte, estava com uma rádio FM, Rádio Cidade, tocando todos os hits do que se chamou Rock B. Dulce surgiu com o trio Sempre Livre, tentativa da Sony em emplacar um grupo feminino. A rigor, teve apenas um sucesso, "Esse seu jeito sexy de ser" e acabou. Dulce fazia parte e foi autora da música. Então compareceu em parcerias com Paralamas do Sucesso e Barão Vermelho entre outros. Conviveu com Cazuza, Herbert Vianna. E lançou três discos solo. O primeiro deles, "Délica" é uma jóia do pop, casando voz charmosa, melodias, letras e arranjos primorosos. Apesar disso, pouca gente notou. Não sei se houve falta de empenho da gravadora, ou o temperamento esquivo da autora. Nada aconteceu. Veio "Voz Azul", mantendo a qualidade e novamente nada aconteceu. Houve mais outro disco, também ótimo e Dulce não apareceu mais, a não ser incluindo parcerias em discos de Barão e Paralamas, creio. Também andou escrevendo crônicas em sites. De repente, Luizão Dom King anuncia sua vinda.
Quando entrei no Teatro, percebi que aquela era uma verdadeira reunião de uma tchurma dos anos 80, todos conhecidos, jornalistas, músicos, atores, artistas plásticos, toda uma galera que no meio de todos aqueles hits percebeu Dulce Quental. Ou seja, Dulce já subiu ao palco vencedora, abrindo os braços, receberia aplausos. Estávamos todos saudosos, querendo cantar nossos hits, bater palmas, fazer carinho, reconhecê-la. Mas não. O show foi absolutamente esquizofrênico. Há versões diferentes dos motivos que a fizeram chegar aqui. Iria fazer outro show para uma Ong no Marajó. Viria, como disse, ano que vem, mas foi chamada por Luizão e não teve tempo para ensaiar. Acompanhada por baixo, violão e percussão. Muito bons os músicos. Dulce, nervosa. Abriu com musica de seu último cd, que quebrou ausência de alguns anos, "Beleza Roubada", infelizmente, muito fraco. Veio "Voz Azul", com voz fria, nervosa, sem alcançar agudos ou baixos. E após ser aplaudida carinhosamente, começou a desdenhar estar ali. "É, vamos fazer uma volta ao passado, um pouco, depois mostro minhas coisas novas". "Ah, tenho muitas coisas novas, estou em outra fase". "Puxa, como nós tocávamos e cantávamos mal antigamente. Essa música "Esse seu jeito sexy de ser", tem uma melodia linda, mas a letra, só não tenho mais vergonha porque chega a ser engraçada". E logo depois da platéia cantar junto, chorando. Em dado momento, pensou estar indo para a última música. Foi informada pelos músicos que ainda não era hora. "Olha, estou aqui em Belém por conta desse maluco do Luizão. Ele é quem é culpado". "Olha, quero dizer a vocês que sou uma compositora dando uma de cantora". "Olha, agora vamos terminar. São mais duas músicas e não tem bis". Errou música, pediu para voltar e tocar novamente. Errou mas continuou. Pediram pra tocar "Délica". "Não vai dar. É muito complicada. Olha, eu até tentei. Tentei novo arranjo e nada. Mas puxa, eu toquei muito, muitas músicas. Olha, escolham uma que eu já cantei no show. "Capuccino", tá, então vai ser essa". Isso aconteceu na hora do bis. A platéia batendo palmas, até que Dulce voltou. Na saída, aquela turma toda, maltratada, mas feliz. Não sei o que Dulce pensa de si. Se acha que é grande artista, ninguém sabe de sua existência. Seu último disco é ruim. Há outro, tomara que seja bom, vou comprar de qualquer maneira. Ela devia era montar esse show com todos os hits antigos e faturar algum com a galera saudosa dos anos 80. E, pior, não cantou "Pros que estão em casa". Amarga, Dulce..

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Uma casa chamada Celina

Leio no jornal que Marcílio Costa está lançando um livro com poemas inspirados em uma casa, no Mosqueiro, chamada "Celina", na qual, segundo o autor, morou Maria Lúcia Medeiros, mãe de Mariano Klautau Filho. É verdade. Maria Lúcia passou lá seus dois últimos anos de vida. Marcílio deve tê-la visitado muito e se sentiu inspirado pela casa e seu nome. Mas o que Marcílio talvez não saiba, embora nada disso afete o que deve ter escrito, pois as emoções são diferentes, é que a casa se chama "Celina", por conta de minha avó, Celina Paiva Proença. Que aquela casa, no Farol, abrigou a felicidade de toda uma família durante longos anos. O Mosqueiro está na base das minhas lembranças de infância e adolescência. A casa, também. Quando lá chegávamos, para as férias de julho, vindos no Presidente Vargas, com bagagens carregadas pelo "Sete" e no carro americano ou inglês do Seu Cecy, ela nos aguardava com um cheirinho de casa fechada. Com uma frente onde havia jardim com jasminzeiro, vinha logo um grande pátio. Houve pequenas mudanças no pátio, tornando-o maior. Uma sala grande, de refeições, uma suite, onde ficavam meus avós, dois quartos onde ficavam meninos e meninas e o quarto de meus pais. A cozinha, pequena, onde Biá se arrumava. Atrás, outro jardim, uma pequena casa onde dormiam as empregadas e a seguir, um longo quintal, que ia até a Estrada da Bateria. Um mundo. Nos quartos, íamos direto aos armários onde estavam brinquedos antigos, pranchas de "pegar jacaré", bolas de futebol. Levávamos amigos, amigas, virava uma festa. Uma vez Seu Rubem Ohana chegou com a kombi cheia de meninos e meninas do Chapéu Virado. Alguém botou discos e dançaram. Tinham a minha idade, mas eu era muito acriançado, ficava olhando meu primo dançando de menina em menina. Havia uma praça em frente onde, certa vez, dia de semana, meus pais, mais Celina e Edgar foram a Belém, eu me pendurei em um galho de árvore e fiquei pensando na vida, naquele lugar parado, sem trânsito, o barulho do vento nos açaizeiros, o paraíso Mosqueiro. No final das tardes, bicicleta, cair, ralar o joelho, esperar na fila que o Seu Harley Vieira passasse com seu kart e nos levasse para dar uma volt . E no pátio da "Celina", ficávamos conversando, cantando, ouvindo meu avô contar histórias, meu pai tocar violão, as visitas de final de semana, meu avô no portão, saudando quem passava para a praia. E no quintal, o campo de vôlei que meu praia e Seu Zumero construíram. A trave onde eu chutava para que Antônio Valentim pegasse a bola, fazendo o goleiro. E de repente o chamado para a merenda, banana com leite em pó, mais nescau, acho. O tempo a perder de vista. Acordar e ficar ouvindo, ao fundo, as ondas indo e vindo, o vento nos açaizeiros, as brincadeiras, o primeiro amor - será que ela está namorando comigo? Mas como se eu nem a pedi em namoro? O murmúrio de minha mãe e as empregadas, no dia de voltar para casa, bem de madrugada, deixando para nos acordar somente no momento final, esperar o ônibus ou Seu Cecy e ir até a Vila, pegar o "vapor". Tomar banho de chuva na lateral da casa, a cabeça debaixo do esguicho que vinha do telhado. Ah, "Celina", tantas emoções e alegrias passaste! Nós éramos cinco danados vivendo nosso aprendizado para uma vida inteira em brincadeiras, imaginação e felicidade. O tempo veio, crescemos, Salinas ficou na moda, nossos filhos fizeram sua escolha e a casa foi vendida. Sempre que vou a Mosqueiro, passo na frente, como uma reverência respeitosa. Que bom que continuaste a ser importante, viver novas vidas e agora, gerar livros. Quanta saudade!

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

As Copas no Brasil, Russia e Qatar

Nos próximos dias leremos comentários mais informativos a respeito da escolha de Rússia e Quatar como países sede das próximas Copas do Mundo. A escolha foi em Zurich, onde fica a sede da Fifa, esta entidade particular, com número de países filiados maior que a ONU e que passou a crescer assustadoramente após a passagem por lá de um certo João Havelange, que ao sair da CBF, no Brasil, deixou em seu lugar Ricardo Teixeira, casado com sua filha. Ao deixar a Fifa, deixou em seu lugar outro assecla e aos poucos, vamos chegando ao absurdo. Hoje, o que menos importa é o futebol. Há muito dinheiro envolvido. Para ir à África do Sul, quase inóspita para futebol, terra do rugby, bilhões foram gastos em estádios que, ou serão abandonados ou transformados para a prática do esporte mais popular. A imprensa local denunciou mas foi abafada. Aqui no Brasil, os mesmos absurdos, como reconstruir o Maracanã, desprezar o Morumbi, desprezar o Vivaldão em Manaus. Esse último, então, é um escândalo, pois o futebol local não existe mais. Ricardo Teixeira acaba de ser acusado de corrupção. E a Copa aqui nem começou. E na Rússia? E no Qatar? Se fizessem na Inglaterra, não gastariam quase nada em construção. Preferiram a Rússia, onde o futebol é disputado em época diferente, tendo em vista o frio que faz na maior parte do ano. Um país que enfrenta graves problemas entre ditadura, democracia e máfias. O ex-presidente Putin nem foi a Zurich. Disse, antes do resultado, que era um absurdo deixar a Rússia de fora. Um blefe, claro. E no Qatar? Quase ninguém vai aos campos, todos artificiais. Muito dinheiro. Isso deixando o esporte de lado. Falando nele, a Fifa nem quer saber, mas as Copas vêm perdendo interesse há muito tempo. Disputada no período de férias para os atletas da Europa, recebe seleções de craques milionários, estressados, machucados, cansados e que somente para atender contratos, algum patriotismo e prêmios, aparecem por lá. Ganham de seus clubes salários estratosféricos, mas são cobrados violentamente no físico e psicológico. Chegam à Copa arrasados. Copa do Mundo, mesmo, é a Copa dos Campeões, onde estão os grandes jogadores, no seu ápice, defendendo seus clubes. Até quando essa roubalheira irá?