segunda-feira, 31 de maio de 2010

O Homem Provisório

Quem foi, saiu deliciado. Quem não foi, que amargue prosseguir a vida sem mais um sopro de Cultura, tão bem vinda. Descemos tanto à barbárie, que mesmo os poucos que ainda manifestam alguma reação à Cultura, deixam de lado certos eventos, por pura preguiça. Através do patrocínio da BR Distribuidora, Cacá Carvalho apresentou "O Homem Provisório", um dos espetáculos da Casa Laboratório, que dirige, e é bancada pelo Governo de São Paulo e o Centro de Experimentação Teatral de Pontedera, Itália, com jovens atores. O tema é o universo de Guimarães Rosa, "Grande Sertão Veredas". O grupo passou 30 dias no sertão, convivendo com a população, dormindo no chão de casas de barro. O texto veio de sonetos tipo cordel, feitos por Geraldo, parceiro do reverenciado Patativa do Assaré. Houve preparação vocal. Não estou em mãos, no instante em que escrevo, dos nomes todos, mas posso dizer que o cenário de Márcio Medina é sensacional. O grupo é sensacional, físicamente bem preparado para realizar a coreografia a ser encenada. Cantam, dançam, representam. Daniel, que faz Riobaldo e Raquel, que faz Diadorim, são ótimos. Todos os outros, também. Joana, Juliana, a estreante Luana. Os rapazes todos. Disciplinados, corretos, exigentes, na medida. Agora estão em Santarém. Depois, vão a São Luiz. Quem perdeu, perdeu e continue na barbárie.

A Mentira Convicta

A bela e ótima atriz Fernanda Torres estreou como colunista na Folha de São Paulo, escrevendo sobre as próximas eleições. O título era Dom de Iludir. Hoje, quem disser a verdade, perde votos. Da maneira que o processo eleitoral se dá, com programas e entrevistas de tv, é preciso saber mentir com convicção. Os candidatos são treinados para responder as questões mais diretas. Mesmo a candidata da situação, que nunca chegou perto de eleições e tem por gênio, ser mal humorada e pouco espirituosa, agora tem sorriso permanente no rosto. Não consegue disfarçar seus "olhos vingativos", como alguém disse. Lembro de assistir trecho do documentário sobre a primeira eleição de Lula, onde uma equipe assistia a um dos debates enquanto tinha, em uma sala, grupo de opinião, que respondia o que Lula deveria dizer, ou seja, diga o que os eleitores querem ouvir, não importa se for mentira ou não. Assunto seríssimo, vira um grande blefe, um engodo, que vale bilhões, trilhões e os destinos de uma nação.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

King Crimson

Qual o tamanho do impacto estético em nossas vidas? Eu tinha 14, 15 anos de idade e havia Sargent Peppers, Jimi Hendrix, Janis Joplin e, de repente, vêm King Crimson, Emerson, Lake & Palmer, Yes e Jethro Tull. De uma vez. Roda tudo. Eu tinha 15 anos em 1969 quando ganhei, de aniversário, "In the court of Crimson King", primeiro disco desta que considero a melhor banda do mundo. A capa, com um close total de um desenho, uma careta espantada, talvez defina a sensação após ouvi-lo. Robert Fripp, o guitarrista fundamental, era o líder. Greg Lake, que depois foi para o ELP, tocava baixo e cantava. Ian McDonald nos teclados e flautas, Michael Giles na bateria. A primeira música, um verdadeiro hino daquilo que se chamou "rock progressivo", se chama "21st Century Schizoid Man". Uma parede sonora explode, como que tocando um heavy metal, arrastado como "Iron Pigs", do Black Sabbath. E de repente vira um jazz, tocado com guitarras que guincham, mellotrons como saxofones, gritando, duelando, baixo solando, baterista virando, quebrando tudo, improvisando, os vocais espremidos, guinchados, também, até, ao final, voltar ao heavy metal, acelerar e terminar tudo como em free jazz. E ainda estamos no vácuo daquela parede sonora quando vem uma flauta doce, com piano, anunciando "I Talk to the Wind", belíssima, todos solando de maneira suave, harmonia total, vozes, instrumentos, bateria, todos tocando, docementebem pastoral, estimulando um jazz final, suuuuuper melódico. Uau, que impacto. Deixa os pelos arrepiados. Que época maravilhosa. Rock, folk, erudito e jazz, tudo misturado. É que comprei, demorou, mas chegaram, novas mixagens, feitas por Fripp, de "In the Court..", "Lizard" e "Red". Faltam outros. Estou pesquisando. Nem é saudade. O impacto continua o mesmo. Que bom.

Ensaios

Imaginem o que é ensaiar dois espetáculos diametralmente opostos, ao mesmo tempo. Pior, imaginem não ser um diretor de teatro e ser chamado para dirigi-los. Pior ainda, imaginem que os elencos são formados por grandes atores locais. É de pirar. Está acontecendo comigo. Primeiro, em relação à comédia "As Gatosas", que reúne atrizes com mais de 50 anos de idade para comentar suas impressões. Uma mulher de 50 anos, hoje, é muito diferente das mulheres, na mesma idade, trinta, quarenta anos atrás. Muito diferente. E então temos Sandra Perlin e Sonia Alão, tão amigas, brilhantes, bacanas. Temos Olinda Charone e Vera Cascaes, a primeira, nem é preciso dizer. A segunda, convidei com a idéia de lhe sugerir dividir comigo o texto, tendo por base as espirituosas crônicas que publica uma vez por semana no Liberal. Foi tão bom que Vera, audaciosa, fará sua estréia no palco. Reunimos para conversar. Uma vez por semana. Dessas conversas, surgiu o texto, com enorme participação de Vera. Elas se uniram, viraram amigas de sempre, adoram reunir e fazer. Dependemos da saída do prêmio que o espetáculo ganhou, da Secretaria de Cultura do Estado, intitulado "Cláudio Barradas". Infelizmente, isso está atrasado e deixando muita gente aborrecida. Estamos ensaiando, mas sem dinheiro para o que o orçamento aprovado seja gasto com cenários, figurinos e outros. Uma pena.
A outra é "Sem dizer adeus", prêmio Myriam Muniz, da Funarte, baseado livremente no livro "Eu e as últimas 72 horas de Magalhães Barata", escrito por Dalila Ohana, sua companheira de últimos dias, obrigada, pelos mais estapafúrdios argumentos a se retirar de sua casa, não estando ao lado de seu companheiro que morreu chamando por seu nome. Conta com Zê Charone e Cláudio Barradas, repetindo a mesma dupla de "Abraço". Essa já começamos as leituras de mesa. Cacá Carvalho vai dar uma ajuda, graças a Deus. Temos algumas idéias. Talvez possamos estrear em agosto. Tive alguma dificuldade em chegar ao texto atual. Mas achei a saída. Os dois atores são ótimos. Estou com a cabeça tinindo. Mil idéias. As duas peças brigam pela primazia. Sensações maravilhosas. Mas, sinceramente, espero logo poder retornar aos livros que aguardam ser escritos, impacientemente.
Um detalhe: tomara que seja apenas mal entendido. Meu filho foi à Fumbel tentar agendar uma visita do elenco ao Memorial Magalhães Barata, ali em São Braz. "Não, acho que esse Museu é do Estado", disseram. Não. Falei com Raimundo Pinheiro, que me passou para Fernando Martins. Botei um ofício na Fumbel. "Escuta, esse Museu não é da alçada da Sema? Ela é quem cuida daquela praça..". Não, é um Museu, cara, deve ser Fumbel. "Eu vou me informar e te ligo de volta". Joaquim de Magalhães Barata se revira no túmulo! Como esquecemos tão rápido!!

Seminário de Dramaturgia

Compareci, com muita alegria, a uma das noites do Seminário de Dramaturgia, promovido, na Escola de Teatro da Ufpa, por iniciativa da professora doutora Bene Martins, homenageando Nazareno Tourinho. Foi uma noite em que eu, Nazareno e Hudson Andrade relatamos nossa experiência como escritores. Logo que cheguei, uma notícia muito auspiciosa. Zefa, que trabalha na Biblioteca, está fazendo pesquisa sobre textos teatrais paraenses e pede informações sobre textos escritos e encenados por meu avô, Edgar Proença. Quanta alegria. Tivemos, cada, vinte minutos para falar. Acabei me atrapalhando em relatar a minha carreira, já com quase 40 anos de estrada. Eu queria explicar o processo. Como escrevo. O tempo que levo. Mas até que disse, ou não disse, sei lá, porque a cada texto, há uma nova aventura, principalmente nos últimos tempos, com o Teatro Cuíra. Há um vácuo muito grande entre a Escola de Teatro e nós, dramaturgos. Deveríamos ser chamados com mais constância. Ser entrevistados. Fazer debates. Sem texto, como fazer uma peça? Vejo muito que adaptaram de tal livro. Vou assistir e percebo, claramente, a falta de um dramaturgo. E não formam dramaturgos? Fiquei muito feliz em ter estado lá.

Nós e Dunga

Todas as seleções saíram do Brasil para a Copa não exatamente em lua de mel. Mesmo Telê, que dirigiu a inesquecível seleção de 82, sofria até com Jô Soares, que gritava semanalmente "bota ponta, Telê!". É que, achando lugar para Zico, Sócrates, Falcão, Cerezzo, não havia nenhum ponta direita, na época, uma posição ainda existente. Bem antes, Coutinho botava laterais na ponta direita, querendo o que hoje qualquer meia faz, no esquema 4-4-2. Mas sempre depende dos jogadores que se tem. Assim se escala uma equipe. Quanto a Dunga, há uma brutal distância entre aquilo que um técnico profissional, com uma carreira, um nome a zelar e, principalmente, com o sonho de ganhar uma Copa do Mundo, e o que nós brasileiros, achamos que a seleção deve ser. Nós, brasileiros, queremos uma seleção que nos represente. Que represente o que consideramos o futebol ideal. Malandro, rápido, desconcertante, elegante, bonito, cheio de dribles, jogadas bonitas e claro, vitorioso. Para nós, esse é o futebol brasileiro que nos orgulha. Uma distância brutal para o que um técnico pretende. Imaginem Dunga, que nem é treinador. No caso específico, ele foi contratado para repor no lugar algo que hoje já soa meio estranho em seleções. O amor à Pátria. Já escrevi sobre isso em outra postagem. Nossos jogadores, quase 100% jogam fora do Brasil. Passam o ano correndo e chutando bolas nos mais diferentes países. Quando chega a Copa do Mundo, também é um torneio, mais um torneio, o top de linha, para suas carreiras, com grandes premiações. Amor à Pátria? Não tem nada a ver. Patriotismo é outra coisa. O que ocorreu na Copa passada foi muito pior. Jogadores milionários, encararam com pouco profissionalismo o torneio. Deu no que deu. Dunga quer patriotismo. Acho ridículo. Mas que ele consiga reunir atletas interessados em fazer seu nome, ganhar prêmios e claro, dar ao Brasil a Copa, já é ótimo. Dunga não quer perder. Nenhum quer. Mas é um profissional dizendo isso, não um torcedor que pensa primeiro em ganhar. Ele, pensa primeiro em não perder. Como volante marcador, cansado de levar dribles, tem ojeriza aos craques. Se enche de marcadores e deixa uns dois à frente. Muitos fizeram assim. Felipão foi campeão. Todo mundo atrás e na frente, Rivaldo e Ronaldo, além do Gaúcho. Ele leva uns sete volantes. Acredita neles. Sabe que volantes compreendem, mais do que todos, a necessidade de marcar. Mas fica limitado. A seleção de Dunga joga no contra ataque. Mas quem atacará o Brasil? Talvez mais à frente, se passar. A dificuldade virá quando Kaká não encontrar espaço para o contra ataque, por exemplo. O adversário estará todo atrás. E aí? Gostaríamos que a seleção jogasse como o Barcelona. Como a própria seleção espanhola, que joga bonito, trocando passes, marcando à frente. Nem pensar, para Dunga. Ele prefere ganhar como a Internazionale ganhou a tríplice coroa, todo na defesa. Vou assistir. Gosto de futebol. Sou brasileiro. Espero que dê certo. Mas, como todos os brasileiros, não me considero representado pela seleção escalada.

A Paradinha

Sim, sou à favor da Paradinha, aquele mis an cene que o cobrador faz, no momento de bater o penalti, forçando o goleiro a precipitar-se, sendo deslocado. Mas, cabe uma explicação. Para mim, o futebol é o melhor esporte do mundo. O mais justo. Que, de alguma maneira, reproduz situações da vida. E a questão da vida é a questão da ética. Melhor ainda, para o futebol. Os que são contra, dizem que é muita humilhação para o goleiro. Que além da magnífica oportunidade de fazer o gol, ainda executam aquela "dança" maligna. Vou primeiro para o que é conhecido. Penalti, é a penalidade máxima do futebol. Cometida dentro da área, de maneira clara, impede que seja feito o gol. E o futebol é gol. Impedi-lo é coisa séria. Terrível. Por isso, é marcado aquele tiro livre, dando uma mínima chance ao goleiro. Afinal, já deveria ter sido gol, o que foi evitado de maneira fora da lei do jogo. Mais ainda. Nos últimos anos, com o desenvolvimento físico dos atletas, os goleiros, além de chegarem aos dois metros de altura, também demonstram grande flexibilidade, agilidade, rapidez, diminuindo as chances daquele cobrador de penalti, sim, eu sei, ainda com um espaço enorme, de sete metros e tal, para chutar. Aí, vem o que considero básico para minha opinião. A bola somente entra em jogo após girar em sua própria circunferência. Portanto, antes disso, mesmo que o jogador ponha o pé junto a ela, bem próximo, não a tocando, ela não está em jogo. Proibir que ele faça isso é proibir que, em qualquer cobrança de outra falta, sequer possam, aqueles dois ou três jogadores, fazer menção do chute, passando por cima da bola, até que um venha e a execute. Proibir que o goleiro leve alguns segundos a mais para chutar um tiro de meta. Agora, aí vem a questão da ética e para isso, há um juiz. Não é possível para o cobrador, chegar junto à bola e ficar a executar arabescos, truques, passos de tango e não fazer a cobrança. Para evitar isso, temos o juiz. Questão de ética. Engane, finte com o corpo, mas faça a cobrança. Ainda mais criativo é aquele penalti inventado pelo Djalminha, onde faz menção de chutar forte e toca de leve, por baixo, tipo balãozinho, no meio do gol, feito em câmera lenta.
Mas impedir a Paradinha, não. Achar que ela humilha o goleiro, também não. E achar que o penalti é demais, também, não. Embora a instrução da Fifa, tipo "na dúvida, pró gol", o que vemos, em todo o mundo, é justamente o contrário. E futebol é gol. Paradinha, sim.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Os 90 anos de Edyr Proença

Fernando Jares Martins é um velho amigo que escreveu em seu blog, magnífico, esta homenagem pelos 90 anos de meu querido pai.
Obrigado, Fernando. Está lindo.

NO LEQUE DE ESTRELAS


90 ANOS DO CANTOR DA CIDADE SESTROSA

"Há muito que aqui no meu peito
Murmuram saudades azuis do teu céu
Respingos de ausência me acordam
Luando telhados que a chuva cantou
."

Você conhece essa música? Já até leu no ritmo? Essa é a melhor homenagem que podemos fazer ao autor: Edyr Proença.

Da minha geração todos conhecem Edyr Proença, pelo menos “de voz”. Das gerações seguintes muitos, mas muitos mesmo, o conhecem de voz, de escritos, de músicas, de filhos.

Hoje faria 90 anos Edyr de Paiva Proença, jornalista, letrista, compositor, advogado, escritor, bancário, cronista, radialista, pai do Edgar Augusto, do Janjo, do Edyr Augusto, amigos e colegas com quem já trabalhei. Infelizmente Edyr se foi em 1998, deixando um rastro de competência, de amizades, de reconhecimento.

Sua grande marca popular foi como radialista, pioneiro na Rádio Clube do Pará, filho de Edgar Proença, um dos criadores da emissora – que é a quarta mais antiga do país. Narrador esportivo e, depois, comentarista muito respeitado. Quantos jogos o ouvi comentar, desde antes de eu imaginar, um dia, ser radialista – na mesma rádio que me acompanhava desde a infância.

Mas não é menos conhecido como compositor: autor da música de um dos maiores clássicos que canta o viver pelas ruas de Belém – “Bom dia, Belém”, (a desse trechinho aí em cima), com letra de sua cunhada Adalcinda Camarão. Esta é, provavelmente, a música paraense com maior número de gravações. E todas ótimas, porque as pessoas cantam não apenas com a voz, mas também com a alma e com o coração. Você quer ouvir? Então clique aqui, para acessar, no site do BregaPop a versão com o próprio Edyr Proença, Fafá de Belém, Leila Pinheiro, Edgar Augusto e Jane Duboc. Vê só que time fantástico? É pra quem merece!


Escrevo e ouço diversas de suas criações, em um CD produzido pela UFPA, em 1993, que leva o nome do autor, e reúne muita gente boa na interpretação, como Walter Bandeira, Nilson Chaves, Maca Maneschy, Edgar Augusto, Lucinnha Bastos, Almirzinho Gabriel. Deste CD não tenho o libreto, comprei-o já assim, degolado, mas com a beleza da composição integral, em uma Feira do Livro. Consegui informações das faixas na internet, inclusive uma capa, autografada para seu grande amigo e também compositor, Almir Morrison. Depois vou ouvir o “Clube do Camelo”, uma turma de amigos talentosos e onde ele participa em algumas faixas.

Dele registra Vicente Sales, em “Música e Músicos do Pará”, a grande enciclopédia de nossa melhor produção musical:

Sempre gostou de dedilhar o seu violão e cantar em serestas, produzindo uma e outra canção sem compromissos formais. Escrevia versos para outros musicarem. Durante algum tempo fez parceria com o pianista Guiães de Barros. A dupla produziu: Fracassada, Adeus, Saci Pererê, Roguei, Maria Rosa, Mademoiselle Cinema, Minha Negra, João Ninguém e outras. Um dia o filho Edyr Augusto apresentou-lhe uma letra para que musicasse. Assim, nasceu “Amor Perfeito”, e a situação quase se inverteu, tornando-se EP também criador de melodias. Com Edyr Augusto produziu para o carnaval de 1976 o samba-tema “Cobra-Norato, Pesadelo Amazônico”, apresentado pelo Império de Samba Quem São Eles. Para a mesma agremiação carnavalesca, compôs músicas exaltativas, destacando-se sua parceria com J. J. Paes Loureiro em “Barca da Nostalgia”, 1974. Participou de outro concurso interno do Quem São Eles com “Largo de Nazaré, fantasia do passado”, com Edyr Augusto, carnaval de 1976, e, no ano seguinte, participou do Festival Três Canções Para Belém. Ganhou a 4ª colocação com “Bom dia, Belém”, letra de Adalcinda Camarão, gravado por Edgar Augusto no disco do Festival, por Fafá de Belém e por Leila Pinheiro. No carnaval, integrou a Ala de Compositores do Quem São Eles, com parceiros como Edyr Augusto, António Carlos Maranhão, J. J. Paes Loureiro, Lauri Garcia, Alcyr Guimarães, Alfredo Oliveira, David Miguel e Ronaldo Franco, participando ainda da criação dos sambas “Pai D'Égua”,” O Escambau do Comendador Sobral”, “Waldemar Henrique, o Canto da Amazônia” e “Preamar, cultura do Pará”. No carnaval de 1978, o grande sucesso foi a marchinha “Cala-te boca!”, que fez de parceria com Ruy Guilherme Barata. Eleny gravou “Presença”, com letra de Celeste, sua mulher; o Grupo Oficina e Lucinha Bastos gravaram “Meu Pajé”, de parceria com Ruy e Paulo André Barata”.

Fiquemos com estes versos de amor a sua terra natal, a cidade morena, que Edgar Proença cronicava, que Edyr cantava, que um dia, nas mãos dos filhos, virou nome de rádio:

Belém que é morena sestrosa
Recendendo a baunilha e jasmim,
Que às vezes se faz de dengosa
E passa fingida diante de mim.
Você que é toda a cidade,
Cidade Nova, Largo da Sé
É Santa, é Senhora, é Maria,
É Belém, que é Nazaré.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Uma nova Copa do Mundo

Escrevi este artigo para a Copa de 2006. Vejam se o tema não continua atual. Por isso, mantive até as referências aos jogadores e clubes daquele momento.


Antes que você pense que sou doido ou, quem sabe, um espião, sei lá que mais, adianto que sou normal. Na Copa do Mundo, torço pelo Brasil. Até visto a camisa, grito quanto sai gol. Também não discuto com ninguém a respeito de não sermos, como está garantido por todos, penta campeões, em busca do hexa campeonato. Quem ganha duas vezes seguidas, é bi. Três vezes, é tri. E assim por diante. O Brasil é bi campeão mundial (Suécia 58 – Chile 62), embora já tenha conquistado a Copa do Mundo por cinco vezes. Você deve estar me achando, no mínimo, impertinente. Então, tudo bem. Não quero atrapalhar a comoção nacional. Mas é que de vez em quando o cérebro lembra da razão e adverte. Não estrague sua festa, mas guarde a informação para si. É bom.

Estávamos reunidos, aguardando a hora de começar uma pelada. Na televisão, um jogo da Taça dos Campeões, ou algo assim, na Europa. Em campo, mais de dez jogadores brasileiros, vestindo camisas de Milan e Lyon. Foi ali, com os olhos grudados na tela, que comecei a dizer algumas coisas. Aos poucos, meus amigos foram virando as cadeiras, deixando de lado os lances de Kaká e participando da discussão.

A Copa do Mundo, que teve no francês Jules Rimet um de seus maiores patrocinadores, foi criada inicialmente para ser uma festa de congraçamento entre esportistas europeus, chiquérrimos. Mais tarde, o Uruguai, com influência britânica, resolveu sediar. Poucos vieram à América do Sul. Guerra, pós Guerra, essas coisas. O Brasil, vizinho, foi. Imagino que após os jogos havia banquetes, bailes, tudo muito romântico e bonito. O mundo foi mudando. O futebol, também. Atletas substituíram dandys. Homens de negócio substituíram Rimets. Já em 1970, quando o Brasil venceu a Copa do México, o futebol já era um grande negócio no mundo. A tv mexicana ganhou dinheiro. Mais ainda com a transmissão dos jogos. Jogadores foram valorizados. Mas uma Copa do Mundo ainda era, essencialmente, um encontro de nacionalidades. Encontro de escolas de futebol. Havia os russos, com suas táticas cerebrais. Os alemães e seu jogo sério. Ingleses e sua fleugma. Brasileiros com sua alegria. Um grande encontro. Antes da Copa, os jogadores deixavam seus clubes e passavam de um a dois meses treinando. Vestir a camisa nacional era um orgulho. Um brasileiro entrar em campo e enfrentar um russo. Se olhavam com até curiosidade. Para nós, ganhar a Copa significava um desagravo às distancias para o Primeiro Mundo. Mostrava que em alguma coisa, éramos superiores. O mundo nos admirava. No futebol, estávamos em primeiro lugar. Saíamos da cozinha para a sala da frente.

Hoje mudou. A globalização veio e transformou tudo. Futebol é um dos maiores negócios do planeta. Transmissões por satélite colocam em nossas casas, aos domingos, por exemplo, jogos desde as dez da manhã, da Itália, Inglaterra, Alemanha, França e Espanha. Vende-se tudo. Até a bola. Camisas, calções, chuteiras, meias. O uniforme do juiz. Por causa de nossa fragilidade econômica, Europa, África e Ásia vieram e levaram nossos melhores jogadores. Levaram e continuam levando crianças que se destacam em brincadeiras de rua. Inglaterra, Itália, Alemanha, França e Espanha formam no primeiro pelotão de países que levaram nossas estrelas. Rússia e Japão também chegam próximos. Como resistir? É muito dinheiro, a maior parte direto para o bolso dos dirigentes que enriquecem pessoalmente e empobrecem os clubes que dizem amar. Quanta mentira.

Então ligamos a tv para assistir Real Madri e Barcelona se enfrentando. No Real, Cicinho, Roberto Carlos, Julio Batista, Robinho e Ronaldo. Todos da seleção brasileira. No Barça, Beletti, Edmilson, Silvinho, Thiago, Ronaldinho e até Deco, brasileiro revelado no futebol português. Estão todos na Europa. Aqui, apenas veteranos, alguns que foram e voltaram, jovens loucos para ir e os ruins, que ninguém quer.

Mas estávamos falando de Copa do Mundo, certo? Seguindo o espírito do grande encontro das diferentes escolas, não há como chegar a lugar algum. O futebol europeu, com algumas pequenas características, está automatizado. As raras diferenças ficam por conta de algumas jogadas aéreas na Inglaterra, brutalidade na Alemanha, defensivismo na Itália e arte na Espanha e França. No mais, um jogador que se transferir da Espanha para a Itália, sentirá pouca diferença, sobretudo nos esquemas táticos. E chega no momento da Copa, essa legião estrangeira, formada por muitos brasileiros e outras nacionalidades, retorna a seus países com pouco mais de duas semanas para treinar e constituir sua seleção. O calendário não deixa mais tempo. Os clubes é que mandam, com justa razão. A Copa é uma festa da Fifa, não dos clubes. Esqueça o patriotismo de que é revestida nossa torcida, insuflada por uma onda monumental de propaganda. É um grande negócio. Bilhões. Ganham em tudo. Estamos chegando próximos do ponto a que desejo chegar. Em campo, ao invés de patriotas com a camisa nacional, temos atletas calejados, experientes e, sobretudo, milionários, ganhando mais uma fortuna para entrar em campo. Se forem campeões, muito mais. Por isso, considero hipocrisia cantar o hino nacional antes dos jogos. É uma representação, creio, dos tempos medievais, quando antes das batalhas se cantavam hinos para encher o peito de orgulho e morrer feliz. Pode ser que nas primeiras Copas e demais competições, em outro tempo, fosse parte da cordialidade, do grande encontro ao qual me referi. Hoje, é hipocrisia. E na maior parte dos jogos, de cada lado, atletas que durante todo o ano se encontram em jogos de suas equipes, seja em campeonatos locais ou nas taças européias.

E vem a pergunta: Se a Copa deixou de ser o grande encontro. Deixou de ser a reunião de escolas diferentes. Se para assistir nossos principais jogadores, tomando por exemplo o Brasil, temos que ter tv a cabo e torcer para Real Madri, Milan, Arsenal, Lyon e outros. Se a Copa do Mundo é uma competição do futebol que se joga nos países, porque não são seleções formadas pelos melhores atletas que jogam naquele país, deixando de lado a questão da nacionalidade? Não me bata, não me xingue, gosto do Brasil, torço na Copa e quero ser hexa!!! Mas pense bem. Sem hipocrisia, é a verdade. E se tivéssemos de ir para a Alemanha com uma seleção dos atletas que estão aqui, creio que Tevez seria nossa estrela.. E daí? Argentinos teriam um ataque, quem sabe. A seleção inglesa teria uma mistura de africanos, alguns franceses e até brasileiro, bem como alguns britânicos. A mesma coisa na França. Agora, o jogo entre Itália e Espanha, seria bem legal de assistir. Só brasileiros em campo. Desculpem, somos os melhores. Mas seria sem hipocrisia. Se correríamos o grave risco de não ser mais hexa? Claro. E daí? Nós nunca seremos hexa, de verdade, não é? Podemos conquistar a Copa do Mundo pela sexta vez, isso já sabemos. Mas assim, em campo, teríamos a verdadeira representação do futebol que é jogado nos países, ainda que as seleções européias fossem influenciadas pelos brasileiros, por exemplo. Ainda que nossa seleção tivesse jogadores considerados inferiores aos brasileiros atuando por Itália e Espanha, por exemplo. Pois é.

Após as primeiras manifestações de revolta, daqueles que falam primeiro e pensam depois, a discussão com meus colegas foi ficando mais inteligente. Não tivemos tempo de terminar. Na tv, o jogo acabou e nossa pelada ia começar. E você, o que acha?

A Nova Ordem

Não diria que é tudo culpa nossa, mas estamos envolvidos, sem dúvida, nessa “Bomba Z”, que era citada em um dos últimos discos do cearense Ednardo. No mínimo porque votamos, muitas vezes movidos por raivinhas, contra nós próprios, apenas para não permitir que aquele outro vencesse. E é absolutamente paraense o “morremos abraçados, mas se não for eu, nenhum de nós vencerá”. Temos um país com enormes condições de se tornar uma potência do futuro, mas em função de toda essa incompetência e maldade, nosso povo, nossa juventude, nossas instituições, nossa infra estrutura, nosso caráter, representado em Brasília, é uma vergonha. Quando focamos o Pará, Belém, por exemplo, tudo fica ainda pior. Batemos tanto no peito dizendo-nos patriotas, ufanistas mas é mentira. Sabemos que somos maus mas preferimos dizer que é implicância do Sul. E confundimos hospitalidade com complexo de vira lata, ao recebermos as visitas com tantos mimos, suplicando para que digam as palavras mágicas: como aqui é lindo! Como a vossa comida é gostosa! E por aí, vai. Chegamos a incomodar visitantes com excesso de mesuras. E como sabe, quem se abaixa muito, deixa o .. à mostra. Sem Educação e Cultura, afundamos no poço da ignorância. Quero chegar aí. Quero defender a idéia de um “recuo para a floresta”. Um recuo na civilização. Uma reinvenção da civilização, que mistura o retorno aos procedimentos mais antigos, à adaptação a qualquer custo, das últimas tecnologias que por aqui chegam. Um caboclo, em uma loja de informática, lendo as instruções, com maioria de palavras em inglês técnico. Nós, da classe média, não temos idéia da grande Belém que se expandiu descontroladamente, junto ao descaso absoluto das autoridades. Nós da classe média, somos diariamente atacados, caçados, ameaçados, não somente por ladrões, lado terrível da falta de emprego, esperança e violência, mas sobretudo por essa Nova Ordem que cresce à nossa volta, a despeito de nós, que temos TV a cabo, computadores, viajamos e vivemos algo bem próximo da civilização que se verifica em cidades de pleno desenvolvimento.

Autoridade

Vivemos um momento em que as autoridades desapareceram. Transformaram-se em mundo à parte, onde grandes roubos são operados. Onde está o prefeito? Onde estão os vereadores? Tenho uma amiga que mora em invasão de Icoaraci. Autoridade, lá, é o traficante da área. Para entrar ali, precisa ser amiga, moradora. E quando há alguém doente, deixa entrar o taxi para levar ao PSM. O chefe indígena local. De volta à floresta.

Educação

Professores que não sabem sequer falar. Ouvi a história de uma menina, que decorava o texto para o teste de leitura. Tecnicamente, não sabe ler. E se conseguir, não conseguirá explicar o que leu. A Nova Ordem tem um dialeto próprio, completamente diferente do português. Como uma língua indígena, na floresta. Não é somente o "pra mim ir", "pra ti fazer". Há outras expressões que não entendemos.

Transformação

É uma civilização de transformação. Aquilo que ontem era uma placa de propaganda do cartão Mastercard, com uma mulher linda, sorrindo, hoje é o telhado do barraco lá da invasão. Calçadas, ruas, saneamento, iluminação pública, não há nada. Uma espécie de floresta toma conta, sem arruamento, qualquer organização. Cada um vira a casa para onde bem entende. Estamos na floresta. Não há leis, organização, nada.

Cultura

E o que é a Cultura? A TV ligada o dia inteiro, não na Rede Globo, como o Ibope colhido em São Paulo quer dizer. Está ligado ou no SBT ou Record, este, por força de religião. Uma questão, sobretudo de estética, criando mocinhas que se vestem como prostitutas, desde cedo. Cultura de programas de auditório, onde o que interessa é levar vantagem. O rádio também, ligado em programas policiais, berrando a todo instante que pegaram, por exemplo, o vizinho em flagrante, enquanto os outros ouvem, deliciados, antes ele do que nós.. E a música, hoje o tecnobrega, cada vez pior, pois os jovens dominam os programas de computador, sem saber sequer como funcionam e ali vão compondo pequenas quadras, de linguagem lasciva, a voz da cantora em rotação alta, tudo agudo, tudo beliscando, mordendo, colorido, gritando sua pobreza, imoralidade, sua falta de tudo. Já não importa mais saber cantar, tocar, compor melodia, escrever versos. São quadrinhas lascivas, cantadas aos berros, como a propagar a violência verbal, agredir a ordem, a simetria do nosso mundo. Sou cretino e tenho orgulho!

Saúde

É uma agressão inadmissível passar em Postos de Saúde e encontrar pessoas tristes, doentes, esfomeadas, aguardando para serem tratadas com violência, grosseria, ou nem serem atendidas. São humilhações diárias, como as que sofrem aguardando em paradas ou dentro de ônibus, feito sardinha, apertadas.

Saneamento

Que cidade é essa com tantos e maravilhosos espigões, adquiridos ainda na planta, e ao mesmo tempo, sabemos, pouco mais de 10% da urbe conta com serviço de esgoto? Desamor total. Moram em castelos mas ao botar o pé na rua, pisam na lama, ou passam direto para seus carrões monumentais. A cidade que se foda.

Transporte

A Nova Ordem, nos leva de volta à floresta. Lá não há ruas, mão e contramão, estacionamento, fila dupla, acostamento, nenhuma lei a não ser a do mais forte e mais esperto. Os mais pobres compram bicicletas. Andam na contramão em avenidas de alta velocidade, levando crianças à garupa e um ar zen. Alguns, mais aborrecidos, querem agredir se algum carro lhes atrapalha a passagem. Pior são as motocicletas. É a volta à floresta, mas com cavalos, no melhor estilo bang bang. As motocicletas não obedecem nenhuma lei. Nas invasões, atravessam quintais, calçadas, fazem o que bem entendem. Não usam capacete, nenhuma proteção. Há uma certa zombaria em relação às leis. Questão de postura. São os centauros. O capacete é utilizado apenas quando são enviados da morte. Chegam na frente de qualquer um e atiram. Morrem às dúzias, todos os dias. E as vans? É preciso destruir o sistema de transportes. Ônibus que têm linhas definidas, paradas definidas. As vans derrubam todo o conceito. É a Nova Ordem que visa desorganizar tudo e fazer valer a vontade de quem quer fazer, onde quiser fazer. E por isso, mijam em qualquer lugar. Como na floresta. Atrás de uma árvore ou arbusto. Os homens tiram o bilau e mijam.

Ruas

Que ruas? Onde haviam, estão tomadas de camelôs. Que se lixem aqueles que pagam impostos, empregados, água, luz, telefone, sei lá que mais, para ter seu negócio. Os camelôs querem, justamente, o melhor pedaço. Na aglomeração, fecham a rua. E fica como um bosque, ou floresta fechada, onde caminhamos lentamente, desviando de árvores/camelôs, oferecendo de um tudo. Ônibus? Ocupam todas as paradas. Pior, retirados, são as próprias pessoas a recusar permanecer na calçada, aguardando, preferindo invadir a rua. Queixem-se ao Bispo. É preciso desorganizar para a Nova Ordem imperar.

Comércio

Filmes, CDs, tudo é pirata. Tudo tem outro tipo de procedimento, artesanal, sem impostos, controle, nada. Tudo tem utilidade efêmera. E tudo fica abafado, como é sob as árvores da floresta amazônica. O progresso é lento, sendo abalroado por todos os lados com ofertas. Um dia desses, fui à Ótica Pará, quase na confluência da Santo Antonio com Presidente Vargas. Deve ser um exercício e tanto manter uma loja dentro de um padrão razoável, com mercadorias de qualidade, preço alto, cercado por camelôs de todos os tipos, gritando, manchando, maltratando, agredindo o comerciante, com a Nova Ordem.

Tecnologia

É algo muito interessante pois, absolutamente alheios ao domínio da Língua Inglesa, mas através da experimentação, acabam criando outras maneiras de utilização, o que se verifica na música, nos vídeos pornôs que as crianças fazem no colégio e nos celulares. Assim, esses aparelhos, transformados em seu uso, também se tornam parte da Nova Ordem.

Os culpados somos nós, que muitas vezes sabemos o que está em jogo, nas eleições, mas por conta de ódios, raivinhas, brigas paroquiais, invejinhas, morremos abraçados, mas não permitimos que nada funcione. É assim neste instante. E aí nos queixamos de viver ameaçados, trancados, atrás de grades, instalando câmeras, ao invés de lutar pelo melhor. Para todos. Agora vão nos dividir. Nosso Pará ficará ainda menor. Mais pobre. A Nova Ordem vai mandar. Seremos minoria. Eu duvido que façamos alguma coisa. Morreremos abraçados.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Cem Anos da Praça da República?

Posso estar errado. Mas é que estava passeando com meu Brownie pela Praça da República e claro, contemplando toda a maldade com que o logradouro é tratado, sentindo o cheiro da cannabis, passando entre bebuns, malucos, casais héteros e homos, pivetões, enfim, quando olhei para o chão, ali no belo e tristemente machucado monumento à República. Li 1o. de Fevereiro de 1910, Parque João Coelho. Bem, Parque João Coelho é o nome oficial da praça, até onde enxergo. Com o tempo, esqueci quem foi a figura e acho que bem poucos sabem. Moro ali desde que nasci e a praça foi meu playground, minha Disney, em todas as fases pelas quais passou. Mas é que, se o Parque foi oficialmente inaugurado em 1910, teríamos deixado passar em branco seu centenário? Puxa, seria o cúmulo. Se for verdade, ainda haverá tempo para alguma coisa? Sem Cultura, sem saber da nossa História, andamos em cidades sobre cidades, ruas sobre ruas, sem saber onde estamos pisando, quem pisou antes de nós e deixou tudo isso que encontramos e ao que parece, tentamos ferozmente destruir. E domingo vem aquele pessoal para fazer churrasco ao ar livre, manifestações de todos os matizes, comércio desenfreado, bêbados, ladrões, a pisoteá-la, feri-la de morte. Olho para a estátua, solene, majestosa, pensando que mantém a fronte erguida, com medo de olhar para baixo, em volta e ver no que nos transformamos.