sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

A MPB MANDA LEMBRANÇAS

Felizmente não estava assistindo ao “Programa do Faustão”, semana passada, que conferiu ao cantor trans Pablo Vittar o prêmio de melhor música do ano. É curioso que qualquer crítica feita a ele/ela é respondida como um preconceito contra sua condição, o que é uma bobagem. Todo apoio aos trans e que sejam felizes e aceitos pela sociedade da melhor maneira, como merecem. Mas o cantor é péssimo. A música também é péssima. Sua vitória vem ressaltar o profundo mau momento que vivemos com os artistas atuais. Uma situação clara do abismo em que o país se encontra, por conta de sua Educação e Cultura. Um poço sem fundo. Trabalho com música, profissionalmente, desde os 16 anos. A curiosidade sempre me moveu. Ouvir o novo. Perceber sua chegada. E foram tantos artistas! Tinha um programa na Rádio Clube, “Gente da Pesada”. Lembro de ter lançado o “Acabou Chorare”, dos Novos Baianos, percebendo ali, o futuro sucesso. E foi assim até alguns anos atrás, quando percebi que algo não ia bem. Cantores inexpressivos, letras inócuas, músicas frágeis. Pior, isso atinge inclusive artistas que ao invés do sucesso fácil, tentam propor novos sons. Não gosto de nada. Isso me dói muito. Como se finalmente ficasse velho, lembrando somente do passado. E os chamados artistas mainstream? Sertanojos, Ivetes, funks. Cada vez pior. A não melodia, a não letra, com riqueza inferior ao simples “Atirei o pau no gato”. Onde foi parar a música popular brasileira? Nos anos 80, o rock brasileiro veio com nova proposta poética, mais direta, simples. Era criativo e bom. Daí em diante, degringolou. Mas a mpb ainda respira. Ou seria a mcb, Música Culta Brasileira, aquela que tem variações harmonicas, instrumental, intérpretes e letras poéticas? Será que é coisa de velho?
Em um momento em que a internet domina a distribuição musical e os cds passaram ao pen drive e sei lá mais quê, ainda queremos ouvir albuns inteiros ou somente nos interessa o hit?

Zélia Duncan, que há muito não lança músicas de sua autoria, uniu-se a Jaques Morelenbaum e lançou um cd onde interpretam jóias de Milton Nascimento. O contraste entre a voz médio grave de Zélia e o violoncello de Jaques é maravilhoso. Escolher qual? “Ponta de Areia”, “O que será?”E quem ouvirá essa beleza toda? Nós, os velhos?. Interessante. E o que há com Lulu Santos? Esse show de ruindades do The Voice Brasil o influenciou? Homenageia Rita Lee em “Baby, Baby”, errando em todas. Arranjos ruins. Voz abaixo do tom, sem inspiração. E olha que canta todos os hits de Lee. “Desculpe o auê”, “Lança Perfume”, tudo. Chato, Lulu, um dos maiores hitmakers surgidos nos anos 80. Gal Costa, mais de 70 anos, arrebenta com “Estratosférica ao vivo”, onde cercada por novos músicos, mistura sucessos de seu melhor momento, no início da carreira, com os bem recentes. A cantora é ótima, mas quando vem “Mal Secreto”, “Hotel das Estrelas” e outras, onde Lanny ou Pepeu Gomes registraram altíssimo padrão instrumental, os garotos de Gal ficam inferiores. Em tempos normais, o hit “Quando você olha pra ela, teu rosto te entrega” estaria em todas as premiações. Maravilhoso é “Paulo Jobim e Mario Adnet, Jobim, Orquestra e convidados”, onde são apoiados por Antonia Adnet, Luiz Pé, Daniel Jobim, Julia Vargas, Alice Caymmi e Yamandu Costa. Como era maravilhosa nossa música! E não há mais espaço para registrar “Campos Neutrais”de Vitor Ramil, “Mano, que Zuera”, sensacional volta de João Bosco e parcerias com o divino Aldir Blanc. E eu lá quero saber de Pablo Vittar? Estarei ranzinza, velho, ultrapassado ou nosso Brasil que emburacou?

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