sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

A CAÇA DO RÈVEILLON

O ônibus chegou no Terminal Rodoviário pouco depois das dez da noite. A cidade vivia a efervescência de um 31 de dezembro. Muita gente já festejava. Foguetes aqui e ali. Casas cheias. Pediu ao motorista do táxi a indicação de um hotel no centro da cidade. Médio, em termos de qualidade. Fora uma viagem longa. Apontara no mapa, olhara para a bilheteira em São Paulo e decidira. Seria Belém. As coisas estavam difíceis para ele. Tinha bom senso. Sabia o momento de se retirar. Agora, havia desfrutado de bons momentos, vida boa, mas sabia que nunca durava o suficiente. Era assim, mesmo. Estava com uma barba rala que veio retocando. Cortou o cabelo bem rente, deixando para trás longa cabeleira. No hotel, tomou um longo banho, escolheu a melhor roupa e desceu. Deu uma rápida olhada nos jornais locais. Queria saber onde aconteceria o reveillon mais badalado, mais chique. Perguntou o endereço. Pegou outro táxi.

Agora estava na porta daquela casa noturna, examinando as pessoas que chegavam, alegres, felizes, algumas já acima do normal, para participar do reveillon. Vinham sempre em turma. Em casais. Decidiu esperar mais um pouco. Atravessou para um famoso bar, pegou uma mesa na janela, pediu uma cerveja e ficou. Aproveitou para jantar uma boa comida, o que não fez durante toda a viagem. Acompanhou a passagem de ano. Buzinas, fogos, um brinde coletivo no bar. Estavam em 2017. Estava na hora. Voltou. Não havia mais ingressos, mas a boa aparência e o bom papo resolveram tudo. Entrou. A festa estava animadíssima. Música dançante. Gente dançando, gente circulando, nas mesas, falando alto. Como um bom caçador, ficou à espreita da vítima. Observou cuidadosamente quem lhe interessava. Umas cinco ou seis. Foi eliminando, eliminando, até que se fixou em uma mulher. Do bar, onde se instalara, percebeu quando ela se levantou para ir até o banheiro. Estava sozinha, em uma mesa cheia de casais. Bonita, discreta, não era das mais alegres, o que demonstrava, sabia, timidez. Usou um de seus inúmeros truques, infalíveis e teve sucesso na abordagem. Ficaram conversando. Atento, sabia que o pessoal da mesa olhava, comentava e tal. Veio um rapaz. Ela lhe apresentou. Como é mesmo o seu nome? Tão simpático que ele lhe convidou para ir se juntar a eles. Charmoso, dominou a conversa, sem deixar de dar atenção exclusiva a ela que, sentia, o analisava, admirava, avaliava. Era hora de sair. O dia clareava. Alguém sugeriu comer alguma coisa no restaurante em frente. Agora até o apelidavam. Ela não reagiu quando, andando, ele a envolveu com o braço. Sentaram juntos. Roçando corpo com corpo. Na hora de sair, fez questão de pagar a conta. Sim, ela tinha seu carro. A aposta era correta. Fez o número de procurar um táxi. Todos se ofereceram para dar carona, mas abriram caminho para ela, sem que fosse preciso dizer nada. Somente o olhar. Ficou claro que ela era uma mulher de negócios bem sucedida, bonita, mas sem grandes aventuras românticas, por conta da timidez e excesso de trabalho. Ficou claro que eles adoraram sua corte a ela. E que o aprovaram com seu charme, seu sotaque paulista, sua aparência, suas roupas e o interesse por ela. Na porta do hotel, uma longa conversa, que ele soube manobrar muito bem. Agora, a caça estava à sua disposição, ansiosa, tremenda, ansiosa. Mas ele sabia que não devia assustar. Sabia jogar. Enfim, ela se entregou. Subiram juntos. O caçador faturava mais uma. Não sabia o tempo que iria durar, mas sabia que ia passar muito bem.

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