sexta-feira, 20 de outubro de 2017

DEPOIS DO ÍRIOC, ACABOU O ANO

É o que dizemos, aqui no Pará. O resto de outubro, novembro e dezembro vai num piscar de olhos. O comércio já esta “dressado” de Natal, e os papais noel, contratados, já já estarão sob aquele traje pesado, vermelho, o gorro, a barba, distraindo crianças, cada vez menores, pois poucas ainda acreditam no “bom velhinho”. Apesar da turma do tempo garantir que as chuvas só chegam em janeiro, as tardes têm sido gris ou com chuva. Um ambiente natalino, para nós que não temos neve. Comecei a usar, após muito tempo, esses fones de ouvido para ouvir música, na rua. Sempre tive implicância. Parecem não se acomodar nas minhas orelhas, causando desconforto. Esses agora estão bem melhores. E o som, uma maravilha. Se já é inverno, se está gris e faltam poucos dias para 2018, ouço Beatles, uma lembrança forte dos dias de infância e pré adolescência quando, de férias escolares, passávamos as tardes de chuva ouvindo os caras de Liverpool. Uma sensação maravilhosa, essa que a música nos apresenta, trazendo de volta sentimentos tão puros. Caminho pelas ruas, até meu trabalho, na hora do almoço, até o restaurante e o som que ouço é “hold me tight, let me be the only one”, cantada por Paul McCartney. Antes, estive com meu neto, brincando de carrinhos. Gosto de provocar as crianças, sua imaginação. O meu era uma moto, dessas com o carrinho de passageiro ao lado. O dele, DJ, com som atrás, felizmente sem funcionar, claro. Fiz de conta que o piloto da moto era ele e o passageiro, seu primo. Vozes diferentes, passeios, corridas, festas onde ele, como DJ tocava guitarra e piano. E ria, deliciado, quando o passageiro (seu primo), caía no chão. “Levanta, cara”, “ele”, dizia ao primo. E ria. Será que um dia lembrará disso? O fato é que sou apaixonado pelo Natal. Pelo clima, pelas lembranças de família, a reunião com os irmãos, a distribuição dos presentes. Já contei que acordei meu irmão menor de madrugada e ficamos escondidos para mostrar a ele que eram papai e mamãe a deixar os presentes. Já era a curiosidade que marca minha personalidade, falando alto. Do Papai Noel que “descia de helicoptero” no alto do edifício e ia descendo, para deleite da garotada, na Presidente Vargas, em ação da loja Salevy, do Tio Samuca. Em cada andar, tomava um drink. O mais velho veio dizer, porque nós nos escondemos, com medo, que Noel conhecia nosso pai. Pior, Papai Noel bebe! Ou da vez em que troquei meu “papafilas” maravilhoso com o filho do caseiro, que me deu um caminhão artesanal, em lata de querosene, com rodas de tampinhas de refrigerante. Ah, meu pai e minha mãe! Ainda armo árvore de natal, embora passe o dia e a noite na rua. Acho que representa a árvore da vida, luzes piscando, enfeites, a árvore-família, uma história, um percurso gravado em minha alma, de um tempo feliz. Hoje as pessoas parecem muito ocupadas. As crianças, também. Nem ligo para quem diz que Natal virou consumo. Gosto de dar presentes. Me faz bem. Mas não esqueço o Dono da festa. O significado da nova vida, do recomeço e de seus ensinamentos. Sim, sou mais cristão do que católico, o que é bem difícil. E gosto do Natal. À medida em que os anos passam, ficamos mais velhos, filhos adultos, cada um com sua comemoração e sinceramente, ao final, mesmo emocionado com as lembranças, sinto saudade daqueles tempos. É como se tivesse o meu natal pessoal, a festa dentro do meu coração. Nós parecemos ter dificuldade em ser felizes, mostrar felicidade, nos dias de hoje. Saí hoje de casa, olhei para o prédio, lembrei do Noel descendo, lembrei de mim. Eu e as minhas lembranças de datas felizes. E segui, falando com meus amigos da rua, ouvindo “I wanna hold your hand”, murmurando e acertando o passo no ritmo. Gente, depois do Círio, o ano acabou!

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