sexta-feira, 23 de junho de 2017
EU VEJO O FUTURO REPETIR O PASSADO
Há
uma onda de nostalgia no ar. Mesmo em um momento em que os programas populares
apresentam somente os tristes e deploráveis artistas do momento, em que Elba
Ramalho fala em nome da cultura nordestina, protestando contra os sertanojos,
contratados a peso de ouro e tirando o lugar de artistas do forró nas festas
juninas, o passado está aí. Na Rede Globo é uma festa. Começa na abertura da
novela das sete, com uma versão de “A Hard Day’s Night”, dos Beatles. Prossegue
na série “Os Dias Eram Assim”, com toda a trilha formada por sucessos dos anos
60. Duas ou três mereceram fraquíssimas versões de cantores atuais. Nas
emissoras em canal fechado, acabou de passar o documentário “Dunas do Barato”,
Rio de Janeiro, anos 70, quando a produção cultural, mesmo enfrentando muita
censura, foi profícua. Houve, na praia de Ipanema, a construção de um emissário
de esgoto em mar distante. Com isso, um pontilhão apareceu, como que rompendo o
mar e com isso, proporcionando ondas boas para o surf. Na areia, um sem número
de artistas e jovens em geral pegava sol, debatia os assuntos e marcava onde
todos estariam à noite. Foram focalizados artistas das Artes Plásticas, os poetas
marginais, o surgimento das boutiques modernas, a partir das novidades
internacionais e dos trajes desses jovens da praia, o teatro principalmente de
Rubens Correia e Ivan Albuquerque, no lendário Teatro Ipanema e os shows e
discos de Novos Baianos, Gal Costa, Raul Seixas e outros. Eu vivi tudo isso. “O
Imperador Assírio”, “A China é Azul”, “Hoje é dia de rock”, “Hair”. Toda essa
turma na praia, à noite, se reencontrava. Ou então para assistir “Fa-tal”, o
melhor momento de toda a carreira de Gal Costa, linda, cantando um repertório
sensacional. José Wilker era o ator da moda. Eu o vi uma vez, lanchando no
Bob’s, bem jovem, cabeludo, famoso. E assisti “Artaud”, com Rubens Correa, no
porão do Teatro Ipanema, peça que chegou a ser apresentada em Belém e que
considero, com “Macunaíma”(Caca Carvalho), os dois espetáculos mais importantes
da minha vida. Pouco mais adiante apareceu o Circo Voador e os anos 80 e o rock
nacional, o último grito de criatividade na música brasileira. Agora, temos
apenas ruído ruim. Também no canal fechado, um documentário em vários capítulos
sobre a carreira de Gal Costa. E vêm Caetano, Gil, Duprat, Macalé, Waly
Sailormoon e a cantora Maria da Graça. Tudo isso após ler a biografia de
Caetano Veloso, que está nas livrarias. Uma onda de nostalgia que faz os mais
velhos reencontrar a juventude, lagrimar em alguns momentos e perceber que tudo
era muito rico, audacioso, feliz. Onde foi parar tudo isso? Na sociedade de
consumo? Afundou com o fracasso da Educação e da Cultura? Esqueci de dizer que
também, agora, pedimos eleições diretas. O passado retorna. Embora tivéssemos
muita atividade criativa nos anos 70, aqui em Belém, no teatro, por exemplo,
creio que a década seguinte trouxe a maior parte das grandes figuras que até
hoje ainda estão por aqui. Esses jovens liam, discutiam, montavam espetáculos
na marra e depois iam debater tudo em pontos como Bar do Parque e ¾. A
impressão que tenho é que a juventude atual não sente vontade de lutar por seus
direitos, por seu espaço, para dizer a que veio. Reúne-se em guetos separados.
Vão aos shows, batem palmas e somente se unem para xingar os coxinhas. É pouco.
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Um comentário:
Perfeito.
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