sexta-feira, 17 de março de 2017

A FEIRA DO SOM

Tive a sorte de dar o nome ao “Feira do Som”, programa que está completando 45 anos em atividade. Além disso, são 50 anos de profissão de Edgar Augusto, meu irmão mais velho. Quando um programa de rádio atinge essa longevidade, e na comemoração ganha páginas e colunas em jornal, além de programa em televisão, é porque realmente é importante. 
Foi ali nos anos 1970. Havia várias sugestões. A minha foi acatada. Era uma época fantástica. A Cultura reagia maravilhosamente à ditadura e censura. Cinema, Artes Plásticas, Literatura, Teatro e Música viviam momentos incríveis. Os Beatles pararam. Hendrix e Janis morreram. Mas havia o rock progressivo e muita gente boa surgindo. Aqui tínhamos os baianos, Chico, Milton, pernambucanos como Alceu, mais Elba, Geraldo, Ramalho, cearenses como Fagner. Muita coisa boa. Talvez tenha uma inspiração no programa do Flávio Cavalcanti, que falava de música, embora de maneira tragicamente retrógada. Bem, havia Nelson Motta. 
Edgar já era apresentador do “Cantinho dos Beatles”, com fã-clube e tudo. E também, um dos melhores narradores de futebol que ouvi, perdoem se sou totalmente suspeito. Havia também o “Sábado Gente Jovem”. E a “Feira do Som” inovando, ousando com as novidades, fazendo a cabeça de tanta gente, principalmente pela informação. 
Veio a FM e o programa foi para a Rádio Cidade Morena. O estúdio era pequeno, como são hoje os estúdios onde o locutor também opera a mesa, põe músicas e comerciais. Tive a dádiva de dividir com ele o microfone. Ficava manobrando a mesa de som, enquanto ele, sentado no chão do estúdio, espalhava as notícias. Muita gente boa foi entrevistada ali e sentou no chão. Era tudo muito à vontade. Lembro de Nara Leão, que veio lançar o disco em que canta “Nasci para Bailar”, de Donato e Paulo André. Ela voltou com Roberto Menescal, cantando bossa nova. Lembro de Geraldinho Azevedo, Flávio Venturini, tanta gente... 
Mas a rádio era comercial e o programa acabou por ocupar sua melhor posição na Rádio Cultura, da qual, permitam-me, Edgar já fazia parte desde a Cultura Ondas Tropicais, em uma equipe por mim montada. Com uma voz especial e vocabulário de “dia de semana”, ele usa várias técnicas para prender os ouvintes. As novidades a cada dia. A menção aos músicos presentes em cada música executada. O noticiário local, muito importante para os artistas da terra, criando inclusive apelidos que duram até hoje, como “Operário da Noite”, para Pedrinho Cavallero. Os bordões, repetidos diariamente, estão no pensamento dos ouvintes. Outra técnica de fidelização. 
Se os artistas locais conseguem, nessas trevas em que vivemos há mais 20 anos, ainda existir, apresentar-se, alguns com carreira, gravando CDs e shows em outras cidades, a “Feira” tem parte nisso. Trata os estreantes e os veteranos da mesma maneira, sempre com uma palavra de alento e incentivo. Recebe-os no programa, que ainda tem seções fixas, em que premia os ouvintes e, claro, o “Cantinho dos Beatles”, para os empedernidos. 
Todo esse tempo no ar e com um público de A a Z, em várias faixas etárias, faz esse programa um patrimônio cultural de uma cidade tão sofrida nessa área. Quanto a mim, mesmo à frente de uma emissora comercial, não deixo de ouvi-lo. Edgar é um ídolo. Irmãos, somos amigos. Forneço discos, notícias. O som do programa é o meu preferido, entre outros. Mais do que nunca, continuemos a ouvir, de segunda a sexta, “aqui fala o Edgar Augusto!”. Parabéns!

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