sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017
VOU BEIJAR-TE AGORA , NÃO ME LEVE A MAL
Talvez
eu tenha utilizado, alguma vez, quando criança, em Bailes Infantis de Carnaval,
uma lança perfume. Mas certamente para jogar o líquido gelado nas costas dos
coleguinhas. Minha melhor lembrança já vem do tempo de adolescente. Ao
contrário dos rapazes de hoje que aos 13 anos já sabem de tudo, nós éramos
ingênuos, entrando em contato com a vida aqui fora. Tempo dos bailes de
carnaval. Pará Clube, Iate, Assembléia Paraense, AABB, Clube do Remo e algum
outro que esqueço, promoviam suas festas, lotadas. Para entrar na AP era
necessário smoking. Mas quem teria um smoking, na nossa idade? Algum de nós
entrava e jogava pela janela, da sede da Presidente Vargas, as jaquetas,
gravatas e faixas. E era assim, mesmo, afinal, após entrar, todos ficavam
apenas de camisa, suados de tanto pular carnaval. Talvez os mais velhos
utilizassem cheirinho da loló e outros, mas eu não via. Meus olhos estavam no
salao de danças, onde um cinturão em volta se fazia, com rapazes de olhos compridos,
esperando a vez de poder dançar com alguma garota. E já não era apenas Baile
dos Brotinhos e sim um Baile das Máscaras, por exemplo. A orquestra podia ser
de Orlando Pereira. Lembro dele, sorridente, à frente da banda, marcando o
compasso com os braços. Os pares passavam dançando como em um carrossel. E
aquela garota com a qual você sonhava a semana toda, passava, às vezes dançando
com uma amiga, em outra com aquele bonitão, mais velho, experiente, cantando e
sussurrando em seus ouvidos. Um sofrimento. Mais do que isso, minha timidez
evitava que em ato de extrema coragem, saísse daquele cordão, atravessasse o
salao e, impávido, fosse até a mesa em
que ela estava sentada com mãe, pai e irmãos, pedindo para dançar. Significava
passar por um exame completo, como um scanner feroz. Pior, o altíssimo risco
dela dizer que estava cansada. O retorno, arrasado, humilhado por não conseguir
tirar nem uma menina para dançar era terrível. Para dar coragem, íamos em grupo
e comprávamos meia garrafa de rum e algumas cocas. Aos poucos íamos inflando o
ego e achando que éramos invencíveis. Às favas as possibilidades. Atravessarei
este salao e direi a ela: vamos dançar? Estenderei a mão que ela pegará e
ficaremos juntos a noite inteira. Um dos bons momentos de abordagem é quando
começavam a tocar marchas rancho. O ritmo diminuía, alguns iam tomar alguns
drinques e se nào fosse ali, era melhor ir embora para casa, derrotado. Então,
cheio de coragem você olha e nem percebe que ela o aguardou a noite inteira por
aquele convite. Que passava dançando com a irmã somente para provocar. A voz
falha na hora do “vamos dançar”, mas logo nos encaminhamos ao salao. Bandeira
Branca, amor, nào posso mais. Na mesma máscara negra que esconde teu rosto, eu
quero matar a saudade. E então vêm as marchinhas mais animadas e ela não pede
para parar. Agora nos olhamos e rimos, andando no círculo e cantando. O tempo
que durou, não faço idéia. Veio mais uma sequencia de marcha rancho e ela
continuou. Deveria convida-la a ir até o terraço, sei lá, outro canto, para
conversar e, vocês sabem como é.. Mas não. E então tocou “Viva o Zé Pereira,
viva o carnaval”. A mãe fez sinal. Ela virou para me dizer adeus. Estávamos com
os rostos tão próximos que o beijo foi natural e também um susto para ambos.
Olhamo-nos perguntando um ao outro. Consegui balbuciar: na porta do Colégio
Moderno?
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário