A
mulher do Leo é fogo. O cara demora a chegar em casa e ela já pega o carro e
circula até encontrar. Aí ele ouve todos os desaforos e volta com ela,
caladinho. Mas o Leo é boa gente, tranqüilo. Apenas gosta de passar um tempo
com os amigos, jogando dominó, porrinha, bebendo umas cervejas, batendo papo.
Essas mesas são absolutamente mansas. Os caras ficam ali, até mexem com algumas
meninas que passam, mas não dá em nada. É apenas chinfra, nada de mais. Passam
em revista os acontecimentos do dia, contam umas mentirinhas e é só. Mas a
mulher do Leo queria o controle. Vamos combinar, talvez ele gostasse disso. Ia
se atrasando, se atrasando, a galera incentivava, ela ligava algumas vezes para
o celular, ele desconversava e após algum tempo, não atendia mais. Ficava ali,
tocando e ele fazendo pose de “não to nem aí”, para gáudio da galera. De vez em
quando, para despistar, procuravam um bar diferente, para dar trabalho à mulher
do Leo. Mas a danada achava e quando chegava, já viu. “Minha mulher é uma
santa. Ela apenas não gosta que eu fique na rua. Tem ciúmes. Imagina”. Pois é.
Mas daquela vez, a situação escapou um pouco do controle. Era uma tarde de
sábado. Estavam na mesa, descolando umas louras, rolando dadinho, jogando papo
fora, essas coisas. Alguém disse que deviam ir para a Mercedes, aquela casa
onde as garotas ficam à disposição dos fregueses. O Leo foi o primeiro a
agitar. “Se é pra ir, vamos logo”. Chegaram, ficaram uns instantes. Estava
fraco o movimento. Logo alguém sugeriu o Alfa Clube, mais animado, que segundo
informações, estava “pegando fogo”. Lá se foi a caravana de bebuns conferir a
dica. A mulher do Leo já havia ligado duas vezes. Agora ele não atendia mais,
como de praxe. O Alfa estava ótimo. Um “sonoro” tocava brega e um locutor, a
cada instante mandava mensagens, registrava presenças e fazia seu “chem”. Não
havia condição para porrinha ou qualquer outro jogo. Sentaram em uma mesa,
pediram bebida e ficaram apreciando o ambiente, cheio de garotas das mais
diversas faixas etárias e promessas. Não que eles fossem atacar. Perigava serem
chamados de “tios”. Mas a remota possibilidade já justificava estar ali. Quem
sabe? O Leo era dos mais animados. Até acenou para umas duas, que devolveram
sorrisos enigmáticos. “E aí, vou ou não vou até lá?”. Pois é. Pede mais umas
louras e já fico no ponto. Foi quando o locutor interrompeu a aparelhagem para
um recado romântico: Atenção Leonardo. Atenção Leonardo Rodrigues. Alguém, que
muito te ama, está aguardando atrás do palco, para lhe dar muito carinho.
Repetindo: Atenção Leonardo Rodrigues. Alguém, que muito te ama, está
aguardando atrás do palco para lhe dar muito carinho”. “Tu ouviste? Era comigo.
Vai ver é aquela morena que passou, aquela de calça apertadinha. Desculpa aí
que o papai aqui vai se dar bem”. Os amigos ficaram entre o estupefato e o
preocupado. Perguntaram se tinha camisinha. Se estava em condições. Se não
havia bebido muito. “Vocês estão é com inveja. Eu vou me dar bem. Depois eu
conto. Sorry, periferia..”. Todo confiante, andar malemolente, Leo foi atrás do
palco onde encontrou sua esposa. Baixou a cabeça e foi ouvindo aquela torrente
de reclamações, alguns pescoções, ameaças e tudo o mais, até o carro. A mulher
do Leo é fogo.
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