sexta-feira, 21 de outubro de 2016

A SOMBRA DA GUILHOTINA

Como vocês sabem, adoro romances. Acabei de ler “A Sombra da Guilhotina”, de Hilary Mantel, Editora Record, com a história da Revolução Francesa, a partir de três de seus mais destacados personagens, Georges Danton, Camille Demoullins e Maximilian Robespierre. Jovens provincianos, Max e Camille foram amigos de colégio. Estavam no lugar certo, na hora certa. O orçamento do Estado não batia com os gastos, havia fome, pobreza e enquanto isso, o rei passeava com sua entourage. Danton era o farrista, cheio de mulheres. Sua esposa morreu de parto, casou com Louise, de 17 anos, que morava no andar de cima e gostava de seus filhos. Danton era apaixonado por Lucille, ou Lolotte, mulher linda, ativista, esposa de Camille. Robespierre era o “incorruptível”. Adotado por uma família, morava em um quartinho espartano. Uma das mulheres da casa se apaixonou. Rolou, claro, mas ela era tratada por ele quase como uma empregada. Ele era casado com a Revolução. Os caras fizeram o movimento que mudou o mundo, decapitaram o rei e a rainha, com assinatura do Dr. Guillotin, que inventou a máquina de matar e começaram a legislar. Enquanto isso, as monarquias vizinhas declararam guerra, claro. Imaginem a confusão. Bem, Danton enriqueceu. Camille estava bem. Robespierre, nem pensar. Vieram os inimigos, pessoas descontentes, invejosas, outras, cheias de razão. Danton cercado e festejado pelo povo onde aparecia. Um grande orador. Fizeram denuncias. Veio o Terror. Delações, execuções. Queriam se livrar de Danton. Ele e Camille começaram campanha para acabar com o Terror. No centro, Robespierre segurou até onde pôde. Prenderam. Como levar a julgamento um herói do povo? Danton estava tranquilo. Se o deixassem falar acabava com eles. Retrate-se, si vous plais, pediu Robespierre aos dois. Não. Danton ria. Estava seguro de si. Gritava: eu que inventei este Tribunal Revolucionário. Como podem me condenar? Ficou rouco de tanto gritar. Foram condenados. Antes da decapitação, pediu ao carrasco para mostrar a sua cabeça para o povo. Algum tempo depois, Robespierre também foi executado. Lucille Demoullins também. Mais algum tempo e aparece um baixinho invocado, chamado Napoleão Bonaparte. Mas isso já é outro romance. Meu amigo Marco Moreira conseguiu o dvd de “Danton”, do polonês Andrej Wajda, que havia assistido em 1983. Gerard Depardieu em grande papel título. Homens cansados, estressados, dormindo, no máximo, duas horas por dia. Fazia frio, mas estavam sempre suados, conspirando à luz de velas. O filme de Wajda também é político, em uma época em que a Polônia aspirava livrar-se da Rússia, primórdios do Solidariedade e Lech Walesa. Aqui no Brasil, ditadura. Imaginem reinventar o mundo, como os caras tentaram. Mataram o rei. Houve guerra dos outros países monarquistas. Novas leis, constituição, declaração dos direitos humanos. O momento em que Maria Antonieta será executada. Veste uma bata branca. Cabelos cortados na nuca. Mãos amarradas para trás. Antes de seguir, pede, acocora-se e faz xixi em um canto. Ela, a grande e charmosa Rainha da França. O grande líder popular que enriqueceu ilicitamente, mas pensa que o povo o salvará para sempre. Pensou em alguém? O escritor de discursos que não queria morrer. O incorruptível encostado contra a parede, tendo de assumir a autoria do assassinato de dois dos mais importantes homens que fizeram a Revolução Francesa. Adoro o assunto. Se puderem, revejam “Danton” e leiam “A Sombra da Guilhotina”.

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