sexta-feira, 12 de agosto de 2016

OS JOGOS OLÍMPICOS

Até o momento em que escrevo, espero que as Olimpíadas no Rio de Janeiro decorram da melhor maneira. Um amigo, que chegou da Cidade Maravilhosa, me diz que apesar de todos os problemas, os benefícios para a cidade são sensacionais, sob o ponto de vista do transporte público e atrações para turistas. O chamado legado das Olimpíadas. E que chegando de volta a Belém, vem uma tristeza e consternação com nossa situação. Não sei quantas medalhas conquistamos, mas a cada uma delas, raras, as emissoras de televisão chamam os atletas de heróis, 
“a menina da comunidade tal”, e outros títulos buscando o emocional de suas vitórias. O pior é que se trata de heroísmo, sempre. Enquanto potencias mundiais usam o esporte como formação de bons cidadãos e principalmente, como força de propaganda, movimentando também milhões de dólares em patrocínios, nossos atletas - heróis – passam fome, têm dificuldade de transporte e treinam com aparelhos antiquados ou adaptados. Nunca vou entender a razão da falta de um apoio total, planejado, adequado ao esporte. Sei que há, aqui e ali, alguns patrocínios e por parte do governo, algum incentivo, pequeno. Qual a razão para não ser grande? Isso ao mesmo tempo em que ouvimos milhões sendo desviados na Lava Jato e outras. Há também o futebol, com meninos mimados, desde cedo elevados a craques, cheios de tatuagens, piercings, brincos, relógios de marca e carrões importados. Quando sofrem a vaia, olham perplexos, sem entender. Descarregamos nossas decepções de “gênios do futebol” em Neymar, grande jogador, mas que se deixa flagrar em farras e aviões particulares, o que é seu direito. Mas aqui no Brasil, o sucesso que às vezes não corresponde em campo a toda riqueza que ostenta, termina em vaia. E vem o olhar perplexo. Marta! Chega de queixas. Imaginem se os jogos fossem em Belém. Lançamento de disco seria com o mano Edgar Augusto. Às torcidas organizadas de Remo e Paysandu, deixo o lançamento de peso, tentando acertar os juízes. Imbatíveis. E o tiro ao alvo? Resisto em mencionar o candidato delegado. Corrida de obstáculos seria fácil com os pivetões do centro da cidade, correndo entre as barracas de camelôs, após arrancar cordões de senhoras desatentas. Ciclismo evitaria para começar comentar sobre pedaladas. Mas esses que sempre estão na contramão, desafiando taxis e ônibus são campeões por antecipação. Salto à distância poderia ser disputado na hora do rush, ali na Almirante Barroso, a caminho de Icoaraci e com a ameaça constante do BRT. Deixaria a ginástica olímpica para a galera do Treme, já homenageada na cerimônia de abertura. Nas lutas marciais, creio que nossas gangues seriam medalha de ouro. Na corrida dos cem metros, em que Usain Bolt é campeoníssimo, colocaríamos torcedores de Remo e Paysandu, após os jogos, fugindo das brigas e ameaças. Duvido que alguém chegue na frente. Acrescentaria outras práticas como prova de paciência, para nós que aguardamos ficarem prontas as obras da Prefeitura. Prova de resistência para os passageiros dos ônibus caindo aos pedaços, todos os dias na volta para casa. Prova de desperdício para todos os que deixam o lixo na rua, amontoando. Prova de agressividade para aquele Sectario de Cultura que conseguiu matar a Cultura no Pará e sequer conseguiu impor sua Ópera, mesmo gastando milhões. Prova de calor aos que se dirigem ao aeroporto, com taxas tão altas e sem ar refrigerado. E finalmente, prova de amor à cidade, que nos testaria individualmente. Dizemos que amamos Belém, mas nada fazemos para melhora-la. Sim, seriam jogos bem interessantes.

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