O Teatro e suas milhões de
formas de se mostrar. O Teatro vive! Torce por dias melhores, mas vive e
ninguém consegue segurar a emoção, a mágica que se verifica, no momento em que
um ator diz seu texto, ou meramente, atua. Na próxima semana, estará de volta
às ruas da cidade, o espetáculo “Auto do Coração, do Grupo Cuíra. Sim, de volta
às ruas! Premiado pela Funarte com o “Myriam Muniz, o grupo, que fechou, por
falta de apoio seu teatro com cem lugares e atualmente já está funcionando na
Cidade Velha, Dr. Malcher, resolveu ir para as ruas. Seis das melhores atrizes
da cidade, Sonia Alão, Sandra Perlin, Wlad Lima (que também dirige), Zê
Charone, Olinda Charone e Leila Barreto resolveram falar do Amor, cada uma com
sua dramatização. No meio do processo vieram Renato Torres e sua música,
Patrícia Gondim com iluminação e cenário e outros participantes, todos eles
movidos pelo Amor ao Teatro. E foi tanto Amor que surgiu a magnífica idéia de
apresentar o espetáculo dentro de um ônibus, rodando pelas ruas da cidade. Inusitado,
diferente, interessante. E não um ônibus especial, com ar condicionado, nada
disso. Um coletivo comum, com seu tempo de uso, que foi totalmente “dressado”.
“Auto do Coração” estreou ano passado e quem participou ficou encantado. A
saída é ao lado do Teatro da Paz, esse monstro criado pelo Sectário de Cultura,
onde os atores paraenses não conseguem se apresentar. São poucos ingressos,
claro, a lotação do busão. Ele sai e entra no ar a rádio do coração, tocada por
Renato Torres. Então, alguém faz sinal e o ônibus para e recolhe um passageiro.
Não um passageiro comum, mas a primeira atriz que vem contar seu texto, passar
suas emoções. E assim segue o percurso. O que posso dizer é que me perdi.
Tentei olhar para fora e já não sabia em que lugar de Belém estávamos. O ônibus
funciona como uma bolha, um casulo onde mergulhamos no Teatro, no maravilhoso
Teatro, a mágica da encenação, luzes, cores, cenário e música. Muitas vezes o
ônibus emparelha com outros e os passageiros ficam intrigados, interessados. Outra
vez, Zê Charone, vestindo seu personagem, bate na lataria do ônibus,
apreensiva. Pessoas que passavam ou esperavam ônibus também se estressaram.
Fiquem tranquilos, é somente Teatro. Somente? Quando retornam ao local de
partida, estão todos transformados. Assistiram seis grandes atrizes em grandes
momentos. Participaram de uma iniciativa corajosa, audaciosa, mais uma, do
Cuíra, ignorando todos os gigantescos obstáculos colocados para eliminar o
Teatro do dia a dia das pessoas, e que, a bordo de um ônibus, engrandecem a
Cultura do Pará. Sonia Alão lembra o primeiro amor, vestida com uniforme do
IEP. Wlad Lima fala do amor que não revela como um náufrago procurando uma
corda para voltar à tona. Leila Barreto não quer mais fugir dos relacionamentos
e procura amor maduro. Olinda Charone chora por uma separação muito dura de
viver. Zê Charone faz todas as mulheres que apanham de seus maridos e Sandra
Perlin, depois de levar chute dos amores que a achavam “esquisita”, encontra
seu lugar no Teatro. E tem a música de Renato Torres, a iluminação de Patrícia
Gondim e uma equipe fantástica, com muitos jovens, que se juntaram ao Cuíra
para prosseguir no sonho. Eu os convido a assistir.
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