sexta-feira, 2 de outubro de 2015

ENAMORADOS PELOS LIVROS

O cubano Leonardo Padura disse algo, no debate que fizemos na Livraria Cultura do shopping Iguatemi, em São Paulo, que gostei muito. Diferente de mim que demoro pouco tempo para escrever meus livros, ele escreve e reescreve, até considerar pronto, sofrendo muito por terminar. Diz que esse é o tempo em que se enamora da obra que está escrevendo. É verdade. Mesmo trabalhando em menos tempo, no período em que estou ligado ao livro, sinto-me enamorado da trama, dos personagens. Mesmo tendo outras atividades e destinando apenas umas duas horas por dia à tarefa, durante aquele tempo, nada consegue tirar meu bom humor, minha alegria de viver. Em algum lugar da minha cabeça, as idéias continuam fluindo, a trama vai avançando, encontrando outros personagens, estabelecendo um ritmo, até que terminamos, entregamos e vivemos o típico vazio que se verifica ao final dos relacionamentos amorosos. Percebemos que o mundo real continua, as tarefas, compromissos, mas fica um vazio que aos poucos vai sumindo, talvez por encontrar novas idéias para um próximo trabalho.

Por enquanto, vou aproveitando a onda de interesse sobre meu último romance, “Pssica”, que vem recebendo críticas elogiosas aqui em São Paulo, com interesse também de cariocas, gaúchos e paranaenses, na forma de entrevistas. Vou me adaptando, encontrando respostas para perguntas que até poucos dias não tinha. Como você escreve? O que quer dizer seu livro? Como é seu processo? Nem todas essas perguntas têm respostas fáceis. Cada escritor tem seu processo. Para muitos é dolorido. Para mim, feliz. Tenho também conversado com livreiros das maiores livrarias da cidade, contado sobre o que é ser paraense, morar distante dos grandes centros, meu cenário, meus personagens, explicado a razão do título, seu significado. Paulistas são às vezes muito centrados, crendo que o mundo se circunscreve à sua enorme cidade. Assim foi participar da Paulicéia Literária, promoção da Associação de Advogados de São Paulo, com a presença de grandes nomes nacionais e internacionais. Fiz um debate com Bernardo Carvalho e Carlos Lima, ele paulista, o outro, mineiro, com o título “Aberrações Arcaicas”, que nada mais é do que uma provocação para começar a conversa. A presença de bom e interessado público me deixou animado. Mais ainda nos jornalistas que já leram meu livro e chegam cheios de perguntas sobre a trama. Agora ainda há a Bienal do Livro de Pernambuco, onde novamente estarei com Padura em um debate e também lanço o “Pssica”. Leonardo estourou no Brasil com “O Homem que amava os Cachorros”, Boitempo Editorial, após ter outros livros lançados, mas com pouco destaque. Agora está aqui divulgando “Os Hereges”, novo trabalho. É um homem discreto, que fuma cigarros cubanos, fortes, toma seu vinho e tem um ótimo discurso. Prefere responder às perguntas sobre seus livros, mas a maioria delas se refere à imensa curiosidade que temos sobre Cuba e o momento que atravessa. Padura diz que o grande desafio será construir uma infraestrutura para receber tantos turistas, principalmente americanos. Já há desigualdades, pois um carregador de malas em hotel pode conseguir até cem dólares de gorjetas em um dia, salario de mês inteiro de um médico. O dinheiro que Cuba receberá servirá para manter os programas sociais, mas é certo que um planejamento muito sério precisa ser feito para manter a essência das conquistas do regime. Até por aí.

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