sexta-feira, 24 de julho de 2015

NÓS FICAMOS BEM

Meu amigo ligou no domingo à noite. “Li tua crônica sobre Mosqueiro. Estou na estrada. Na BR. Sabes há quanto tempo saí do Mosqueiro, Ariramba? Duas horas. E agora estou em outro engarrafamento. Derruba qualquer astral”. O que dizer? Nós, que ficamos, estamos bem. Quando a ilha era servida apenas por navio e nas férias era habitada quase que somente pela classe média, aos finais das tardes de sexta feira, desembarcavam os homens que trabalharam durante a semana. Chegavam com o Cecy ou de ônibus. Roupa de cidade, jornais debaixo do braço, revistinhas para as crianças. As esposas iam esperar à porta das casas. Na segunda, bem cedinho, estavam de volta à labuta. Sem grande comunicação, os que ficavam na cidade eram chamados de “solteirões de julho”. Colunistas sociais soltavam notas maliciosas de grandes festas onde compareciam apenas estes senhores, chefes de prole e agradáveis moças. Eles, claro, ficavam silentes quando perguntados, a maioria gostando daquele flerte com a verdade.
Nós estamos bem. Não aproveitamos as belas manhãs de sol, finais de tarde aplaudidos na praia, muvuca nos bares. Nada disso. Mas devo dizer que tentei ir ao Roxy Bar em uma terça feira, tipo oito da noite. Qual o quê. A porta parecia uma fila do SUS. Passei em outros estabelecimentos. Todos cheios. Moro no centro da cidade. É claro que o trânsito ficou melhor. É da cultura do paraense curtir as férias de verão. Acho muito bacana viver a sua cidade, a sua comunidade. Infelizmente, depois de adulto, prefiro ser do contra, talvez por mera vontade de ir contra a maré. Já não tenho mais crianças ou adolescentes exigindo praia, embora tenha saudade disso. Mas todos se vão. E agora, também, para Miami. E sempre foram para outros municípios, gente que volta para a casa dos pais, visitar parentes. O trânsito fica melhor. Os colégios fechados. Mas a cidade cresceu muito. Lá no clube, não deixamos de jogar futebol na tarde de sábado. Os cinemas, lotados. Restaurantes, assim assim, a não ser o Roxy.
Meu amigo voltava com toda a família. Na casa, sem espaço, dormem apertados. Ah, deixa de má vontade! Uns vão à praia. O dono da casa vai trocar o gás, que acabou. A bomba d’água, queimou. Ih, essa geladeira não anda boa. Não faz gelo. Manda comprar refrigerante. Acabou. Ao menos um maço de cigarro. Acabou. Quantas horas para chegar àquele estacionamento ao ar livre que chamam de praia? Hiluxes e motos passam em velocidade de Mad Max. Outra offroad estaciona e liga seus potentes falantes com a pior música do mundo. Camarão! Quanto é o camarão? Quê?!!! Alguém que venda cerveja? Quente?

Nós ficamos bem. Durante a semana, cumprimos nossos afazeres e à noite, circulamos nos points, com a galera que vai e volta numa boa, vivendo seu verão. Aos finais de semana, acreditem, os clubes funcionam normalmente, restaurantes e o vai vem de carros é até mais seletivo. Os solteirões de julho se foram. Hoje, com facetime e snapshot e outros “radares”, há pouco espaço para escapulidas. De parte a parte. Este é o penúltimo final de semana. O auge, quem sabe. Por favor, amigos com mais de 50 anos, evitem aquelas fotos constrangedoras, somente de sunga. O aviso vale para homens e mulheres. Quem será a menina mais bonita? De repente faz 15 anos, está tudo no lugar e sai desafiando o mundo. E o garoto que vai desmanchar corações? Então vão, vão todos, todos, mesmo! Só apareçam no mês que vem, rostos vermelhos de sol, moendo em um engarrafamento monstro, mas felizes. Nós ficamos bem.

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