sexta-feira, 17 de abril de 2015

BÁRBARA, BELA, TELA DE TV

A imagem transmitida para os mais diferentes receptores, a realidade transportada, a imagem inventada, chegando até nós, se apresentando e se impondo, ficando gravada em nossas mentes, não diminuindo a capacidade de imaginação, ao contrário, aumentando, até colaborando, de alguma maneira armazenando inclusive quem não tem acesso à alfabetização, aos fatos culturais. Quem será o dono das imagens? A quem interessa transmitir esta ou aquela imagem, manipulada ou não? Influir na opinião pública. Imagens editadas como no Big Brother. Criando mocinhos e vilões. Londres é talvez a cidade mais vigiada do mundo. Todos são filmados nas ruas, recintos fechados, públicos, quem sabe, também em privados. Razões de segurança. Em Belém, políticos eleitos usam as imagens para mostrar que estão trabalhando bem, embora todos os moradores discordem. As imagens estão em todos os lugares, nos carros, nos iPads, iPhones, monitores nos banheiros. A autoridade, diante de seus pares, cercada por microfones respira fundo a cada pergunta agressiva feita sobre sua corrupção e responde tranquila que é tudo mentira. Que é inocente. A imagem mente? É possível sobreviver em Brasília sem se envolver com irregularidades? O que assistimos é a realidade? Ou é uma dança, coreografada diariamente, para nosso deleite, ou deles?
Será que ainda importamos alguma coisa? Quem lê jornais? Quem lê análises políticas? Quem lê tanta notícia? Possíveis líderes demonstram ser mestres na dissimulação frente às câmeras. Ninguém sabe, ninguém viu, mas vai mandar apurar rigorosamente.

Há como que realidades superpostas. Diariamente, no Jornal Nacional, há cobertura da ação policial na Favela do Alemão, Rio de Janeiro. Soldados camuflados, com armas pesadas e postura de guerra, escondem-se nos becos, apontando, procurando inimigos. Como nos filmes. Na mesma cena, despreocupados, moradores, homens, mulheres e crianças passam pra lá e pra cá, na sua azáfama diária. Lojas, casas, ambulantes, mais soldados. Como realidades superpostas. Como se filmados separadamente e depois sincronizados. A guerra de uns e outros, diferente da outra guerra, a da sobrevivência, à margem, criando outra sociedade, sem controle, a sociedade do descontrole, onde o lema é sobreviver. E nessa sociedade tudo é pirata, como uma sociedade cover, sociedade falsa, com outro padrão. É pirata porque não tem dinheiro para ser a verdadeira. Porque, ao contrário de morrer, desaparecer, luta para continuar viva e se reinventar a partir do instinto de sobrevivência. Não há Cultura ou Educação como conhecemos. Uma nova escala de valores é criada. A vida e a morte na tv. A sociedade espetáculo tem fome. A quem vamos devorar nesta semana? A nós não basta desnudar as pessoas em seus 15 minutos de fama, naquilo que representa sua vida, sua ação profissional ou particular. Queremos tirar-lhe a roupa, escanear poro por poro de seu corpo. Queremos ver sua vagina, seu ânus, saber se é depilada, se as fotos precisaram de Photoshop, se os seios têm silicone. Primeiro devoramos seu intelecto, procurando erros em suas respostas. Agora devoraremos seu corpo, em punhetas, inclusive virtuais e após o gozo, pediremos mais. Quem será a próxima vítima. Temos fome. Está tudo na bárbara, bela, tela de tv.

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