terça-feira, 26 de agosto de 2014

A NOTÍCIA, DE TODAS AS MANEIRAS

Meu avô Edgar recebia o Luxor Jornal, uma organização que semanalmente coletava notícias do interesse do assinante, recortava e pregava em uma folha de papel pequena. A capa era cor de rosa. Meu avô era alucinado por notícia. Escreveu em vários jornais da cidade. As notícias ficavam por ali, flanando sobre as mesas da sala do apartamento onde ele morava, no décimo andar do Palácio do Rádio. Me interessei. Talvez inicialmente, nas folhas de papel para transformar em flechas para zarabatana. Depois, os assuntos. Esporte, amenidades, música. Para Política, era ainda muito moleque.
Meu pai Edyr também escreveu em vários jornais. Chegava em casa com os da cidade e também os do Rio de Janeiro, como Globo, Jornal do Brasil, Última Hora e Jornal dos Sports, um que era impresso em papel cor de rosa, com espaço para À Sombra das Chuteiras Imortais, de Nelson Rodrigues e o Otelo Caçador, com sátiras aos acontecimentos esportivos. Eu e meu irmão Edgar devorávamos aquilo. Tínhamos um campeonato carioca de botão. Sabíamos até a escalação do Canto do Rio. Quem? E desvendar as imagens poderosas de Nelson. Compreender sua sutileza, a poesia, a melodia com que escrevia. E principalmente, Opinião Não Se Discute, o comentário de meu pai, para saber o que se passava com nossos times locais. O tempo passou, meu pai agora apenas escrevia sua coluna, sem mais estar no dia a dia, como editor, mas o interesse por jornais continuava. O saudoso Edwaldo Martins ajudou. Viciado em informação, como eu, lia diariamente não só JB e Globo, mas Estadão e Folha, às vezes incluindo a Folha da Tarde. Era informação suficiente para afogar qualquer um. E lá eu ia, uma vez por semana, à sala do Didi, no Basa, pegar os jornais. Aquele maço enorme de papeis. Quando viajava para Rio ou SP, a delícia era pegar o jornal ainda quentinho, o cheiro, as notícias ali, na hora. Até poder comprar, eu mesmo, os meus jornais. Veio a modernidade e com ela foi-se o maravilhoso e inesquecível Jornal do Brasil, hoje apenas no formato digital (mesmo assim leio-o diariamente), e foram-se das bancas, os demais. Atualmente, a Folha tem aparecido. Hoje, fora os jornais locais, leio todos os outros no computador. Acostumei. O mundo mudou. Os jornais, também. Afinal, se ontem caiu uma bomba em Gaza, ao ler hoje de manhã a notícia, já estará atrasado quanto aos acontecimentos posteriores, já descobertos, explicados e com novos fatos. Há poucos dias houve um Congresso de Jornais. Mudam as plataformas, ficam as notícias. Fica a nota curta. Fica a explicação, interpretação, análises para quem quer realmente saber tudo. Notas curtas para os apressados, disputando com radio e televisão. Quais são as plataformas novas? Ipads, tablets, whatsup, smartphones, e-books, telões, telas em elevadores, facebook, twitter e outros programas. Não interessa a plataforma e sim a notícia. Os jornais estão se adaptando e as agências de publicidade também. Antigamente, o IVC era definitivo quanto à tiragem dos jornais. Agora, há pageviews, comentários, curtições, definindo, cada um, seu público, seus interesses e padrões de consumo. Será que essa amarração significará alguma perda para os leitores? Imperará a informação domesticada? Ou, com a invasão de blogs, tudo dependerá da credibilidade de quem veicula? Em quanto tempo uma informação circulará pelo mundo e quantas pessoas atingirá, sobretudo agora em que há apps para traduzir em qualquer língua, o que quer que se leia?
Aos que pensaram que os jornais iriam morrer, uma boa resposta, esta, com aquilo que é a material prima do jornalismo, que é a notícia.

Quanto a mim, sou um leitor alucinado por informação. E posso ser lido, todas as sextas, no caderno TDB, coluna “Cesta”.

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