quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Selva Concreta no Le Monde Diplomatique, que chique!

Selva Concreta
Edyr Augusto, Ed. Boitempo Editorial


“Tei, tei, tei.” O estrondo ecoa na Amazônia. Não, não é nenhum som de uma tribo da floresta; é o som dos tiros que matam um dos personagens de Selva concreta, novo livro de Edyr Proença.
Gil, o condutor da narrativa, é um jovem delegado que trabalha em Belém do Pará, em uma cidade completamente diferente da imagem idílica que algumas canções entoam sobre o lugar. Não se engane, meu caro leitor. Você não vai encontrar na “selva” de Proença o Círio de Nazaré, o Ver-o-Peso, as mangueiras, o açaí. A cidade sobre a qual ele escreve é feita de assassinos, traficantes e corruptos. Tem-se Mariella, a menina do interior que, vendida pela família a um traficante, vira DJ de festa de tecnomelody na capital e vive a vã esperança de reaver o filho. Tem-se o vingador, um serial killerque, através da internet, seduz jovens meninas e as mata em um ritual de magia negra. E Urubu, o jornalista que está sempre pronto a devorar e exibir para o público sua carniça do dia.
Com uma escrita de parágrafos curtos, entremeados por ações simultâneas e linguagem coloquial, vamos passando pela Belém que, de certa forma, é aquela que surgiu nos últimos vinte anos. As histórias são típicas, mas de uma tipicidade do cotidiano contemporâneo, dos fatos que enchem os jornais, da decrepitude de uma cidade que já se quis a Paris dos trópicos. É lamentável? É. Mas a literatura de Proença não lamenta a cidade, ela a representa. Repleta de gente e do mal. É claro que Belém não é apenas isso, mas esse isso não é mera invenção literária.
Selva concretapode não ser literatura densa, pode não perscrutar as dimensões profundas da existência, como na obra de Dalcídio Jurandir sobre Belém. Mas talvez seja uma literatura possível para uma realidade que já não se preocupa tanto em desvelar algo, já que tudo está à mostra, tudo está diante de nossos olhos, ao mesmo tempo atônitos e acostumados, como olhos diante do barulho de tiros. “Tei, tei, tei.”


Relivaldo Pinho
Professor da Universidade da Amazônia