sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Cadê o "s"?

Sei perfeitamente que a Língua é um organismo vivo e que acompanha os corcoveios do desenvolvimento da sociedade em seus diversos níveis. Acho encantadora a forma com que os jovens usam a escrita em chats, desde que não errem nas concordâncias e que nas mudanças e resumos se mostrem criativos. Mas ultimamente tenho estado incomodado, mais do que isso, insuportavelmente incomodado com o Português falado em Belém, nas mais diversas faixas sócio econômicas. Um dialeto, que vinha há vários anos se desenvolvendo a partir das classes menos atingidas pela Educação se espalhou, como era de se esperar e hoje está insuportável. Pra mim ir, pra ti fazer e coisas assim ficaram triviais em qualquer Doutor da Universidade. E o "s"? Há vários anos atrás, éramos conhecidos por ser um povo que falava bem o Português, diferentemente do gaúcho, por exemplo, que usa o "tu", mas conjuga como você. Cadê o "s"? As coisa. Os perfume. Os time. Os problema. Todo mundo parece falar assim. E se começamos a corrigir, parecemos errados, ou defensores de algo antigo, que não se usa mais. O ex-presidente era o maior garoto propaganda desse dialeto.
Pensei nisso e pensei também no enfrentamento de uma sala de aula, professor x aluno. Estou assistindo a quarta temporada da série "The Wire", passada em Baltimore, mostrando o início do ano letivo. Meu filho, que estudou por 1 ano em El Paso, Texas, fronteira com México também me garantiu que nos EUA o sistema está falido. Professores fazem que ensinam e alunos nem fingem que aprendem. Há um outro mundo aqui fora. Uma outra linguagem. Como pode um professor enfrentar alunos sem armas dignas? Não é preciso ser classe média para chegar a um computador. Em uma cidade como Belém, há lan houses e o mais incrível, uma maneira absolutamente criativa de encarar a modernidade. O inglês, os gadgets tecnológicos chegam e sua utilização, sem que ninguém entenda inglês ou os detalhes técnicos de cada aparelho, é desenvolvida. E o professor ali, com um quadro negro atrás de si, ensinando Matemática. Mas em casa ligam a tv e ouvem, se não é um Português com um sotaque paraense, ao menos é falado corretamente e isso não se impõe. Pais e filhos falam o dialeto. Leio em um blog do primeiro dia de aula, na Universidade, turma de Ciência Política e me pergunto que tipo de retorno haverá. Sure, os alunos estão ali com algum nível de entendimento e interesse, penso. Mas haverá neles algum discurso? Ouço jovens e cada vez mais me desespero. Essa geração atual parece gostar mais de bater palmas, estar na platéia do que no palco, protagonizando os acontecimentos. O que um professor de Ciência Política fará para alcançar o interesse? E a turma de alguma maneira animará esse professor? Ensinei por alguns poucos anos na Ufpa, Curso de Jornalismo e Propaganda. Um dos motivos para deixar o Magistério foi porque um dia, voltado ao quadro negro, ensinando como fazer um jingle publicitário, virei-me para os alunos e percebi, de alguma maneira, estar mais animado, mais envolvido do que eles. E me perguntei o que fazia ali, nove horas da noite, após um dia inteiro de trabalho, ensinando, empolgado, para uma turma de "não estou nem aí". Dá vontade de agir como Tim Maia: Mais grave, mais agudo, mais médio, mais tudo! Tergiversei? Então tá.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Comment te dire adieu

Ouvi como trilha sonora de uma novela da Globo, não sei qual. Uma nova gravação, penso, para Comment te dire adieu, que foi um grande sucesso ali no final dos anos 60, começo dos 70. Tinha um arranjo simples, pop francês e tudo que me lembro é que estava perdidamente apaixonado, platônicamente apaixonado, e quando essa música tocava, não sei se no clube Netuno do Mosqueiro ou na boate da Assembléia Paraense, meu coração parava. Ainda pára, hoje, ao ouvir. Com o tempo, consegui várias regravações. Quem canta no original é Françoise Hardy, linda, magrinha, loura e francesa. Quem compôs foi o gênio Serge Gainsbourg e claro, Jane Birkin também gravou, inclusive, ambas, Françoise e Jane (inglesa), gravaram uma homenagem a Serge, muito bonita. Segue a letra em francês e após, a tradução. É preciso se ligar no jogo de sons que Serge propõe, usando o "ex" como uma vírgula, como um compasso, dividindo palavras inteiras. Bom, Serge tem um parceiro, Gabriel Yared, famoso compositor de trilhas para filmes, que fez a melodia.
Sous aucun prétexte je ne veux, Avoir de réflexes malheureux, Il faut que tu m'expliques un peu mieux, comment te dire adieu
Mon coeur de pyrex, résiste au feu, je suis bien perplexe, je ne veux, me résoudre aux adieux, comment te dire adieux
Je sais bien qu'un ex amour n'a pas de chance ou si peu, mais pour moi une explication vaudrait mieux
Sous aucun prétext je ne veux, devant toi surexposer mes yeux, derriére un Kleenex je saurais mieux, comment te dire adieu
Coment te dire adieu
Tu as mix à l'index, nos nuits blanches, nos matins gris bleu, Mais pour moi un explication vaudrait mieux
Sous aucun prétexte je ne veux, devant toi surexposer mes yeux, derriére un Kleenex, je saurais mieux, comment te dire adieu
comment te dire adieu
comment te dire adieu
Tradução
Sem nenhum pretexto eu não quero ter reflexos infelizes, preciso que eu me expliques melhor, como te dizer adeus
Meu coração de silex rápido pega fogo, teu coração de pirex resiste ao fogo, fico perplexo, não quero, já decidi dizer adeus
Eu sei muito bem que um ex amor não tem chance de sucesso, mas eu queria uma explicação
Sem nenhum pretexto não quero chorar na tua frente, se eu tivesse um Kleenex seria bem melhor
Como te dizer adeus
Tu me lembraste de nossas noites em claro, nossas manhãs cinzas e tristes, mas eu queria uma explicação
Sem nenhum pretexto, não quero chorar, se eu tivesse um Kleenex seria melhor
Como te dizer adeus